Terreno para pequenas e médias empresas
12 de setembro de 2003Alexander von Witzleben é uma exceção entre os executivos das grandes indústrias instaladas no território da antiga Alemanha Oriental. Ele pode decidir sozinho. O empresário de 40 anos preside a Jenoptik AG, sediada em Jena, na Turíngia. Com 10 mil funcionários, o conglomerado industrial é dos poucos do Leste alemão a ter uma política própria e seu futuro planejado ali mesmo.
Enquanto Witzleben recebe e avalia em Jena os dados operacionais das subsidiárias da Jenoptik, mesmo que estejam a oeste, a maior parte dos colegas da elite empresarial do Leste alemão faz o contrário, enviando relatórios para o Ocidente. Com previsão de faturamento de dois bilhões de euros para este ano, a Jenoptik é o único conglomerado de grande porte com matriz em terreno outrora comunista.
Entre os pesos pesados da economia do Leste alemão, ou seja, com faturamento superior a meio bilhão de euros, predominam subsidiárias de grupos do lado ocidental da Alemanha e estrangeiros. Alguns exemplos: Volkswagen Sachsen GmbH, em Zwisckau (Saxônia); Total Raffinerie Mitteldeutschland GmbH, em Spergau (Saxônia-Anhalt); Opel Eisenach GmbH (Turíngia); e BASF Schwarzheide (Brandemburgo). Todas estas empresas dependem de decisões tomadas em suas centrais em outro ponto da Alemanha ou do mundo.
A falta que o grande capital faz
Cientistas econômicos observam preocupados esta situação. "A falta de grandes empresas e matrizes de conglomerados é uma fraqueza gritante do Leste alemão como pólo de produção", diz Udo Ludwig, do Instituto de Pesquisa Econômica de Halle (IWH). Afinal, o grande capital tem o poder de mover rapidamente a economia. "Os grandes atraem os pequenos", diz com conhecimento de causa o secretário de Economia da Saxônia, Martin Gillo. Em seu Estado, a chegada da Volkswagen, Opel e BMW, que ainda está construindo em Leipzig, foi acompanhada de muitos fornecedores.
Os cientistas econômicos identificam déficit também no número de empresas de primeira linha. Nos estados do Leste, ainda há pouca demanda por serviços altamente especializados e específicos para indústrias, geralmente procurados por matrizes de conglomerados. Uma análise do perfil dos estabelecimentos empresariais acusa igualmente carência de unidades de pesquisa, desenvolvimento e marketing.
Mesmo que houvesse incentivo oficial para que os grandes grupos transferissem tais segmentos para a região, eles "o fariam a contragosto", acredita Karl Brenke, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW), de Berlim. "Ou seja, empregos de alta remuneração existem relativamente poucos no Leste", diz o pesquisador. Para ele, isto é um problema estrutural e razão para a baixa produtividade na região.
Ludwig, do IWH aponta ainda a escassez de indústrias com mais de mil trabalhadores entre a costa do Mar Báltico e a Floresta da Turíngia. Ludwig conta haver apenas 31 no Leste do país, contra 736 no Oeste alemão. No território da antiga Alemanha comunista, os grandes empregadores representam apenas 13% do mercado de trabalho nas indústrias, enquanto no outro lado do país eles oferecem 41% das vagas.
Otimismo, graças às pequenas e médias indústrias
Fora empresas de abastecimento, que perfazem cerca de 20% das 100 maiores do Leste alemão, encabeçadas pela Vattenfall Europe AG (geração, transmissão e distribuição de energia), sediada em Berlim, poucas independentes aparecem entre as de grande porte. A PC-Ware AG (informática), de Leipzig, a Rottkäpchen-Mumm Sektkellerei (vinhos espumantes), de Freyburg, e a Lintec AG (também informática), de Taucha, são exceções.
Apesar disso, os cientistas econômicos são otimistas com o futuro do setor industrial no Leste. As estatísticas mostram que, enquanto a construção civil permanece em crise e as atividades de prestação de serviços lentamente avançam, as indústrias é que alavancam a conjuntura regional. Especialmente as de pequeno e médio porte mostram-se robustas.
Nos cinco primeiros meses deste ano, o faturamento do setor industrial do Leste cresceu 5,7% para 44,6 bilhões de euros. Os dados são de se admirar quando comparados à média nacional de 0,8%. Além disso, as indústrias da região não cortaram empregos no mesmo período, destoando da tendência nacional de 2,5% de redução nos quadros de pessoal.
Ludwig e Brenke não esperam, a curto prazo, mudanças significativas no ranking de faturamento das empresas instaladas no Leste alemão. Empreendimentos de grande porte, como sonham os políticos locais, continuarão raridade. "É preciso apostar no crescimento das médias empresas", palpita Brenke. Se elas vingarem e se desenvolverem, o futuro econômico da região terá bases sólidas. "Até agora, elas fizeram bom trabalho", sentencia o pesquisador do DIW.