Sahar Khodayari corria o risco de passar seis meses na prisão por desafiar regra que proíbe a entrada de mulheres nos estádios de futebol do Irã. Diante de um tribunal religioso, ela decidiu atear fogo no próprio corpo.
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Uma iraniana que ateou fogo ao próprio corpo após ser processada por tentar entrar em um estádio de futebol morreu por causa das graves queimaduras, informou a imprensa do país nesta terça-feira (10/09).
Ela estava internada em um hospital desde que se autoimolou após despejar gasolina no seu corpo no dia 1º de setembro diante do Tribunal Revolucionário Islâmico de Teerã. O ato desesperado chocou muitos iranianos.
Sahar Khodayari tinha 29 anos e não queria ir para a cadeia, mas ela corria o risco de enfrentar até seis meses de prisão. Disfarçada de homem, ela tentou entrar num estádio. No entanto, a participação em jogos de futebol é proibida para mulheres e meninas no Irã.
Sahar era torcedora do clube Esteghlal Teerã. Os jogadores usam camisas azuis. Vestindo um longo casaco azul, no último dia 12 de março, ela quis entrar no estádio para assistir à partida do Esteghlal contra o clube al-Ain dos Emirados Árabes Unidos. Ela foi presa e libertada sob fiança alguns dias depois, aguardando seu julgamento em 1º de setembro.
Autoridades não querem "aborrecimentos"
"Ela não era apenas a 'Garota Azul'. Sahar era a garota de um país onde os homens decidem o que as mulheres fazem ou têm que fazer. Todos nós somos responsáveis por sua prisão e autoimolação", escreveu no Twitter Parvaneh Salahshouri, líder da bancada feminina no Parlamento iraniano. Nos últimos dias, parlamentares reformistas abordaram repetidamente o destino da "Garota Azul" no Parlamento em Teerã.
"Sua família foi alertada e não pode falar com a mídia", disse Maziyar Bahari, jornalista e cineasta iraniano-canadense em entrevista à DW. Bahari está em contato direto com a família de Sahar.
O cineasta afirmou: "Sahar morreu na sexta-feira e as autoridades de segurança a enterraram imediatamente, e elas disseram à família: 'Sua filha já nos causou problemas demais, não queremos escutar mais nada de vocês'. Os familiares foram duramente intimidados".
Tentativa de soluções e pressão internacional
O caso de Sahar Khodayari mexeu com a sociedade iraniana. A proibição de mulheres em estádios é justificada religiosamente e vem sendo, já há bastante tempo, uma questão delicada no Irã. Na opinião de clérigos conservadores iranianos, para as mulheres, é pecado "assistirem a homens seminus jogando".
Mas muitas mulheres não querem aceitar isso. Elas continuam protestando em frente aos estádios e recorreram várias vezes à Fifa. Na Copa do Mundo na Rússia em 2018, o Irã foi o único participante com a proibição de mulheres no próprio país.
A Fifa pediu ao Irã que suspendesse a proibição, caso contrário, a participação do país na Copa do Mundo de 2022 estaria comprometida. O presidente moderado Hassan Ruhani tentou várias vezes resolver o problema, pelo menos em parte, com uma tribuna extra para mulheres em vários estádios de Teerã. Até agora, no entanto, ele fracassou com esses planos devido à resistência dos clérigos.
Devido à pressão internacional, a presença de mulheres em partidas de futebol é possível somente por meio de licenças especiais.
Ira no Irã
O caso perturbou e irritou muitos iranianos. O ex-capitão da seleção nacional iraniana Masoud Shojaei publicou no Instagram: "A proibição de mulheres em estádios é nojenta e vem de cabeças preguiçosas".
Dariush Mostafavi, ex-presidente da Federação Iraniana de Futebol, disse em entrevista: "O amor ao futebol é um amor puro. O lema do Comitê Olímpico Nacional é a liberdade das pessoas. O que o mundo pensará de nós quando descobrirem o que aconteceu por aqui."
E é exatamente isso que as mulheres iranianas querem divulgar. Em suas contas do Twitter, elas escrevem em inglês sob a hashtag #BlueGirl e levam ao mundo a história da "Garota azul".
Ao longo da história, houve várias pioneiras, seja na ciência ou na luta pelo voto feminino e o direito à educação. Conheça algumas mulheres que se destacaram no seu tempo.
