Terra vibrou por nove dias após deslizamento na Groenlândia
13 de setembro de 2024
Deslizamento de terra no ano passado gerou tsunami com ondas de 200 metros. Atividade sismica foi identificada por sensores em toda a Terra.
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Um deslizamento de terra na Groenlândia que ocorreu há um ano criou um tsunami que fez a Terra vibrar por nove dias, concluiu uma pesquisa liderada pelo Instituto Nacional de Pesquisa Geológica da Dinamarca e Groenlândia, publicada nesta quinta-feira (12/09) na revista científica Science.
As ondas gigantes causadas pelo evento se espalharam no remoto fiorde de Dickson e geraram um sinal sísmico capaz de ser captado continuamente por sensores em ciclos de 90 segundos.
Segundo o especialista em Sismologia Computacional da University College London (UCL) e coautor do estudo, Stephen Hicks, o fenômeno é inédito.
"Quando vi o sinal sísmico pela primeira vez, fiquei completamente perplexo”, disse. "Embora saibamos que os sismômetros podem registrar uma variedade de fontes que estão ocorrendo na superfície da Terra, nunca antes uma onda sísmica tão duradoura, e de deslocamento global, contendo apenas uma única frequência de oscilação, foi registrada", completou. Os sinais foram captados desde o Ártico até a Antártida.
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Colapso de montanha causou tsunami
Não visto pelo olho humano, o evento foi causado pelo colapso de uma montanha de 1.200 metros. O deslizamento de cerca de 25 milhões de metros cúbicos de rocha e gelo causou uma explosão de água de 200 metros de altura, gerando ondas consecutivas de 110 metros de altura.
Os pesquisadores calcularam que essa onda se estendeu por 10 quilômetros do fiorde e se reduziu a sete metros em poucos minutos, e alguns centímetros nos dias seguintes.
Para demonstrar como o movimento poderia ter durado nove dias, os pesquisadores recriaram o ângulo do deslizamento de terra no fiorde de Dickson usando um modelo matemático.
Como os fiordes são entradas de mar confinadas entre montanhas rochosas, eles produzem formações estreitas e curvas, o que fez com que a massa de água se movesse para frente e para trás, se chocando nas rochas a cada 90 segundos e gerando as vibrações na crosta terresre.
As piores catástrofes climáticas de 2023
Recordes de calor em várias partes do mundo, seca histórica na Amazônia, enchentes na Europa. O ano de 2023 registrou eventos climáticos de proporções inéditas.
Foto: Bruno Zanardo/Getty Images
Seca histórica na Amazônia
Nos últimos meses do ano, a maior floresta tropical do mundo enfrentou sua pior seca já registrada. Alguns cientistas temem que o bioma possa estar se aproximando do chamado ponto de não retorno, quando a Amazônia não será mais capaz de gerar chuvas, o que daria início a um processo de savanização. A floresta também foi atingida por uma série de incêndios florestais.
Foto: Gustavo Basso/DW
Enchentes no sul do Brasil
Em setembro, fortes enchentes atingiram a região sul do Brasil. A passagem de um ciclone extratropical causou a pior tragédia natural do estado do Rio Grande do Sul, onde quase 90 municípios registraram danos. As fortes chuvas deixaram dezenas de mortos e milhares de desabrigados, além de estradas bloqueadas, isolando comunidades inteiras durante dias.
Foto: DIEGO VARA/REUTERS
Verão mais quente já registrado no Hemisfério Norte
O verão de 2023 no Hemisfério Norte foi de longe o mais quente já registrado, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o programa Copernicus. As altas temperaturas causaram secas, inundações e incêndios florestais. O período entre janeiro a agosto deste ano foi o segundo mais quente da história na região, atrás apenas de 2016.
Foto: Francesco Fotia/Avalon/Photoshot/picture alliance
Grécia: maior incêndio florestal da União Europeia
A Grécia sentiu os efeitos da forte onda de calor no verão europeu, na metade do ano, e enfrentou os maiores incêndios florestais já registrados no continente. Milhares de pessoas tiveram de ser retiradas de ilhas turísticas como Rodes, Corfu e Evia. O país chegou a registrar mais de 600 focos de incêndio simultâneos, com temperaturas que se aproximavam dos 50º C.
Foto: Julian I. Borissoff
Incêndios de costa a costa no Canadá
Na metade do ano, incêndios florestais no Canadá se espalharam da costa leste para a oeste, queimando quase o dobro da área do recorde anterior. Segundo a World Weather Attribution (WWA), as mudanças climáticas ajudaram a criar um clima seco e entre 20% a 50% mais "propenso a incêndios", mais do que dobrando a probabilidade de incêndios extremos no leste do Canadá.
Foto: Bonita Kay Summers/REUTERS
"Enchente do século" no norte da Itália
Em maio, na região de Emília-Romagna, no norte de Itália, três tempestades provocaram deslizamentos de terra e inundações consideradas as piores em um século. Segundo pesquisadores, um período específico de chuva de 21 dias – único em 200 anos e com apenas 0,5% de probabilidade de acontecer anualmente – poderia ter ocorrido com ou sem mudanças climáticas.
Foto: Andreas Solaro/AFP
Secas na França
No primeiro semestre de 2023, a França atravessou uma das piores secas dos últimos anos. As autoridades adotaram medidas de emergência para economizar água. A região mais afetada foi o sul do país, onde em algumas cidades chegou a ser proibido lavar carros ou encher piscinas durante semanas. O tempo seco contribuiu para a propagação de incêndios florestais.
A tempestade Daniel gerou inundações que causaram o rompimento de duas barragens e mataram milhares de pessoas na Líbia no início de setembro. A cidade de Derna foi quase totalmente destruída. Os esforços humanitários internacionais foram prejudicados pela divisão política da Líbia, em meio à guerra civil que assola o país.
Foto: Hamza Turkia/Xinhua/IMAGO
Recordes de calor no sul da Ásia
Países do sul asiático como Índia, Vietnã, Laos, Bangladesh e Mianmar superaram recordes de calor em 2023. A Tailândia registrou temperaturas de 45º C pela primeira vez na história. Cientistas atribuem o calor extremo na região às mudanças climáticas.
"Nosso estudo desse evento destaca de forma surpreendente as intrincadas conexões entre as mudanças climáticas na atmosfera, a desestabilização do gelo das geleiras na criosfera, movimentos corpos d'água na hidrosfera e a crosta sólida da Terra na litosfera", disse.
Apesar de deslizamentos como este serem habituais em lugares como o Alasca e a Noruega, esta foi a primeira vez que o fenômeno ocorreu na parte oriental da Groenlândia.
Segundo o estudo, isto indica que o evento deve se tornar mais comum nos próximos anos. Os cientistas também alertam que esses deslizamentos de terra podem desencadear tsunamis de grande magnitude - especialmente quando ocorrem em corpos d'água confinados, como os fiordes.