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Inação policial e privilégio branco na invasão do Capitólio

7 de janeiro de 2021

Apesar de violento, resultando em quatro mortes, ataque de adeptos de Trump ao Congresso não suscitou reação proporcional dos agentes da lei. Muitos se perguntam: e se os manifestantes fossem negros?

Homem tira selfie cercado por policiais de uniforme antimotim
Multidão que invadiu Capitólio era basicamente brancaFoto: Tasos Katopodis/Getty Images

Os desordeiros de Washington não tiveram êxito em sua tentativa de derrubar os resultados da eleição presidencial americana. Na manhã desta quinta-feira (07/01), deputados da Câmara dos Representantes e senadores certificaram a vitória de Joe Biden, abrindo formalmente o caminho para ele e Kamala Harris se tornarem os próximos presidente e vice-presidente dos Estados Unidos.

Mas o que aconteceu antes é que ficará na história como um dos dias mais sombrios para o país. Encorajada pelo presidente Donald Trump, uma multidão violenta, predominantemente branca, dominou a polícia do Capitólio e invadiu o prédio. Lá, agitaram bandeiras, pousaram para fotos no plenário do Senado e roubaram objetos de líderes como a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi.

A invasão à sede do Congresso americano terminou com quatro vítimas: uma mulher morta a tiros, e três outras pessoas por "emergências médicas", como confirmou o chefe do Departamento Metropolitano de Polícia da capital americana, Robert Contee, numa coletiva de imprensa.

Até as 21h30 da quarta-feira, haviam sido realizadas cerca de 52 prisões, a maioria sob a acusação de violar o toque de recolher das 18h00, decretado pela prefeita de Washington, Muriel Bowser.

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Nas horas seguintes aos distúrbios, diversos observadores começaram a contrastar o comportamento dos agentes da lei durante a arruaça com a forma como foram tratados os manifestantes do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) em meados de 2020.

Milhares de ativistas de diversas partes dos EUA tomaram as ruas após o afro-americano George Floyd ser morto por um policial branco em Minneapolis, em maio de 2020. Em Washington, os protestos se concentraram no que se tornou a Black Lives Matter Plaza, a pouca distância da Casa Branca.

A situação escalou em 1º de junho, quando policiais militarizados, armados de equipamento antimotim, usaram substâncias semelhantes a gás lacrimogêneo e força bruta para conter manifestantes pacíficos, a fim de que Trump pudesse caminhar até uma igreja vizinha para uma sessão fotográfica.

"Quando cidadãos negros protestamos por nossas vidas, somos confrontados com soldados da Guarda Nacional ou por polícia equipada com fuzis de assalto, gás lacrimogêneo e capacetes de batalha", diz um texto na página oficial do Black Lives Matter no Twitter. "Quando gente branca tenta um golpe, eles se deparam com um número insuficiente de agentes da lei, impotentes para intervir."

Políticos buscaram abrigo sob as cadeiras da sede do Legislativo dos EUAFoto: Andrew Harnik/AP/picture alliance

"Imagine se negros invadissem o Capitólio"

O autor e observador cultural afro-americano Melvin Edwards, que mora em Maryland, disse não estar surpreso com a forma como os eventos se desenrolaram na quarta-feira: "Certamente parece haver uma diferença no grau de força e na rapidez com que é aplicada a diferentes grupos", resumiu.

Segundo o autor de The eyes of Texans: From slavery to the Texas Capitol (Os olhos dos texanos: Da escravidão ao Capitólio do Texas), isso em parte se deve às "reações pré-determinadas da polícia, de que algumas pessoas são mais violentas do que outras". "Acho que se considera em geral, infelizmente até hoje, que negros do sexo masculino são mais perigosos do que os brancos."

A muitos causou raiva e incredulidade o fato de a polícia não ter detido um número significante dos arruaceiros, que violenta e ilegalmente invadiram um edifício federal, forçando políticos a se refugiarem em seus escritórios ou debaixo de escrivaninhas.

"O privilégio branco está violentamente invadindo o Capitólio dos EUA e simplesmente... sendo mandado de volta para casa", tuitou Chasten Buttigieg, marido do indicado de Biden para secretário de Transportes, Pete Buttigieg.

Diversos atletas e treinadores da associação nacional de basquete NBA – cujos membros têm se manifestado publicamente contra injustiças raciais – igualmente comentaram os eventos desta quarta-feira.

"Vocês podem imaginar se hoje esses fossem todos negros invadindo o Capitólio, o que teria acontecido?", indagou a repórteres Doc Rivers, treinador do Philadelphia 76ers, frisando que "nenhum cão policial foi atiçado, não houve cassetetes batendo nas pessoas", mas sim "gente sendo pacificamente escoltada para fora do Capitólio": "Então isso mostra que se pode dispersar pacificamente uma multidão. Mas é um dia triste, de muitas maneiras."

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