Tire a roupa ou caia fora: cidade alemã protege nudistas
Publicado 26 de fevereiro de 2025Última atualização 27 de fevereiro de 2025
Conflitos em praias frequentadas por pelados adeptos do naturismo atormentam a administração de Rostock, no Mar Báltico, que reage com regras mais rígidas para garantir a paz entre banhistas.
Prática naturista, conhecida na Alemanha pela sigla FKK – "cultura do corpo livre" – é tradição centenária no paísFoto: Bernd Wüstneck/dpa/picture alliance
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Tire a roupa ou caia fora: é mais ou menos assim que a cidade alemã de Rostock, às margens do Mar Báltico, quer lidar com os frequentadores de praias nudistas que insistem em andar vestidos.
Cansadas dos conflitos entre banhistas, autoridades aprovaram regras mais rígidas para garantir a paz nas zonas de FKK, como Warnemünde e Markgrafenheide.
FKK é a sigla para o termo Freikörperkultur (cultura do corpo livre), a versão alemã do naturismo. A prática é especialmente cultuada nas regiões da antiga Alemanha Oriental.
"A estadia em praias de FKK é reservada exclusivamente a praticantes da cultura do corpo livre. Não é permitido banhar-se ou tomar sol em trajes", consta de texto aprovado pelo Conselho de Cidadãos de Rostock nesta quarta-feira (26/02).
Antes, a regra era de que esses espaços eram apenas "reservados" para naturistas, mas não havia menção explícita à nudez como critério obrigatório.
A mudança vale para 37 trechos de praia, somando 19 quilômetros da costa do Mar Báltico no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.
Fiscais vão reforçar cumprimento de regra
Moritz Naumann, do Escritório de Turismo de Rostock e Warnemünde, explicou à agência alemã de notícias DPA que a mudança permite aos guardas de praia agirem em caso de conflitos, removendo frequentadores que insistem em manter suas roupas.
A presença dos "outros" nesses ambientes teria incomodado os nudistas, que também se queixam de ter sido fotografados ou filmados por estranhos, sem consentimento.
ra/av (DPA, ots)
O movimento nudista alemão
Muitos alemães não veem nenhum problema em se despir na praia ou na sauna. O país tem uma longa tradição de movimentos nudistas. Confira um pouco da história alemã da Freikörperkultur, a cultura do corpo livre.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen
O "corpo livre"
É uma parte da cultura alemã, assim como a música techno e cerveja. Embora a prática do Freikörperkultur (FKK), que se traduz como "cultura do corpo livre", esteja diminuindo entre as gerações mais jovens de alemães, ainda há muitas áreas de FKK nas praias, bem como entusiastas da cultura nua em spas e até mesmo parques.
Foto: Imago/D. Matthes
Hobby saudável
No final do século 19, muitos alemães acreditavam ser saudável se despir e tomar banho "sem tecidos" em algum dos muitos lagos do país. Na época, pessoas buscavam sair das cidades poluídas para a natureza, em busca de uma boa saúde. Algumas pessoas também gostavam de fazer caminhadas ou fazer exercícios nus. Esta foto datada de 1933 mostra duas mulheres no Lago Chiemsee, na Baviera.
Foto: picture-alliance/IMAGNO/Christ
Cultura promovida no cinema
Cultivar a saúde através da livre circulação na natureza foi um ethos apresentado no filme "Maneiras de se Fortalecer e Embelezar", de 1925. Estrelado pela controversa atriz e cineasta alemã Leni Riefenstahl, foi um dos filmes educacionais mais populares da época no país. Ele contina cenas de exercícios físicos, como dança e banho.
Foto: Imago
Nudismo e os nazistas
Leni Riefenstahl tornou-se a cineasta favorita de Hitler e glorificou o físico atlético ariano em seu filme "Olympia", baseado nos Jogos Olímpicos de 1936, realizados em Berlim. Enquanto os nazistas inicialmente proibiram o nudismo, a natação nua foi novamente permitida em 1942, e praticada discretamente em áreas remotas. Muitos promotores do movimento FKK eram, no entanto, esquerdistas.
Foto: Criterion
Forte tradição na antiga RDA
Enquanto o nudismo na antiga Alemanha Oriental foi inicialmente promovido por vanguardistas nos anos 50, ele se popularizou e foi tolerado nos anos 70. Como a vida no país era tão rigorosamente controlada, o banho nu podia ser visto como uma liberdade rara - e as pessoas faziam pleno uso dela. Nesta foto de 1986, dezenas de nudistas no lago Müggelsee, nos subúrbios de Berlim Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Uhlema
Nudismo na costa do Báltico
O movimento nudista foi particularmente forte nas praias do Mar Báltico. Entretanto, a prática não se espalhou para o lado polonês. Após a adesão da Polônia à UE, ficou mais fácil caminhar de um país a outro pela praia, mas o nudismo foi uma causa de tensões entre as localidades de ambos os lados da fronteira germano-polonesa.
Foto: Imago/argum/C. Lehsten
Espírito nudista
Nesta praia em Leipzig, em 1980, os nudistas se reuniram num dia de calor. O espírito do nudismo é celebrar o corpo e estar livre de roupas. De acordo com os entusiastas da FKK, a prática não está ligada ao sexo; trata-se de se libertar das restrições sociais. E certamente é uma maneira de garantir que não se tenha marcas indesejáveis no bronzeado.
Foto: Imago/imagebroker
Jardim Inglês, em Munique
Embora a nudez pública em geral seja proibida em Munique, há várias áreas específicas onde ela é permitida, por exemplo no Jardim Inglês e ao longo do rio Isar, incluindo a área da praia Flaucher, um destino popular para nudistas, como mostra esta foto em um dia quente de 2002. Os locais costumam ser bem sinalizados, mas as pessoas que lá estão não gostam de ser vistas como atração turística.
Foto: Imago/K-P. Wolf
Num parque berlinense
A prática já não tem mais tanta força como décadas atrás, mas alguns parques ainda têm uma certa tradição de nudismo. Enquanto a nudez pública é ilegal, banhos de sol nus são tolerados em diferentes parques de Berlim, como o Mauerpark, Volkspark Friedrichshain (foto, de 1999) e Tiergarten - desde que não perturbem ninguém.
Foto: Imago/Lem
Paixão de milhões de alemães
Angela Merkel estava numa sauna na famosa noite em que caiu o Muro de Berlim, era seu ritual de quinta-feira. Os números mostram que cerca de 30 milhões de pessoas na Alemanha frequentam regularmente as 2.300 saunas do país. A maioria dos spas são abertos a ambos os sexos e exigem que os usuários não usem roupas. Mas estas saunas públicas são diferentes das chamadas saunas ou clubes de nudismo.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Nu na natureza
Pode não ser para todos, mas quem realmente quer entrar em contato com a natureza pode fazer uma caminhada ao ar livre sem roupas. Nas profundezas da região montanhosa de Harz, na Alemanha, há uma rota de caminhada de 18 quilômetros para pelados. Ela se estende de Dankerode até o reservatório de Wippertal. E uma dica importante: cuidado com as urtigas!