Termelétricas pesam no bolso do consumidor brasileiro
Clarissa Neher5 de fevereiro de 2015
Usinas altamente poluentes que deveriam ser acionadas apenas em caso de emergência se tornaram fundamentais para suprir a demanda energética no Brasil. Custo de geração alto faz conta de luz aumentar.
Anúncio
Com a crise hídrica e o aumento do consumo de energia, as termelétricas brasileiras vêm operando continuamente nos últimos anos. O que deveria ser uma solução emergencial e temporária acabou se tornando essencial.
O peso da geração térmica no setor elétrico praticamente quadruplicou em dois anos. Em 2011, as termelétricas geraram 4,5% da energia consumida no país, e em 2013, 16,3%. Em dezembro de 2014, período em que a demanda aumentou devido ao início do verão e à estiagem prolongada, a cifra chegou a 30,13% - o dado anual anda não foi divulgado.
"A participação das termelétricas na matriz energética brasileira nos últimos anos cresceu exponencialmente", diz André Nahur, coordenador de mudanças climáticas e energia do WWF-Brasil. "O que era considerado uma energia de suporte, hoje está se tornando uma energia de base, para aguentar a queda dos reservatórios em decorrência das mudanças climáticas, uso do solo e mau planejamento da matriz."
A geração térmica, porém, é muito mais cara que a hidrelétrica ou eólica. Enquanto, o megawatt-hora (MWh) das usinas eólicas e hidrelétricas custa em torno de 100 reais, nas termelétricas, esse valor pode ultrapassar os 800 reais. E a partir deste ano, o custo da geração térmica será repassado às tarifas de energia elétrica.
Reajuste de até 50%
"O custo do uso das termelétricas foi acumulado em 2014, pois o governo em um ano eleitoral não quis repassar esse valor às tarifas. Agora, duas contas devem ser pagas: a atual e a do ano passado", diz o físico Ennio Peres da Silva, do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Unicamp. O especialista estima que a tarifa de energia vá aumentar entre 25% e 50% neste ano.
A estiagem prolongada, que diminui o volume de reservatórios, o atraso em obras de futuras usinas hidrelétricas e linhas de transmissão e o aumento do consumo são os principais fatores que impulsionaram o acionamento das termelétricas, aponta Silva.
Nesta semana, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que fará uma revisão dos valores do sistema de bandeiras tarifárias, que repassa ao consumidor os altos custos de geração de energia causados pelo acionamento das termelétricas, por exemplo.
O sistema entrou em vigor em janeiro e usa cores para avisar os consumidores de que a energia naquele mês está mais cara. Com o maior acionamento de termelétricas, a atual bandeira é a vermelha, que acrescenta três reais à tarifa para cada cem quilowatts-hora consumidos.
Com a revisão do sistema, esse valor deve subir, mas a Aneel ainda não informou o valor do reajuste. Nesta quinta-feira (05/02), o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse que ele deverá ser menor que 50%.
Poluição em alta
Além do custo, o nível extremamente alto de poluição é outro aspecto negativo das termelétricas. "De 1990 a 2012, as emissões brasileiras no setor de energia aumentaram 126%. Isso ocorre, principalmente, devido à participação cada vez maior das termelétricas na matriz energética", afirma Nahur.
O coordenador da WWF-Brasil reforça que essas usinas também requerem um volume muito grande de água para operar, pois suas turbinas funcionam com o vapor de água.
"Num cenário de impacto das mudanças climáticas e alta demanda de água para consumo humano em grandes centros urbanos, ter um setor que vai consumir mais água como solução é gerar outro problema", diz.
Silva afirma que faltam análises amplas sobre o efeito das termelétricas aobre o meio ambiente no Brasil. Apesar de o impacto das usinas ser pouco visível e imediato, poluentes lançados no ar podem prejudicar a saúde, causando problemas respiratórios, por exemplo, aponta o especialista.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU devem ser substituídos. Uma equipe elaborou um projeto com 17 metas para serem aplicadas em nível mundial.
Foto: MEHR
1º: Um mundo sem pobreza
Até 2030, ninguém deverá viver em pobreza extrema. Com esta meta, a comunidade internacional busca ir mais longe do que os antigos Objetivos do Milênio, que estipulavam a redução da pobreza extrema pela metade até 2015. Pessoas que vivem com menos de 1,25 dólar por dia vivem em pobreza extrema, segundo a definição da ONU.
Foto: Daniel Garcia/AFP/Getty Images
2º: Um mundo sem fome
Atualmente, mais de 800 milhões de pessoas não têm o suficiente para comer, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A intenção é erradicar a desnutrição até 2030. A agricultura sustentável terá função importante para o cumprimento desta meta. Pequenos produtores e o desenvolvimento rural devem ser apoiados.
Foto: picture-alliance/dpa
3º: Saúde para todos
A cada cinco segundos, uma criança morre no mundo. O total anual é de 6,6 milhões de mortes de crianças menores de 5 anos. Cerca de 300 mil mães perdem a vida durante a gravidez ou o parto. A mortalidade infantil e a materna poderiam ser evitadas por meios simples. Até 2030, todas as pessoas devem ter acesso à assistência médica e a medicamentos e vacinas com preços acessíveis.
