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Tocotronic é influência para muitas bandas alemãs

Mirja Annawald26 de abril de 2006

Há dez anos, o Tocotronic é uma das bandas mais famosas da Alemanha. Em entrevista exclusiva à DW-WORLD, o líder e cantor Dirk von Lowtzow fala sobre as mudanças na sua música desde a criação da banda.

Dirk von Lowtzow, o líder e cantor da banda alemã TocotronicFoto: picture-alliance/ dpa/dpaweb

O grupo é muito conhecido na Europa e nos Estados Unidos, onde já fez várias turnês, uma delas com a banda americana The Staff. O Tocotronic, que faz música em alemão, sempre teve e ainda tem uma grande influência sobre muitas bandas alemãs.

Hamburgo, 1993: Jan Mueller (baixo) e Arne Zank (bateria) formaram a banda, cujo nome veio do antecessor do jogo eletrônico Gameboy. Antes, os dois haviam tocado nas bandas punk Punkarsch (Traseiro Punk) e Meine Eltern (Meus Pais). O terceiro integrante do Tocotronic, o cantor Dirk von Lowtzow, se mudou de Freiburg para Hamburgo após a criação da banda.

Já depois de poucos shows a banda ficou conhecida, chamando a atenção também pelo jeito de se vestir (camisetas justas com slogans publicitários dos anos 70, calças boca-de-sino e cabelos longos na frente e curtos atrás).

"Na época, não era o visual comum dos estudantes e não havia lojas onde se pudesse comprar essas camisetas estranhas. As pescamos em brechós ou em mercados de pulgas. Achávamos engraçado usar quase um uniforme como conceito da banda", relata o cantor Dirk.

O conceito 'banda de rock'

No início, as letras e os nomes das músicas foram pichados em muros e riscados em carteiras escolares por toda a Alemanha. O fã-clube Megatronic já existia antes mesmo do lançamento do primeiro disco.

Desde 2005, o grupo tem um novo integrante: o guitarrista Rick McPhailFoto: presse

Em 1994, a banda lançou o primeiro EP pelo próprio selo Rock-o-tronic: quatro canções gravadas sem compromisso em um único take no estúdio de ensaio. A banda tomou o rumo mais simples e gravou o primeiro disco em duas horas, usando um gravador de fitas cassete. Ninguém se importou com o fato de que era quase impossível entender o que estava sendo cantado.

"Naquele tempo estávamos bem interessados no conceito 'banda de rock', com tudo o que isso significa. Achávamos o conceito mais interessante do que a qualidade da gravação. Tínhamos um grande interesse, por exemplo, no desenho da capa do álbum, que era mais importante do que a própria música", explica Dirk.

A gravadora L´Age D´Or assumiu a distribuição do CD e de camisetas da banda, que traziam a expressão 'Jugendbewegung' (movimento juvenil). Nessa época ocorreram também as primeiras turnês pela Alemanha, com mais duas bandas da L´Age D´Or, Blumfeld e Fünf Freunde.

Slogans e raiva

O álbum de estréia, Digital ist besser, foi lançado em 1995. Gravado em pouco tempo, é uma marca na história da música de underground na Alemanha. Sobretudo o uso de slogans nos títulos das músicas, como em Samstag ist Selbstmord (Sábado é Suicídio), chamou a atenção dos fãs.

A banda foi descoberta pelos intelectuais da música pop alemã, que viram no Tocotronic o surgimento de uma nova geração de bandas alemãs, e pelo público jovem, que se identificou com a raiva contida nas letras e gostou muito da melancolia sutil de canções como Letztes Jahr im Sommer (No ano passado, no verão) ou Die Idee ist gut, doch die Welt noch nicht bereit (A idéia é boa, mas o mundo ainda não está pronto).

No mesmo ano, a banda lançou o segundo álbum, com o título Nach der verlorenen Zeit (Depois do tempo perdido). Na canção Ich mag Dich einfach nicht mehr so (Eu só não gosto mais de você) se encontra o primeiro solo de guitarra da história da banda. Segundo o cantor Dirk, na verdade, a banda não sabia tocar direito naquela época.

