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"Toda biblioteca alemã tem livros roubados por nazistas"

Heike Mund ca
9 de março de 2017

Há um ano, foi lançado um banco de dados com obras confiscadas pelo regime de Adolf Hitler. Em entrevista à DW, pesquisador berlinense fala sobre o trabalho de investigação: "Já conseguimos fazer várias restituições."

Livros roubados de judeus encontrados na Universidade Livre de BerlimFoto: DW/C. Neher

O pesquisador de proveniência Sebastian Finsterwalder pertence a uma equipe da Biblioteca Central e Estadual de Berlim que se ocupa intensamente da pesquisanos acervos da instituição. Alguns livros confiscados pelos nazistas ou saqueados de bibliotecas já puderam ser identificados e restituídos à maioria dos proprietários de origem judaica.

Já há um ano, os resultados dessa pesquisa sistemática de acervo têm sido coletados no banco de dados central Looted Cultural Assets (Patrimônio Cultural Saqueado). Ele pode ser acessado online em todo o mundo – com bons resultados, como afirma o pesquisador Sebastian Finsterwalder em entrevista à DW.

DW: Através do caso do colecionador Cornelius Gurlitt, a pesquisa de proveniência, que se ocupa principalmente da arte saqueada pelos nazistas, passou a chamar mais a atenção do público. Quais são os bens pesquisados?

Sebastian Finsterwalder: Livros são apenas um das muitas áreas de estudo. Há também a pesquisa de proveniência de instrumentos musicais, móveis, utensílios domésticos, carros. É um campo vasto, onde cada objeto tem sua própria história. No caso dos quadros, é algo especial, pois deixam rastros por meio de sua singularidade como exemplar único artístico.

Livros, por outro lado, são produzidos em grandes quantidades. Um único livro não me diz nada, quando não contém carimbo, autógrafos, números, ex-líbris etc. Ou seja, encontramos pistas e procuramos o proprietário da obra.

Há um ano, você iniciou com outros colegas uma cooperação inovadora entre bibliotecas públicas, a Looted Cultural Assets (Patrimônio Cultural Saqueado). Quais eram os seus objetivos?

Fizemos isso com o objetivo principal de trocar informações entre nós. Oficialmente, somos um grupo independente de pesquisadores de proveniência em seis bibliotecas, ou seja, não formamos um clube ou associação. Toda biblioteca na Alemanha e também na Áustria, que possui um acervo de livros antigos, tem obras roubadas pelos nazistas em suas coleções. E não são poucas.

Como funciona a busca de pistas? Anteriormente, não havia o risco de que vestígios pudessem ser destruídos através, por exemplo, da reencadernação para as bibliotecas?

Sim, isso aconteceu durante décadas e ainda continua a acontecer em muitas instituições. Na Biblioteca Central e Estadual de Berlim, treinamos os nossos encadernadores para isso. No entanto, eu sempre encontro livros onde uma página foi rasgada ou colou-se algo sobre um carimbo, ou onde coisas foram simplesmente apagadas. Durante muito tempo, houve uma tática deliberada de sublimação. Também não separamos mais os livros impressos antes de 1945, porque, em determinadas circunstâncias, pode levar muito tempo até que a sua origem seja esclarecida.

Como se constata, por exemplo, que um livro provém de uma biblioteca privada judaica e que ele foi roubado depois de 1933?

Livros são produzidos em grandes quantidades, em massa, e se tornam somente uma peça única quando um dono ou um posterior proprietário deixa ali a sua marca. Ou uma biblioteca deixa uma pista através de uma numeração clara ou assinatura. Não procuramos determinados livros roubados de alguém depois de 1933, mas observamos no nosso acervo e folheamos cada livro para ver se contém vestígios.

Como funciona essa sistematização? Após 1933, os nazistas saquearam ou proibiram muitas instituições culturais, roubando acervos – de sindicatos, associações judaicas ou bibliotecas comunitárias. Há uma busca direcionada?

Nós registramos tudo. Normalmente, funciona assim: acompanhados de uma câmera, fotografamos as prateleiras de livros o mais rápido possível. De qualquer forma, temos que avaliar centenas de milhares de volumes. É claro que, entre eles, encontramos obras de grupos perseguidos: livros de bibliotecas de partidos e sindicatos, temos um número relativamente grande de livros de lojas maçônicas, de conventos e comunidades judaicas.

Antes, os donos de bibliotecas particulares usavam frequentemente o ex-líbris em seus livros. Isso lhe ajuda na pesquisa de proveniência?

É sempre muito bom encontrar algo assim, já que, na maioria das vezes, eles são muito bem concebidos. Os ex-líbris são excelentes para a identificação de livros, principalmente quando são personalizados e contêm informações que vão além do nome da pessoa. Médicos usam desenhos de algum equipamento medicinal, químicos usam frascos e músicos, uma nota no canto esquerdo superior.

Temos aqui na Biblioteca Estadual uma coleção de ex-líbris com mais de 800 exemplares individuais. Ao longo dos anos, eles se separaram dos livros durante a restauração. Infelizmente, nunca se anotou de qual livro eles provêm. Esses ex-líbris também foram restituídos, ou seja, retornaram aos antigos proprietários. Nesse caso é apenas aquele pequeno papel, sem livro.

Como se encontra o antigo proprietário? Vocês recorrem também ao banco de dados Lost Art (Arte perdida), para que a busca também seja feita em outros países?

A forma de encontrar os membros de uma família varia muito de caso a caso. Ou são eles que nos acham. A ideia do nosso banco de dados é também que os nomes sejam listados na nossa página de internet. E já aconteceram inúmeras vezes que alguém tenha nos escrito: eu acessei esta página e lá está o nome do meu bisavô – o que significa isso? Foram realizadas muitas restituições, o que desde o início foi o nosso objetivo.

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