"Tesouro de Munique" tem 1º quadro devolvido a dono legítimo
15 de maio de 2015
Quadro de Henri Matisse, parte da coleção de Cornelius Gurlitt, é entregue de volta à família judia de quem havia sido roubado pelos nazistas. Caso pode abrir precedente para outras devoluções.
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Uma família judia recebeu nesta sexta-feira (15/05) de volta o quadro Mulher sentada, de Henri Matisse, que havia sido roubado pelos nazistas. A pintura é a primeira obra da valiosa coleção de Cornelius Gurlitt, apelidada de "Tesouro de Munique", a ser devolvida a seus donos originais.
"Os herdeiros de Paul Rosenberg estão contentes em poder confirmar a restituição de Mulher sentada, de Henri Matisse, achada em 2013 na casa de Cornelius Gurlitt em Munique", comunicou o advogado da família.
O quadro foi pintado por Matisse em meados da década de 1920 e fazia parte da coleção de Paul Rosenberg, um negociante de arte judeu que viveu em Paris.
A imagem teria sido roubada pelos nazistas e adquirida por Gustav Rochlitz, que também foi negociante de arte em Paris e tinha uma forte ligação com o líder nazista Hermann Göring. Era Rochlitz quem obtinha obras para Göring. De alguma maneira, a obra foi parar nas mãos de Hildebrand Gurlitt, um dos negociantes de arte favoritos de Hitler.
Em 2013, a pintura foi encontrada em Munique, no apartamento de Cornelius Gurlitt, filho de Hildebrand, juntamente com mais de outras 1.500 obras, várias delas suspeitas de também terem sido roubadas.
Os nazistas consideravam como degenerada grande parte da arte moderna, como obras impressionistas e expressionistas. Muitas foram roubadas e destruídas. Outras foram vendidas a preços baixos por judeus na tentativa de conseguir dinheiro para fugir da Alemanha nazista.
Antes de morrer, em maio de 2014, Cornelius Gurlitt, então com 81 anos, doou sua coleção para o Museu de Belas Artes de Berna, na Suíça, que prometeu devolver a seus donos originais as obras que tiverem sido roubadas por nazistas.
A família Rosenberg disse esperar que a devolução do quadro tenha um impacto positivo sobre o mundo da arte e sobre a meneira de tratar obras expropriadas pelos nazistas.
Quadros do "Tesouro de Munique"
Grande parte da coleção de obras de arte do negociador Hildebrandt Gurlitt, apreendida na residência de seu filho Cornelius, em Munique, pode ser vista na internet.
Foto: picture-alliance/dpa
Henri Matisse (1869-1954)
Fotografias de obras de arte do "Tesouro de Munique" como "Mulher sentada", do pintor francês Henri Matisse, foram publicadas na plataforma lostart.de. Os quadros foram confiscados do apartamento de Cornelius Gurlitt em 2012 e são suspeitos de terem sido extorquidos de proprietários judeus pelo regime nazista.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Marc Chagall (1887-1985)
Também a "Cena alegórica", do famoso pintor francês Marc Chagall foi encontrada entre as obras confiscadas. O chamado "poeta entre os pintores", de origem russo-judaica, é considerado um dos mais importantes artistas do século 20. Seu trabalho é associado ao estilo expressionista.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Wilhelm Lachnit (1899-1962)
O pintor alemão Wilhelm Lachnit realizou a maior parte de seus trabalhos na cidade de Dresden. Sua arte era voltada contra o nazismo. Em 1933, sua obra, qualificada como "arte degenerada", foi confiscada e o pintor, preso. Durante os bombardeios a Dresden em 1945, a maior parte de seu trabalho foi destruída. Agora, algumas de suas obras ressurgem, como é o caso de "Menina à mesa".