Em 1996, L´Age D´Or lançou o terceiro disco, Wir kommen, um uns zu beschweren (Nós viemos para reclamar), que contém canções com só duas linhas de texto, como Ich möchte irgendetwas für Dich sein (Eu gostaria de ser algo para você). O tema das letras foi novamente a melancolia e a incerteza do amadurecimento.

Leia mais sobre o Tocotronic na página seguinte.

Também em 1996, a banda rejeitou no palco o prêmio Comet, concedido pelo canal de televisão alemão Viva. "A rejeição tinha motivos políticos. O prêmio foi concedido na categoria 'jovem, alemão e em ascensão'", explica Dirk. "Nesse ano, havia uma discussão sobre uma quota nas rádios para a música em língua alemã. Nós não estávamos interessados num prêmio nessa categoria. Por que não se chamou a categoria, por exemplo, de 'revelação de 1996'?"

O álbum Es ist egal, aber (Tanto faz, mas), de 1997, deixou a banda com a impressão de estar copiando a si mesma, o que levou a uma mudança nas letras do álbum K.O.O.K., de 1999. A mudança somente se concretizou no CD Tocotronic, de 2002.

Hoje, as letras parecem mais sérias e, às vezes, bastante poéticas, quase soturnas. Sobretudo no último disco, Pure Vernunft darf niemals siegen (A razão pura nunca pode vencer), de 2005. A banda também se ocupa muito de literatura. Dirk escreve para jornais como Texte zur Kunst (Textos para a Arte) e faz peças radiofônicas.

Desde o ano de 2005, a banda tem mais um integrante: Rick McPhail, dos Estados Unidos. Ele já tocava a segunda guitarra em vários shows do grupo.

Mudanças

Já há alguns anos, a banda está tentando se mover num nível metafórico. "No início, estávamos bem mais interessados numa descrição da vida cotidiana porque nessa época não havia muitas bandas na Alemanha que faziam uma música assim", explica Dirk. Na época do primeiro disco, muitas pessoas reagiram com surpresa às letras.

Mas, nos anos 90, muitas pessoas começaram a copiar esse estilo de escrever. Dirk: "Havia publicações sobre literatura pop, como por exemplo Neon, onde qualquer idiota escrevia sobre como é quando se está comprando Coca-Cola num supermercado. Isso nos levou a fazer coisas muito diferentes, que ficam bem longe da vida cotidiana."

O Tocotronic vai fazer vários shows em 2006Foto: AP

Também o jeito de se vestir mudou. Hoje, os membros do Tocotronic usam camisas e calças pretas nos shows. "Mudamos nosso visual porque havia uma publicidade para cigarros com jovens vestindo abrigos de ginástica, como nós. Isso é uma coisa da qual não gosto e da qual quero me distanciar, porque é totalmente corrompida e desmontada pelo marketing".

Sobre os fãs

Muitas pessoas dizem que os integrantes do Tocotronic, sobretudo o cantor Dirk, não gostam que o público grite os nomes dos membros da banda ou que façam muito barulho nos shows. Mas Dirk relativiza. "Não queremos estragar a diversão das pessoas que vêm para os nossos shows. Se quiséssemos silêncio, tocaríamos free jazz, ou algo assim. Gostamos quando as pessoas aproveitam o show e se divertem. Mas eu acho um pouco falso quando algumas bandas fazem grau com os fãs. Se vierem mais de 50 pessoas para um show, ninguém pode conhecer todas elas. Atuar como se fôssemos amigos de todo mundo, como se fôssemos tomar uma cerveja com os fãs depois do show, eu acho isso um pouco mentiroso".

Em janeiro de 2006 veio o disco The Best of Tocotronic, com os maiores sucessos e as primeiras gravações da banda. "Foi muito difícil selecionar as músicas para esse disco. Nós gostaríamos de ter incluído mais canções, mas cada disco é temporalmente limitado", explica Dirk.

O fato de o Tocotronic já ter lançado o seu "Best of" não significa que os integrantes queiram acabar com a banda. "Eu li várias vezes que isso seria o indício do fim. Essa é uma interpretação muito distante de nós. Já estamos compondo novas canções", garante Dirk.

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