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Protesto

20 de janeiro de 2010

Pescadores da comunidade da baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro, são contra a construção de um bilionário complexo siderúrgico e querem agora chamar a atenção dos alemães para o seu protesto.

Obra da siderúrgica na baía de SepetibaFoto: ThyssenKrupp

Luis Carlos Oliveira, 50 anos, é pescador desde os 9: nasceu no estado do Rio de Janeiro, numa região entre os rios São Francisco e Ingá, que fazem parte da baía de Sepetiba. O local, segundo o Instituto Estadual do Ambiente, órgão do governo do estado do Rio de Janeiro, é um criadouro natural para diversas espécies em suas áreas de mangue e zonas estuarinas, sendo a atividade pesqueira um importante suporte econômico e social para a região.

Acompanhado por um pequeno grupo de brasileiros, Oliveira está na Alemanha para brigar contra uma gigante da área da siderurgia, a multinacional alemã ThyssenKrupp.

O pescador representa outros 8 mil colegas de profissão que atuam naquele local e que têm, em comum, posição contrária à instalação da nova fábrica siderúrgica da Thyssen na cidade de Santa Cruz, região da baía de Sepetiba.

O grupo de Oliveira partipará da assembléia geral dos trabalhadores da Thyssen nesta quinta-feira (21/01) na cidade de Bochum e também conta com o apoio da Associação de Acionistas Críticos, organização alemã que briga por melhores condições de trabalho.

Segundo Makus Dufner, diretor da associação, a empresa já foi questionada há seis semanas pela entidade. "A administração e o conselho não ficarão livres de explicar o que se passa no Brasil", declaou Dufner à Deutsche Welle.

O protesto dos pescadores tem vários capítulos e agora busca apoio da sociedade alemã.

Luis Carlos Oliveira, líder dos manifestantesFoto: DW

Impacto negativo na comunidade local

Segundo narra Oliveira, a chegada do empreendimento bilionário ao local transformou a vida da comunidade. Os pescadores reclamam que o primeiro impacto foi sentido quando começou a drenagem da área: naquela região, em 1996, houve um grande vazamento de metais de uma empresa que falira, a Ingá. O acidente causou desastre ambiental, mas, com o passar dos anos, os metais se sedimentaram e o ecossistema começou a se recuperar.

"As máquinas de drenagem, ao revirar o fundo da baía, fizeram esse metal voltar a circular na água. E ali é uma região de desova de peixes e de crustáceos. Com isso, a pesca caiu 80%", afirma Oliveira.

Segundo o líder da comunidade, a renda média de um pescador era de três salários mínimos por mês, mas agora a pesca não é mais viável. "Um pescador ali na baía tem outras cinco pessoas na família, em média. Contando tudo, são quase 48 mil pessoas prejudicadas porque não conseguimos mais pescar."

Por conta das denúncias, o empreendimento da Thyssen chegou a ser embargado em 2007: segundo documento do Ibama, a obra destruiu sem autorização uma área de dois hectares de vegetação de mangue, considerada de preservação permanente. A empresa também foi multada em 100 mil reais.

Atualmente, há nove processos na Justiça Brasileira contra a ThyssenKrupp, exigindo pagamento de indenização para 9 mil pescadores.

Foto área do local com as indicações de como será o megaprojeto da ThyssenKruppFoto: ThyssenKrupp

Ameaças de morte

Luis Carlos Oliveira, líder das manifestações, vive sob tutela do programa de proteção aos defensores dos direitos humanos do governo federal brasileiro. "Eu tive que me mudar e deixar a minha família pra trás. Eu fui ameaçado de morte várias vezes. Carros passavam em frente à minha casa dando tiros para cima, eu recebia ligações anônimas durante à noite", narra Oliveira.

O pescador acusa um funcionário da segurança do canteiro de obras da Thyssen de ser o responsável pelas ameaças. O homem passou a ser investigado pela polícia por ser suspeito de fazer parte de um grupo de milícia que agia na região. O caso recebeu atenção da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, presidida pelo deputado Marcelo Freixos.

A Thyssen informou que conduziu uma investigação própria e que não encontrou "qualquer indicação que baseasse as alegações contra o empregado", segundo a resposta enviada à Deutsche Welle. Ele deixou a empresa em novembro passado no âmbito de um programa de reestruturação, diz a Thyssen.

Thyssen nega acusações

Por meio de um documento enviado à Deutsche Welle, a empresa negou todas as denúncias, classificadas como infundadas. Destacou que o empreendimento tem apoio do governo brasileiro e que cumpre as normas da legislação nacional.

A empresa informou que recebeu da Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, em dezembro de 2009, um documento que atesta que o empreendimento segue as normas exigidas pelo estado.

Sobre a multa cobrada pelo Ibama, a Thyssen alegou que a destruição do mangue foi causada por uma empresa terceirizada e que a multinacional fez um programa de reflorestamento da área.

Segundo a empresa, os opositores ao projeto correspondem a uma minoria da comunidade da baía de Sepetiba, e que apenas 10% da população local vive da pesca.

Projeto de 4,5 bilhões de euros

O complexo siderúrgico na Baía de Sepetiba vai custar 4,5 bilhões de euros, dinheiro investido pela ThyssenKrupp CSA Siderúrgica do Atlântico com recursos do BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social.

As obras começaram em 2005 e a unidade deve iniciar a produção até meados deste ano, com capacidade anual de produção de 5 milhões de toneladas de placas de aço.

Segundo a Thyssen, o empreendimento, o principal da empresa no Brasil, vai gerar 3.500 empregos diretos e outros 10.000 indiretos. Cerca de 60% das placas produzidas no Brasil serão irão para mercado norte-americano e o restante da produção será processada nas unidades alemãs da empresa.

Autora: Nádia Pontes

Revisão: Alexandre Schossler

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