Depois dos franceses, agora também os britânicos vão às urnas poucos dias após um atentado terrorista. Temas como segurança interna e Brexit devem influenciar pleito parlamentar antecipado.
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Madri, Paris e agora Londres: não é novidade que eleições democráticas e livres sejam alvo de terrorismo, mesmo na Europa. Em 2004, o transporte público da capital espanhola foi alvo dos islamistas, poucos dias antes das eleições, em um ataque que matou 192 pessoas. Em abril deste ano, pouco antes da eleição presidencial francesa, houve um tiroteio na Champs-Élysées, famosa avenida parisiense.
Agora foi a vez de Londres. O alvo do ataque foi a London Bridge, ponte que é um marco da capital do Reino Unido, país que atualmente está longe da unidade, tanto nas ruas como no governo. Poucos dias antes das eleições antecipadas, marcadas para esta quinta-feira (08/06), um veículo foi jogado sobre pedestres. Foi o segundo atentado em solo britânico em cerca de duas semanas. O país está chocado, e os partidos concordaram em suspender a campanha.
Ninguém se beneficia do terror
Pelo menos isso impede que os políticos tentem se beneficiar com a questão de segurança interna e façam uma má figura com isso, como no caso do atentado de Manchester.
"Ambos os líderes dos principais partidos fizeram feio", acredita o cientista político Anthony Glees, da Universidade de Buckingham. O mais recente ataque terrorista em Londres aumentou ainda mais, segundo ele, as controvérsias entre a primeira-ministra britânica, Theresa May, do Partido Conservador, e seu adversário do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn.
Embora May tenha se mostrado decidida após o ataque em Londres, proclamando um plano para combater o terrorismo, ela teve sua reputação afetada, por ter estado envolvida, quando era ministra do Interior, nas falhas do setor de segurança interna dos últimos anos.
"Sabemos que existem cerca de 23 mil supostos jihadistas no Reino Unido", ressalta Glees. "No entanto, não podemos controlá-los, porque Theresa May aboliu esses controles, como ministra do Interior, em 2010."
Corbyn também se comportou de forma infeliz após o ataque. Apesar da suspensão da campanha, ele pediu a renúncia da premiê. "O Partido Trabalhista sob comando de Jeremy Corbyn, que é conhecido por ter simpatizado com o IRA, se disse durante a campanha não somente contra a ordem para atirar, mas também a favor de se negociar com terroristas", lembra Glees. Mas, após o atentado de Manchester, ele prometeu, em caso de vitória eleitoral, "colocar mais policiais nas ruas".
Falta de união
Falta de união interna é o novo problema do Reino Unido. "Os políticos estão impotentes, porque o Reino Unido está numa situação muito difícil", avalia Glees. "Votamos no ano passado pelo Brexit sem que político algum nos tivesse dito o que o Brexit na verdade significa."
Para o analista, o país se encontra em constante estado de crise, num círculo vicioso político. "Com isso, também nos tornamos alvos mais fáceis de ataques."
O que acabará por desempenhar um papel nesta quinta-feira, entre ingleses, galeses, escoceses e irlandeses do norte, quando eles forem votar em seus candidatos nos 650 distritos eleitorais, permanece em aberto. Pois entre os temas importantes nessa votação estarão não só a segurança interna, mas também a relação do Reino Unido com a Europa e a questão de como o país estará nos próximos anos. O caminho da Escócia em relação à independência também é motivo de debate, assim como o futuro do Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês), instituição considerada sagrada pelos britânicos.
"Os britânicos são sensatos", acredita Glees, acrescentando que a democracia também não é tão vulnerável ao terror como pode parecer. Na França, Marine Le Pen, do partido de extrema direita Frente Nacional, perdeu recentemente. Sua política de imagens, medo e horror não conseguiu prevalecer contra a campanha pró-europeia do jovem Emmanuel Macron, líder do movimento "En Marche".
Também na Espanha, o conservador Partido Popular perdeu as eleições em 2004, saindo do governo, porque insistiu teimosamente em culpar o grupo terrorista basco ETA pelo atentado de Madri. A acusação fez com que os espanhóis, normalmente divididos, se unissem contra o governo.
Mulheres no poder
A maioria dos 193 países nas Nações Unidas é governada por homens. Mulheres à frente de uma nação são raras. Mas há exceções. Algumas são bem conhecidas; outras, nem tanto.
Foto: Reuters/Y. Herman
Angela Merkel
Eleita chanceler federal da Alemanha em 2005, foi a primeira mulher a chefiar um governo alemão. Com 62 anos de idade, cumpre seu terceiro mandato e concorre ao quarto nas eleições de setembro próximo. Muitos consideram Merkel a mulher mais poderosa do mundo. Em 2015, a revista americana "Time" escolheu a filha de pastor protestante a "Personalidade do Ano".
