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Terceira dose em países ricos pode elevar mortes nos pobres

13 de agosto de 2021

Especialistas lançam apelo e pedem solidariedade aos países desenvolvidos que planejam começar a aplicar doses de reforço da vacina contra a covid-19. "Não ignorem sua responsabilidade com o resto da humanidade."

Em Dacar, no Senegal, funcionários do aeroporto desembalam caixas com vacinas do consórcio Covax, que distribui vacinas contra a covid-19 para países mais pobres
Consórcio Covax, criado pela Gavi Alliance e a OMS, distribui vacinas contra a covid-19 para países mais pobresFoto: John Wessels/AFP/Getty Images

Após a Organização Mundial da Saúde (OMS) já ter feito um apelo, especialistas reforçaram nesta sexta-feira (13/08) o alerta contra a aplicação de doses de reforço da vacina contra a covid-19 prevista por alguns países desenvolvidos, como Alemanha, França e Estados Unidos.

Em artigo publicado no jornal britânico The Guardian, o americano Seth Berkley, diretor executivo da Gavi Alliance – que promove a distribuição de vacinas para países mais pobres –, e o professor britânico Andrew Pollard, do grupo de vacinas da Universidade de Oxford, afirmam que um número ainda maior de pessoas em todo o mundo morrerá se os líderes políticos ocidentais ignorarem suas "responsabilidades com o resto da humanidade".

Berkley e Pollard ressaltam que ainda não há conclusões científicas que sustentem a necessidade da terceira aplicação dos imunizantes, e que essa atitude terá consequências impactantes em outras nações.

"Este é um momento fundamental para os tomadores de decisões", afirmam. Na avaliação de ambos, a adoção da medida nos países mais ricos poderá enviar um sinal para todo o mundo de que a terceira dose é, de fato, necessária.

Segundo eles, isso poderá fazer com que muitas doses de vacina fiquem fora do sistema, levando à morte de um número maior de pessoas que sequer tiveram a chance de receber a primeira dose.

"A história lembrará do momento em que os líderes políticos decidiram rejeitar suas responsabilidades com o resto da humanidade durante a maior crise de nossa época", destacam.

Pollard e Berkley observam ainda que, enquanto as vacinas salvam milhões de vidas em muitas partes do mundo, milhares ainda morrem de covid-19 todas as semanas, com muitos países ainda em situação desesperadora e hospitais sobrecarregados.

"A vasta maioria das pessoas que ainda vão morrer de covid neste ano poderia ser salva se fizermos as coisas da maneira certa", reiteram.

"Vacinar os que estão em risco é do nosso próprio interesse. Pode reduzir o risco de novas variantes surgirem e ainda aliviar a pressão sobre os sistemas de saúde, reabrir as viagens, ressuscitar a economia global e aumentar a autoridade internacional de políticos preparados para assumir tal liderança moral."

O alerta segue um apelo feito pela OMS no início deste mês, pedindo aos países ricos que suspendam ou adiem a aplicação de uma terceira dose de vacinas, num momento em que a maioria dos países pobres ainda enfrenta dificuldades para aplicar a primeira dose.

A organização pediu que as doses adicionais sejam postergadas pelo menos até o final de setembro, para diminuir a desigualdade na distribuição de vacinas entre os países ricos e pobres.

A OMS e a Gavi Alliance são responsáveis pela criação do consórcio internacional Covax Facility, que promove a distribuição de imunizantes contra a covid-19 aos países menos desenvolvidos.

Países preocupados com a delta

Mesmo após o apelo da OMS, a Alemanha e a França decidiram ir adiante com os planos de começar a aplicar uma terceira dose em sua população já em setembro.

As duas maiores economias da Europa estão entre os países que mais vacinaram no mundo: na Alemanha, mais de 56% da população está totalmente imunizada, enquanto na França essa taxa é de 51%. As autoridades dos dois países, porém, estão preocupadas com o avanço da variante delta do coronavírus, altamente contagiosa, que se tornou predominante na Europa.

Israel, por sua vez, já começou a administrar a terceira dose em pessoas com mais de 60 anos. Como parte da campanha, o presidente do país, Isaac Herzog, e o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu receberam a dose de reforço no fim de julho.

Os Estados Unidos são o país mais recente a anunciar doses de reforço para cidadãos que têm o sistema imunológico debilitado, o que equivale a 3% de sua população.

O anúncio veio após a divulgação de novas evidências de que a variante delta é capaz de infectar pessoas que já foram completamente vacinadas, que por sua vez podem transmitir o vírus para outras pessoas. Alguns especialistas argumentam que, por esse motivo, obter a imunidade coletiva contra a covid-19 seria impossível.

O sistema nacional de saúde britânico NHS publicou na semana passada um relatório alertando haver indícios de que "os níveis do vírus nas pessoas vacinadas e infectadas com a delta podem ser semelhantes aos detectados em pessoas não vacinadas", o que afeta a facilidade de transmissão do patógeno.

rc/ek (ots)

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