Órgão da ONU diz que estação mediu 18,3 ºC no norte da Península Antártica. Se confirmada, temperatura será histórica para a região, que tem um dos aquecimentos mais rápidos do planeta. Recorde anterior era de 17,5 ºC.
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A Organização Metereológica Mundial (OMM), ligada às Nações Unidas, divulgou novas temperaturas registradas na Antártida que, se confirmadas, serão recorde para o continente gelado.
A estação de pesquisas argentina Esperanza registrou 18,3 ºC no norte da Península Antártica, segundo informações do órgão em Genebra divulgadas nesta sexta-feira (07/02). A marca foi medida na quinta-feira e supera o recorde anterior de 17,5 ºC, registrado em 24 de março de 2015.
Uma equipe de especialistas da OMM deverá apurar oficialmente se a temperatura de 18,3 ºC é realmente a mais alta já medida no território continental em volta do Polo Sul.
"O registro parece estar provavelmente associado (no curto prazo) ao que chamamos de um evento 'föhn' regional sobre a área: um rápido aquecimento de ar que desce uma montanha", explica Randal Cerveny, relator da OMM para extremos climáticos.
Segundo Cerveny, verificar esse recorde de temperatura é importante porque ajuda a ter um panorama do clima "numa das fronteiras mais longínquas da Terra". A Antártida, assim como o Ártico, não possui ampla cobertura de observações e previsões meteorológicas, apesar de as duas regiões terem influência sobre clima, padrões e aumento dos níveis dos oceanos.
A temperatura na estação Marambio, próxima à Esperanza, também registrou o maior nível para fevereiro em quase 50 anos, medindo 14,1 ºC. Os níveis excepcionalmente altos parecem ser parte de uma onda de calor na península.
Cientistas vêm alertando contra os efeitos catastróficos do aquecimento global sobre as massas de gelo glaciais e os solos congelados conhecidos como "permafrost", tanto no Ártico quanto na Antártida, com as duas regiões aquecendo mais rápido do que o resto do mundo.
A OMM diz que a Península Antártica, na ponta noroeste do continente perto da América do Sul, é uma das regiões que esquenta mais rapidamente no planeta – foram quase 3 ºC nos últimos 50 anos.
Cerca de 87% das geleiras no litoral ocidental da península se retraíram durante esse período. A maioria mostra uma "retração acelerada" nos últimos 12 anos, diz a organização.
Segundo a OMM, o recorde para a região da Antártida – ou seja, qualquer ponto ao sul abaixo dos 60 graus de latitude – é de 19,8 ºC, registrados em janeiro de 1982 na ilha de Signy, ao sul do continente sul-americano.
A Islândia fez um funeral para sua primeira geleira a desaparecer devido à mudança climática. Enquanto isso, em outras partes do mundo o derretimento avança – da Antártida à Groenlândia, mas também na África e Patagônia.
Foto: picture-alliance/AP Photo/NASA
Morte de uma geleira
A Islândia prestou homenagem à primeira geleira do país a desaparecer devido às mudanças climáticas. Okjökull perdeu seu status de geleira em 2014. Em 18 de agosto, o país realizou um funeral simbólico e inaugurou uma placa de cobre em homenagem à geleira morta. "Nos próximos 200 anos todas as nossas principais geleiras deverão seguir o mesmo caminho", prevê a mensagem cravada na placa.
Foto: Getty Images/AFP/J. Richard
Risco na Antártida
Acredita-se que a geleira Thwaites, parte da camada de gelo da Antártida Ocidental, represente um grande risco para o aumento do nível do mar no futuro. Caso derreta, o bloco gelado pode elevar em 50 centímetros o nível do mar, segundo revelou um estudo da Nasa no início de 2019. A Antártida abriga 50 vezes mais gelo do que todas as geleiras de montanha do mundo juntas.
Foto: Imago Images/Zuma/NASA
Beleza ameaçada na Patagônia
A galeira Grey, no Chile, fica nos campos gelados da Patagônia, que representam a maior extensão de gelo do Hemisfério Sul fora da Antártida. Pesquisadores estão monitorando de perto o derretimento na região, já que isso poderia ajudá-los a entender o que pode acontecer com outras geleiras, como as da Antártida e da Groenlândia, em climas mais quentes no futuro.
Foto: picture alliance/dpa/blickwinkel/E. Hummel
Geleira empacotada
A galeira do Ródano, na Suíça, dá origem ao rio Ródano. Há vários anos cientistas têm coberto seu gelo com mantas brancas resistentes aos raios ultravioleta durante o verão, na tentativa de retardar seu derretimento. Pesquisadores acreditam que o clima mais quente poderá erradicar dois terços do gelo nas geleiras alpinas até o final deste século.
Foto: Imago Images/S. Spiegl
Derretimento na Nova Zelândia
A geleira Franz Josef, na Ilha Sul da Nova Zelândia, é um destino turístico popular. A massa de gelo costumava seguir um padrão cíclico de avanço e recuo. Mas, desde 2008, Franz Josef vem diminuindo rapidamente. Se antes os guias costumavam levar os turistas a pé diretamente até o glaciar, agora a única maneira de alcançá-lo é de helicóptero.
Foto: DW/D. Killick
O gelo africano desaparece
As geleiras do monte Kilimanjaro também estão em risco. Em 2012, pesquisadores apoiados pela Nasa estimaram que o gelo restante na montanha mais alta da África deve desaparecer até 2020. O Kilimanjaro é uma das principais atrações turísticas da Tanzânia e um gerador crucial de receita num país onde a maioria das pessoas vive abaixo do limite da pobreza.
Foto: Imago Images/robertharding/C. Kober
Perigo no meio do rio
O estado americano do Alasca abriga milhares de geleiras. Um estudo divulgado em 2019 revelou que algumas delas estão derretendo 100 vezes mais rápido do que os cientistas previam anteriormente. Em agosto de 2019, dois alemães e um austríaco foram encontrados mortos após andar de caiaque num lago em Valdez. Autoridades acreditam que os turistas morreram pela queda de gelo glacial.
Foto: imago/Westend61
Esta cresce, mas não o suficiente
Jakobshavn, a maior geleira da Groenlândia, está crescendo, conforme revelou um estudo da Nasa no início de 2019. Mas, embora uma borda da geleira tenha engrossado ligeiramente desde 2016, a camada de gelo em geral ainda está derretendo rapidamente, superando em muito a expansão. Cientistas acreditam que o crescimento se deva a um afluxo de água fria do Atlântico Norte, um fenômeno temporário.