Foto: picture alliance/dpa/M.Gambarini
Theresa May
É a segunda primeira-ministra britânica, após Margaret Thatcher, que governou o país na década de 1980. A ex-ministra do Interior, de 60 anos, mudou-se para Downing Street pouco depois do referendo pela saída do Reino Unido da União Europeia, em julho de 2016. Agora ela enfrenta a difícil tarefa de negociar a saída de seu país do bloco.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Tyagi
Beata Szydlo
A terceira mulher na chefia do governo polonês está há quase um ano no cargo. Em seu primeiro discurso diante do Parlamento, a política do partido conservador Direito e Justiça (PiS) disse ser uma prioridade do governo "garantir a segurança da Polônia e contribuir para a segurança da UE". Beata Szydlo, da 54 anos, é católica devota.
Foto: picture-alliance/W. Dabkowski
Tsai Ing-wen
Tsai Ing-wen é a primeira mulher presidente de Taiwan. Por causa de suas críticas à China, após sua posse, em maio último, Pequim congelou as relações com Taiwan. A China é irredutível na posição de que Taiwan, um estreito aliado dos Estados Unidos, algum dia se tornará independente. Tsai Ing-wen assegura que não vai "ceder a qualquer pressão" na questão da soberania.
Foto: Reuters/T. Siu
Ellen Johnson Sirleaf
A política hoje com 78 anos foi a primeira líder democraticamente eleita, em 2006, não só na Libéria, mas em todo o continente africano. Em 2011, ela e outras duas ativistas da Libéria e do Iêmen receberam o Prêmio Nobel da Paz "por sua luta pacífica pela segurança das mulheres e pelos direitos das mulheres à plena participação no trabalho para garantir a paz".
Foto: Reuters/N. Kharmis
Dalia Grybauskaitė
Dalia Grybauskaitėist é a primeira chefe de governo da Lituânia. Da mesma forma como a ex-premiê Thatcher, Grybauskaitė muitas vezes é chamada "dama de ferro". Antes de ser eleita para o governo da Lituânia em 2009, e ser reeleita em 2014, ela conquistou a faixa preta em caratê, ocupou diversos postos no governo de seu país e foi comissária de Programação Financeira e Orçamento da União Europeia.
Foto: Reuters/E. Vidal
Erna Solberg
A Noruega é governada pela segunda mulher, depois de Gro Harlem Brundtland, nos anos 1980 e 1990. Erna Solberg, que tem 56 anos, tornou-se primeira-ministra em 2013. Por causa de sua rígida posição em relação à política de asilo, ela também é chamada "Erna de ferro".
Foto: picture-alliance/dpa/V. Wivestad Groett
Saara Kuugongelwa-Amadhila
Ao assumir, em 2015, a política hoje com 49 anos foi a primeira mulher na chefia do governo da Namíbia. Ainda jovem, ela havia se exilado em Serra Leoa. Mais tarde, estudou Economia nos Estados Unidos. Em 1994, ela retornou à Namíbia e iniciou a carreira política.
Foto: Imago/X. Afrika
Michelle Bachelet
No atual mandato, Michelle Bachelet é presidente do Chile desde 2014, mas ela também já esteve neste cargo de 2006 a 2010, quando foi a primeira mulher a ocupar a chefia do governo chileno. Durante a ditadura chilena, ela esteve presa e foi torturada. Mais tarde, viveu no exílio na Austrália e na então Alemanha Oriental, onde estudou Medicina.
Foto: Getty Images/AFP/C. Reyes
Hasina Wajed
Em 2016, a primeira-ministra de Bangladesh esteve na lista das 100 mulheres mais poderosas do mundo, segundo a revista "Forbes". Hasina Wajed, de 69 anos, governa o oitavo maior país do mundo em número de população – 162 milhões de habitantes – desde 2009. Ela está na política há várias décadas.
Foto: picture-alliance/dpa/Bildfunk
Kolinda Grabar-Kitarovic
Em 2015, foi eleita presidente da Croácia, tornando-se a primeira mulher neste cargo no país. A política de 49 anos já havia ocupado outros postos no governo de seu país e representou a Croácia como embaixadora em Washington. Grabar-Kitarovic também foi a primeira mulher a ser secretária-geral adjunta para a Diplomacia Pública na Otan.
Foto: Reuters/D. Sagolj
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No Reino Unido, os partidos se mantém reticentes, evitando acusações mútuas após o atentado de domingo. Quem quer que saia vitorioso terá muito trabalho pela frente.