Palestino que matou um homem e feriu outras seis pessoas em atentado a faca em Hamburgo se radicalizou após chegar à Alemanha. Segundo o juiz, ele foi influenciado pela propaganda jihadista do "Estado Islâmico".
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Um palestino que realizou um ataque a faca num supermercado em Hamburgo em julho do ano passado foi condenado a prisão perpétua nesta quinta-feira (01/03). Ahmad Alhaw, de 27 anos, admitiu ter realizado o atentado que deixou um morto e seis feridos na cidade portuária no norte da Alemanha.
Ao anunciar a sentença, o juiz considerou a "particular gravidade” do crime e disse que o acusado, que demonstrou "personalidade instável”, agiu isoladamente após ser influenciado pela propaganda jihadista da organização extremista "Estado Islâmico” (EI). "Dessa forma, o EI obteve sucesso”, observou.
Os promotores disseram que Alhaw queria matar o maior número possível de cristãos alemães para vingar o sofrimento de muçulmanos em todo o mundo, e esperava "morrer como um mártir”.
No dia 28 de julho, Alhaw entrou no supermercado na região de Barmbek, apanhou uma faca de cozinha de 20 centímetros de uma das estantes e esfaqueou fatalmente um homem de 50 anos. Em meio ao pânico, ele atacou outras pessoas dentro e fora do local aos gritos de "Alá é grande”, ferindo uma mulher de 50 anos e cinco homens. "Se ele pudesse, teria matado mais gente”, disse o juiz.
Do lado de fora do supermercado ele foi confrontado por sete pessoas, a maioria de origem migratória, que atiraram pedras e cadeiras em Alhaw e o dominaram até que a polícia chegasse ao local.
Os homens – entre eles um descendente de turcos de 30 anos que se feriu durante o confronto – receberam homenagens pela coragem demonstrada. "Não sou um herói, apenas cumpri meu dever”, disse ao jornal alemão Bild o afegão Toufiq Arab, que ajudou a deter Alhaw.
O ataque foi o primeiro desde o atentado a um mercado de Natal em Berlim, em dezembro de 2016, quando o tunisiano Amis Amri atirou um caminhão sobre a multidão, matando 12 pessoas.
Nesta semana, o Parlamento alemão decidiu que o ataque na capital alemã deverá ser alvo de um inquérito para avaliar de que forma Amri conseguiu escapar da vigilância dos serviços de segurança antes de realizar o atentado.
O ataque em Hamburgo também gerou acusações aos serviços de segurança, que fracassaram ao manter a vigilância sobre Alhaw apesar de diversos alertas de que ele teria se radicalizado.
Assim como Amri, ele aguardava deportação após ter seu pedido de asilo negado. Seu processo havia sido interrompido em razão da espera do envio de seus documentos a partir de Gaza.
Radicalizado na Alemanha
Alhaw chegou à Europa em 2008. Ele teve sua solicitação de refúgio negada na Noruega, Suécia e Espanha antes de chegar à Alemanha em 2015 e ser transferido para um centro de acolhimento em Hamburgo.
Uma promotora disse que Alhaw não vinha de uma família de posições extremistas. "Sua fé tomou aspectos radicais apanas após a chegada à Alemanha”, afirmou à corte.
Um psiquiatra que conversou com Alhaw após o ataque disse que ele tinha sido atraído ao Ocidente pelo estilo de vida liberal. No início ele estudou alemão, tinha vida social e às vezes, segundo testemunhas, consumia álcool e maconha.
Mais tarde, o palestino, que assistia a vídeos de propaganda do EI na internet, se tornou um religioso fervoroso e passou a desconfiar cada vez mais das autoridades. Em 2016 ele dizia que compreendia por completo o Alcorão e rejeitava todas as tentações. Alhaw passou a definir as pessoas como fiéis ou infiéis, afirmou o psiquiatra. Ele disse que o ataque não foi uma decisão sua, mas sim, divina.
No dia 19 de fevereiro, ele surpreendeu ao aparecer no tribunal com a barba cortada e expressar remorso pela primeira vez. "Infelizmente, não posso voltar no tempo”, afirmou às vítimas. "Tudo o que posso fazer é pedir seu perdão.”
Seu advogado disse nesta quinta-feira que Alhaw "estava em condições instáveis em razão das circunstâncias de sua vida”. "Acho que ela já aguardava esse veredito”, afirmou.
RC/afp/dpa
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Cronologia: terrorismo na Alemanha
Há muito tempo a Alemanha já é alvo de atentados e planos de ataques de grupos extremistas. O mais recente aconteceu num mercado de Natal em Berlim, onde um caminhão avançou contra a multidão.
Foto: Reuters/W. Rattay
Dezembro de 2016: Berlim
Um caminhão invadiu a calçada e avançou contra o mercado natalino na praça Breitscheidplatz, em Berlim. Segundo a polícia, ao menos 12 pessoas morreram e 48 ficaram feridas.