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Otto Griebel (1895-1972)
A obra do alemão Otto Griebel é classificada como pertencente ao movimento artístico Nova Objetividade. Após a Primeira Guerra Mundial, ele se afiliou ao Partido Comunista alemão e mais tarde fundou o "Grupo Vermelho", em Dresden. Sua arte "proletária-revolucionária" não agradava os nazistas. Ele foi preso em 1933 e sua obra foi qualificada de "arte comunista". Aqui, o quadro "Mulher de véu".
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Erich Fraass (1893-1974)
O pintor Erich Fraass é da chamada "geração perdida" de artistas alemães, cuja arte foi amplamente reprimida e proibida pela propaganda nazista. Ele pertencia à direção do grupo "Nova Secessão de Dresden", dissolvido pelos nazistas em 1934. "Mãe e filho" também consta do acervo de Gurlitt.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Ludwig Godenschweg (1889-1942)
Ludwig Godenschweg era escultor e gravurista. Além desta sua gravura, "Retrato de um homem", também foi encontrada na casa de Gurlitt a obra "Nu feminino". Segundo o jornal "Die Zeit", ambas podem ter sido confiscadas da coleção do advogado Fritz Salo Glaser, de Dresden. Seus herdeiros reclamam agora a posse das obras.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Fritz Maskos (1896-1967)
Pouco se sabe sobre o escultor alemão Fritz Maskos, autor de "Mulher contemplativa". Tido como artista controverso, ele criou obras como a escultura de bronze "O líder". Sua obra "Sonâmbulo" foi exposta em 1938 em Berlim como "arte degenerada". Seu pastel "Natureza morta do fim do verão" pôde ser vista na Grande Exposição de Dresden, em 1943.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Edvard Munch (1863-1944)
Diversas obras do pintor norueguês Edvard Munch foram encontradas na coleção de Gurlitt. O artista influenciou o Expressionismo e o Modernismo. Seu trabalho mais famoso, "O grito", foi roubado em 2004 do museu de Oslo e recuperado em 2006. A obra "Noite, melancolia I" é datada de 1896.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg
Franz Marc (1880-1916)
O guache "Paisagem com cavalos", de Franz Marc, é uma das 11 obras do "Tesouro de Munique" apresentadas pela primeira vez publicamente numa coletiva de imprensa em Augsburg.
Foto: Christof Stache/AFP/Getty Images
Otto Dix (1891-1969)
Autorretrato cuja existência era, até então, totalmente desconhecida, não tendo sido publicado nem no catálogo de obras do artista alemão nem em qualquer outro lugar. Estima-se que date de 1919, contando, portanto, entre as raras obras que Otto Dix realizou depois da Primeira Guerra Mundial.
Foto: Reuters
Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938)
Xilogravura "Menina melancólica", também apreendida no apartamento do Cornelius Gurlitt, em Munique, encontrava-se originalmente no Salão de Arte de Mannheim.
Foto: Reuters
Antonio Canaletto (1697-1768)
O achado histórico no bairro de Schwabing não inclui apenas pinturas modernistas. Os investigadores e a historiadora de arte Meike Hoffmann também apresentaram uma paisagem do italiano do século 18 Giovanni Antonio Canal, apelidado Canaletto.
Foto: Staatsanwaltschaft Augsburg/dpa
Gustave Courbet (1819-1877)
Esta "Garota com cabra" do realista francês foi confiscada pelos nazistas e leiloada apenas em 1949, informou a historiadora de arte Meike Hoffmann. Portanto, só após a Segunda Guerra Mundial o quadro de Courbet entrou para a coleção Gurlitt.
Foto: Reuters/Michael Dalder
Max Liebermann (1847-1935)
"Dois cavaleiros na praia". Outros desenhos e esboços do principal representante alemão do Impressionismo também integram o "Tesouro de Munique".
Foto: Reuters
Max Beckmann (1884-1950)
Esse "Domador de leões" da coleção de Gurlitt já fora descoberto dois anos atrás numa casa de leilões em Colônia. Ele pertencia provavelmente ao marchand judeu Alfred Flechtheim, que abandonou todo seu acervo ao fugir da Alemanha. Seus herdeiros reivindicam o quadro.