Foto: DW/P.Kouparanis
4º: Educação para todos
Menino ou menina, rico ou pobre. Até 2030, toda criança tem a necessidade de receber uma educação que permita a ela uma futura carreira profissional. Homens e mulheres devem ter oportunidades educacionais iguais, independentemente da origem étnica ou social, e independentemente de uma possível deficiência.
Foto: DW/S. Bogdanic
5º: Igualdade de direitos para as mulheres
Mulheres devem poder participar da vida pública e política em igualdade de condições. Violência e casamentos forçados devem fazer parte do passado. Em todo o mundo, mulheres devem ter acesso à contracepção e ao planejamento familiar. Este ponto gera críticas de setores religiosos.
Foto: Behrouz Mehri/AFP/Getty Images
6º: Água é um direito humano
A água é um direito humano. No entanto, 770 milhões de pessoas não bebem água potável, e 1 bilhão não têm acesso a saneamento básico, segundo a ONU. Até 2030, todas as pessoas devem ter acesso à água potável e ao saneamento básico. Os recursos hídricos devem ser utilizados de forma sustentável, e os ecossistemas, protegidos.
Foto: DW/B. Darame
7º: Energia para todos
Até 2030, todas as pessoas devem ter acesso à eletricidade, de preferência oriunda de fontes renováveis. A eficiência energética global precisa ser duplicada, e a infraestrutura – especialmente nos países mais pobres, deve ser expandida. Hoje, cerca de 1,3 bilhão de pessoas vivem sem eletricidade.
Foto: Fotolia/RRF
8º: Trabalho justo para todos
Oferecer condições de trabalho justas para todos, assim como oportunidades de emprego para jovens e uma economia sustentável. A meta número 8 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável vale tanto para países industrializados como para os países em desenvolvimento e inclui ainda o fim do trabalho infantil e o cumprimento das normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Foto: GIZ
9º: Infraestrutura sustentável
Uma infraestrutura melhor deve promover o desenvolvimento econômico, com benefícios para todos. A industrialização deve ser sustentável, tanto em termos sociais como ambientais, e requer a criação de mais e de melhores postos de trabalho, além de incentivar inovações que possam contribuir para a sustentabilidade e a justiça social.
Foto: imago/imagebroker
10º: Distribuição justa da renda
De acordo com a ONU, mais da metade da riqueza gerada fica com apenas 1% da população mundial. A diferença entre ricos e pobres é cada vez maior. Por isso, a ajuda ao desenvolvimento deve se voltar principalmente para a metade mais pobre da população e os países mais pobres.
Foto: picture-alliance/dpa
11º: Cidades habitáveis
Nos grandes centros urbanos devem existir espaços de convivência que respeitem o meio ambiente, com moradias acessíveis a todos. As cidades devem ser mais sustentáveis e verdes. Principalmente os países em desenvolvimento devem receber assistência, a fim de tornar as cidades resistentes às mudanças climáticas.
Foto: picture alliance/blickwinkel
12º: Consumo e produção sustentáveis
Reciclagem, reutilização de recursos naturais e redução de resíduos – especialmente na produção de alimentos e no consumo. Os recursos naturais devem ser usados de forma sustentável e respeitando questões sociais. Subsídios aos combustíveis fósseis devem ser eliminados.
Foto: DW
13º: Controlar as mudanças climáticas
A necessidade de um acordo global para atenuar as mudanças climáticas e se adaptar aos efeitos delas é hoje consenso na ONU. Os países mais ricos precisam ajudar os mais pobres com transferência de tecnologia e também com recursos financeiros. Ao mesmo tempo, devem reduzir as suas próprias emissões de gases do efeito estufa.
Foto: AP
14º: Proteção dos oceanos
Os oceanos já estão próximos de entrar em colapso, e é necessária uma ação rápida. Medidas para evitar a sobrepesca e a destruição de regiões costeiras e ecossistemas marinhos precisam entrar em vigor até 2020. O combate à poluição do mar, causada por lixo e excesso de fertilizantes, deverá ser implementada apenas cinco anos mais tarde, a partir de 2025.
Foto: imago
15º: Acabar com a destruição ambiental
Os países-membros terão cinco anos para implementar medidas de proteção de bacias hidrográficas, florestas e a biodiversidade. Até 2020, a terra, as florestas e as fontes de água devem ser melhor protegidas, e o uso dos recursos naturais deve ser profundamente alterado.
Foto: picture alliance/dpa
16º: Respeito a direitos e leis
Todas as pessoas devem ser iguais perante a lei. Através de instituições nacionais e cooperação internacional, a violência, o terrorismo, a corrupção e o crime organizado devem ser combatidos de forma eficaz. Até 2030, todas as pessoas devem ter o direito a um documento de identidade e a uma certidão de nascimento.
Foto: imago/Paul von Stroheim
17º: Um futuro mais solidário
Como já consta nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, os países ricos devem finalmente destinar 0,7% do Produto Nacional Bruto à ajuda internacional para o desenvolvimento. Atualmente, a Alemanha colabora com 0,39%. Apenas cinco países atingiram a meta de 0,7%: Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Suécia e Reino Unido.