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Torcedores criticam Bayern por parceria com o Catar

David Vorholt
25 de novembro de 2021

Grupo de torcedores do Bayern de Munique quer o fim do patrocínio da Qatar Airways. Eles não querem que o clube tenha relações com o Catar, acusado de violar os direitos humanos de trabalhadores estrangeiros.

Faixa estendida por torcedores do Bayern de Munique mostra dois dirigentes lavando roupas ensaguentadas e malotes de dinheiro do Catar
"Lavamos tudo por dinheiro". Faixa estendida por torcedores do próprio Bayern de Munique critica parceria com o CatarFoto: Sascha Walther/Eibner-Pressefoto/picture alliance

"Lavamos tudo por dinheiro." Essa frase estava estampada numa enorme faixa pendurada por torcedores do Bayern de Munique antes do jogo contra o Freiburg, disputado em Munique em 6 de novembro e válido pela 11ª rodada da Bundesliga.

Na faixa estavam ilustrados também o presidente-executivo da empresa que comanda a estrutura profissional (FC Bayern München AG), Oliver Kahn, e o presidente do clube social, Herbert Hainer – os dois lavando roupas sujas de sangue ao lado de uma máquina de lavar com a inscrição "FCB AG". Em sua mão esquerda, Kahn segurava uma mala cheia de dinheiro com a seguinte frase estampada: "Você pode confiar em nós".

Embora a controvérsia não seja recente, o protesto no jogo contra o Freiburg contra o patrocínio da companhia aérea estatal do Catar, a Qatar Airways, acabou por atingir uma nova dimensão pública. O próximo anfitrião da Copa do Mundo tem sido duramente criticado durante anos – especialmente na Europa – por violar e desrespeitar os direitos humanos.

E é justamente na Europa que o Catar tem se envolvido intensamente numa chamada "lavagem esportiva", na qual é usada a imagem positiva de clubes de futebol – como, por exemplo, a do multicampeão Bayern de Munique – por meio de acordos de patrocínio, costumeiramente chamados de "parcerias", para gerar uma imagem positiva para o país.

Os clubes, por sua vez, beneficiam-se das condições lucrativas dessas negociações. Se tudo correr bem nos gramados, os parceiros podem desfrutar, juntos, do glamour do sucesso internacional. Uma prática duvidosa, segundo Michael Ott, sócio do Bayern de Munique.

"Você não pode mais se orgulhar dos títulos quando sabe dos fardos e dos compromissos com os quais estes foram alcançados", diz o torcedor. "Se eu sei que esse dinheiro vem do Catar e está associado a graves violações dos direitos humanos, se é – de forma exagerada – dinheiro cheio de sangue, os títulos associados a ele são negativos e, em minha opinião, é preciso ter vergonha", avalia.

Ott é advogado e o rosto e a voz de parte da torcida que luta pelo fim do patrocínio da Qatar Airways. Ele formulou e submeteu o requerimento correspondente à próxima assembleia-geral anual do Bayern de Munique, agendada para esta quinta-feira (25/11).

Canteiros de obras da Copa de 2022 são palco de mortes e desrespeito de direitos de trabalhadores estrangeirosFoto: picture-alliance/dpa/XinHua/Nikku

A resistência à parceria com o Catar tem crescido continuamente nos últimos anos. Diante de uma série de revelações sobre as condições catastróficas de trabalho de operários oriundos de Nepal, Índia, Bangladesh ou Paquistão, que são privados de seus direitos nos canteiros dos estádios do Catar, a crescente crítica pública tem recebido apoio de um número significativo de torcedores do próprio Bayern de Munique.

Embora o anfitrião da Copa do Mundo de 2022 tenha repetidamente prometido melhorias, elas foram marginais ou afetaram apenas alguns "trabalhadores selecionados". De acordo com uma investigação do diário britânico The Guardian, mais de 6.500 operários morreram nos canteiros de obras do Catar até fevereiro de 2021.

Sucesso esportivo a qualquer preço?

O ex-presidente do conselho administrativo Karl-Heinz Rummenigge defendeu recentemente a parceria com o Catar e usou de argumentos esportivos. "O Bayern de Munique tem uma parceria com a Qatar Airways e recebemos um bom dinheiro com esse contrato", disse Rummenigge à emissora pública WDR. Dinheiro que é importante "para pagar os jogadores para que se tenha uma boa qualidade em campo", justificou.

"Não podemos sacrificar completamente nossos valores no altar do sucesso. Como podemos nos orgulhar de nossos títulos se os alcançamos com meios tão injustos?", rebate Ott.

As posições de ex e atuais dirigentes e de torcedores não poderiam ser mais distintas. Sob qualquer linha de argumentação, Ott se recusa a aceitar razões financeiras como justificativa para o patrocínio. "Recebemos do Catar apenas alguns milhões a mais do que poderíamos receber de um outro patrocinador", diz o líder do movimento de protesto, que acrescentou que não vê nenhuma vantagem significativa na comparação internacional.

"Você tem que se perguntar se isso realmente está nos criando competividade internacional. Eu duvido. Manchester City e PSG têm fontes financeiras ilimitadas – esses poucos milhões [do Catar para o Bayern] são uma gota no oceano", diz Ott.

CEO da Qatar Airways, Akbar al-Baker, e o membro do conselho de marketing do Bayern, Andreas Jung, em 2017 Foto: Getty Images/AFP

Rumos do futebol europeu

Esta tem sido a grande questão dos últimos anos no Bayern de Munique: deve-se aceitar qualquer negócio para angariar receitas e, dessa forma, ficar em pé de igualdade com os clubes endinheirados da Inglaterra ou da França, que são abastecidos de fontes financeiros quase infinitas de investidores do Oriente Médio, no cenário do futebol europeu?         

Ou, numa época em que os clubes de futebol se assemelham a outdoors de propaganda, adotar uma postura voltada aos valores do clube e aceitar um papel secundário na comparação internacional?

"Estamos dando um corte em nossa própria carne se optamos por parceiros como o Catar, que contornam as regras com o PSG de formas dúbias, em vez de tentarmos impor um fair play financeiro,", argumenta Ott. Igualdade de oportunidades por meio de diretrizes e regulamentações ou um jogo completamente desenfreado de investidores: a questão sobre os rumos do futebol europeu afeta também o Bayern de Munique.

Sem voz na assembleia-geral

A diretoria do Bayern de Munique ainda não anunciou se aprovou o pedido de Ott para que o fim da parceria seja debatido na assembleia-geral anual. Ott e seus colegas já tentaram obter a homologação do pedido na Justiça – sem sucesso. A Justiça de Munique rejeitou um pedido de liminar para que a diretoria fosse obrigada a fazê-lo.

Nada disso fará Ott desistir. Ele ainda considera apresentar um requerimento espontâneo durante a assembleia-geral anual, o que exigiria uma maioria de 75% dos membros presentes. "Isso reduz enormemente as chances de sucesso", diz.

Diante dessas dificuldades para debater um tema incômodo numa assembleia-geral, o líder do movimento desferiu um outro golpe verbal contra a liderança do Bayern de Munique. "Temos que nos perguntar que tipo de imagem os responsáveis no Bayern têm de si mesmos. O clube tem estruturas democráticas. Deveria ser uma obviedade que os requerimentos de sócios sejam tratados de maneira adequada e não combatidos com todos os meios possíveis, como num regime repressivo. Isso é uma vergonha", afirma.

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