Foto: Hilary Jane Morgan/Design Pics/picture alliance
Primeira rainha-faraó
Após a morte de seu marido, o faraó Tutmés 2º, Hatschepsut assumiu o trono em 1479 a.C., como rainha-faraó tanto do Alto quanto do Baixo Egito. As duas décadas em que esteve no poder foram de paz e de prosperidade econômica. Seu sucessor, Tutmés 3º, no entanto, tentou apagar todos os vestígios da primeira rainha-faraó da história.
Foto: picture alliance/dpa/C.Hoffmann
Mártir francesa
Na Guerra dos Cem Anos entre Inglaterra e França, Joana d'Arc, uma filha de camponeses de 13 anos, teve uma visão. Santos pediram a ela que salvasse a França e trouxesse Carlos 7º ao trono. Em 1430, ela foi presa durante uma missão militar. No julgamento, em que virou heroína da França, foi condenada a morrer na fogueira. Mais tarde, seria reabilitada e, em 1920, canonizada por Bento 15.
Foto: Fotolia/Xavier29
Catarina, a Grande
Com um golpe audacioso, Catarina 2ª derrubou o odiado marido do trono e se proclamou imperatriz da Rússia. Ela provou sua capacidade de governar ao dominar todo o território russo e liderar campanhas militares até a Polônia e a Crimeia. Graças a isso, Catarina é a única governante do mundo com o epíteto "a Grande".
Foto: picture alliance/akg-images/Nemeth
Monarca perspicaz
Quando Elisabeth 1ª ascendeu ao trono britânico, ela assumiua supremacia sobre um país em revolta. Ela acabou conseguindo apaziguar a guerra religiosa entre católicos e protestantes, e trouxe uma era de prosperidade ao império britânico. A cultura viveu seu auge com Shakespeare e os navios britânicos derrotaram a armada espanhola.
Foto: public domain
Feminista radical
Em 1903, Emmeline Pankhurst (1858-1928) fundou o movimento feminista no Reino Unido. Na luta para que as mulheres pudessem votar, fez greve de fome, incendiou casas e foi condenada. Em 1918, conseguiu que mulheres a partir dos 30 anos pudessem votar. Morreu em 1928, ano em que começou a vigorar na Inglaterra o sufrágio universal para as mulheres.
Foto: picture alliance/akg-images
Revolucionária alemã
Num tempo em que as mulheres ainda não podiam votar, Rosa Luxemburg estava à frente do revolucionário movimento social-democrático alemão. Cofundadora do movimento de esquerda Liga Espartaquista e do Partido Comunista da Alemanha, tentou acelerar o fim da Primeira Guerra Mundial com greves em massa. Após a repressão da revolta espartaquista, em 1919, ela foi assassinada por militares alemães.
Foto: picture-alliance/akg-images
Grande pesquisadora
Marie Curie (1867-1934) foi uma das pioneiras na pesquisa da radioatividade, o que inclusive lhe rendeu um Nobel de Física, em 1903, mas também os sintomas da então ainda desconhecida doença provocada pela radiação. A descoberta dos elementos Rádio e Polônio lhe valeu o Nobel de Química em 1911. Após a morte do marido, Pierre, ela assumiu sua cátedra, tornando-se a primeira professora na Sorbonne.
Foto: picture alliance/Everett Collection
Diário revelador
"Sua Anne". Assim Anne Frank termina o diário que escreveu entre 1942 e 1944. Na última foto, a garota de 13 anos ainda sorri despreocupada. Dois meses mais tarde, em julho de 1942, ela se mudaria para o esconderijo em Amsterdã. Ali ela viveu na clandestinidade até ser deportada para Auschwitz, onde morreu em março de 1945. Seu diário é um dos mais importantes testemunhos do Holocausto.
Foto: Internationales Auschwitz Komitee
Primeira Nobel africana
"A primeira verde da África" escreveu um jornal alemão referindo-se a Wangari Maathai. Desde os anos 1970, ela se engajava tanto pelos direitos humanos quanto pela preservação do meio ambiente. Com a ONG Movimento Cinturão Verde ela plantou árvores para frear a desertificação. Em casa, no Quênia, ela muitas vezes foi ridicularizada. Mas, em 2004, seu trabalho foi coroado com o Prêmio Nobel da Paz.
Foto: picture-alliance/dpa
Símbolo do direito à educação
Ela tinha 11 anos em 2009 quando falou à imprensa sobre os horrores do Talibã no Paquistão. Quando sua escola para meninas foi fechada, ela lutou pelo direito à educação. Em 2012, sobreviveu a um atentado à bala. Já recuperada, escreveu a autobiografia "Eu sou Malala". Em 2014, com 17 anos, ganhou o Nobel da Paz por defender os direitos de meninas e mulheres.