Foto: Reuters/F. Bensch
Outubro de 2016: Leipzig
A polícia prendeu o refugiado sírio de 22 anos Jaber al-Bark após descobrir explosivos e equipamentos para fabricação de bombas caseiras no seu apartamento em Chemnitz, próximo a Leipzig, no leste da Alemanha. Ele foi acusado de planejar um ataque ao aeroporto de Berlim. Depois de dois dias na prisão, al-Bark se enforcou.
Foto: Polizei Sachsen
Julho de 2016: Ansbach
Em julho, o "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a autoria do ataque executado pelo refugiado sírio Mohammed D., de 27 anos. D., que já havia jurado lealdade ao grupo extremista, detonou explosivos presos ao próprio corpo na entrada de um festival de música. O homem, que tinha problemas psiquiátricos, obteve instruções pelo celular até instantes antes do ataque.
Foto: picture alliance/AP Photo/D. Karmann
Julho de 2016: Würzburg
Um refugiado afegão de 17 anos atacou, com um machado e uma faca, passageiros de um trem regional em Würzburg, na Baviera. Várias pessoas ficaram feridas gravemente, incluindo quatro membros de uma família de Hong Kong. O jovem foi morto pela polícia. Embora o EI tenha reivindicado a autoria do atentado, para as autoridades não está claro se o rapaz mantinha contato com o grupo extremista.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Hildenbrand
Maio de 2016: Düsseldorf
Três suspeitos de integrar o EI foram presos nos estados de Renânia do Norte-Vestfália, Brandemburgo e Baden-Württemberg. Autoridades afirmam que dois dos homens planejavam detonar bombas presas ao próprio corpo, enquanto o terceiro integrante e um quatro jihadista, preso na França, planejavam matar pedestres com armas e explosivos. Os atentados aconteceriam em Düsseldorf, no oeste da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hitij
Abril de 2016: Essen
A polícia prendeu três pessoas após um ataque a bomba a um templo sikh em Essen, no oeste da Alemanha. O atentado aconteceu durante uma celebração de casamento. Três pessoas ficaram gravemente feridas. As autoridades identificaram os suspeitos a partir de imagens de câmeras de segurança. Entre os detidos está um jovem de 16 anos, que teria contato com o movimento salafista no país.
Foto: picture alliance/dpa/M. Kusch
Fevereiro de 2016: Hannover
A jovem Safia S., de 16 anos, alemã de ascendência marroquina, esfaqueou um policial na estação central de Hannover, cidade no norte da Alemanha. O agente foi gravemente ferido e precisou ser submetido a uma cirurgia. Segundo as autoridades, S. planejava se juntar ao EI na Síria.
Foto: Polizei
Fevereiro de 2016: Berlim
Numa operação simultânea em três estados, a polícia alemã desmantelou uma célula do grupo extremista EI. Os quatro suspeitos, da Argélia, planejavam um ataque na capital do país. Segundo a polícia, o plano ainda estava no início.
Foto: Reuters/F. Bensch
Abril de 2015: Oberursel
A polícia prendeu em Oberursel, no oeste alemão, um casal acusado de planejar um ataque durante uma corrida de ciclismo. Os dois, que seriam salafistas, mantinham no porão de casa uma bomba caseira. Por falta de provas de vínculo terrorista, o homem foi condenado a dois anos de prisão por falsidade ideológica e posse de arma e explosivos ilegais. As investigações contra a esposa foram arquivadas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Dezembro de 2012: Bonn
Uma mala com explosivos foi encontrada na estação central de Bonn, oeste do país. Para as autoridades, tratava-se de uma tentativa de ataque terrorista com motivações islamistas. Em 2013, quatro suspeitos de planejar um ataque contra o líder do grupo extremista de direita "Pro NRW" foram presos. Um deles teria colocado a bomba em Bonn. O processo contra o suspeito corre desde 2014, em Düsseldorf.
Foto: picture-alliance/dpa/Meike Böschemeyer
Abril de 2011: Düsseldorf
Três supostos membros do grupo terrorista Al Qaeda foram detidos em Düsseldorf, acusados de planejar um ataque a bomba no país. Em dezembro de 2011, um quarto suspeito foi preso. No final de 2014, os quatro homens foram condenados a vários anos de prisão.
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011: Frankfurt am Main
As autoridades conseguiram impedir um atentado islamista no aeroporto de Frankfurt. Um albanês de Kosovo matou a tiros dois soldados americanos e deixou outros dois feridos. O homem foi condenado à prisão perpétua.
Foto: AP
Setembro de 2007: Oberschledorn
Em setembro de 2007, a organização islamista Grupo Sauerland foi desmantelada no oeste da Alemanha. Em 2010, seus quatro integrantes foram condenados por planejarem ataques em discotecas, aeroportos e instituições no país. As penas chegaram a 12 anos de prisão.
Foto: AP
Julho de 2006: Colônia
Na estação central de Colônia, no oeste do país, dois homens colocaram malas com explosivos em trens regionais que iam para Hamm e Koblenz, mas as bombas não detonaram. Em dezembro de 2008, um deles foi condenado à prisão perpétua.