Barein: país dividido
17 de fevereiro de 2011O Barein, pequeno estado insular diante da costa da Arábia Saudita, é um caso à parte na região. Dos pontos de vista cultural, religioso e político, o país é influenciado tanto pelo Irã, amplamente xiita, como pelos Estados árabes ao seu redor, majoritariamente sunitas.
Essa situação leva a uma divisão interna. Apesar de os xiitas corresponderem a cerca de 70% da população, o país é governado desde 1971 por uma família real sunita, liderada pelo rei Hamad Bin Isa Al Khalifa. Essa rivalidade confessional estaria na origem dos atuais protestos, afirma o especialista em segurança do Gulf Research Center de Dubai, Mustafá Alani.
"A maioria dos protestos é organizada pelos xiitas, e acredito que o governo conseguirá manter o controle da situação porque tem o apoio de metade da população sunita", afirma Alani.
Outros especialistas afirmam, porém, que os protestos não têm origem em questões religiosas e nem são insuflados à distância pelo Irã, como afirmam uma parte do establishment sunita e alguns órgãos da imprensa árabe.
Discriminação onipresente
A especialista em Islã Sabine Damir-Geilsdorf, que passou as últimas três semanas no Barein, lembra que os protestos ocorrem perto do décimo aniversário de uma promessa não cumprida pela família real, de organizar um referendo sobre reformas democráticas no país.
Para a especialista alemã, um sentimento de frustração causado pela percepção de corrupção e pela falta de perspectiva de vida é o principal motivo para a onda de protestos. Esse sentimento atinge principalmente os xiitas.
"A discriminação da maioria xiita é onipresente. Eles têm menos trabalho e possibilidades de ascensão social. Eles não ocupam postos na polícia e no Exército. A infraestrutura nas vilas xiitas é pior do que a de regiões sunitas. Isso é assim em todo o Barein", afirma Damir-Geilsdorf.
Os xiitas do Barein reclamam há tempos que são tratados como cidadãos de segunda categoria. A tensão religiosa é consequência dessa discriminação, afirma a especialista alemã, e não causa dela. "Essa tensão confessional é claramente gerada por essa discriminação política."
O governo do Barein tenta acalmar a situação por meio de concessões e presentes à população. Todas as famílias necessitadas do país, por exemplo, receberão um bônus de 3 mil dólares. O rei também anunciou um relaxamento do controle estatal da mídia. Mas as promessas ainda não conseguiram acalmar os protestos.
Autor: Loay Mudhoon (as)
Revisão: Roselaine Wandscheer