TPI diz investigar possíveis crimes na guerra Israel-Hamas
30 de outubro de 2023
Em meio a preocupação internacional sobre situação de civis, Israel anunciou reabertura de mais um duto de água e permissão para entrada de ajuda humanitária em Gaza, que voltou a ter internet após apagão.
"Não deve haver nenhum impedimento a ajuda humanitária direcionada a civis. Eles são inocentes", reiterou em uma mensagem publicada no X, antigo Twitter.
Em meio à crescente pressão internacional, Israel anunciou que permitiria a entrada de mais ajuda humanitária no território nos próximos dias e a abertura de uma segunda linha de abastecimento de água que havia sido fechada no início do conflito.
Ao fazer o comunicado, um porta-voz militar do país negou, contudo, que haja escassez de comida e medicamentos, alegando que os suprimentos estão sendo controlados pelo Hamas.
Também no domingo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tendo ressaltado o direito de Israel à autodefesa de "maneira consistente com as leis internacionais humanitárias, priorizando a proteção de civis" e a necessidade de "aumentar imediatamente o fluxo de assistência humanitária para atender as necessidades de civis em Gaza".
Biden enviou uma mensagem semelhante ao Egito, opondo-se a um eventual deslocamento de palestinos, que preocupa o país.
Mais cedo, outro emissário da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que o fato de o Hamas usar civis como escudo humano "não diminui a responsabilidade [de Israel] perante a lei internacional de fazer tudo ao alcance deles para proteger civis".
À noite, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (braço da Cruz Vermelha) afirmou que suas equipes em Gaza receberam 24 caminhões em suprimentos pela passagem de Rafah. À agência de notícias Associated Press, um oficial egípcio informou que 33 veículos carregados de mantimentos adentraram o território.
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Brasil convoca nova reunião do Conselho de Segurança
Na última sexta-feira, em meio a relatos de deterioração da situação humanitária em Gaza, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou, por ampla maioria, uma resolução não-vinculativa em que pede uma "trégua humanitária imediata" para garantir a assistência de civis palestinos sitiados no enclave.
O gesto foi recebido com indignação pela diplomacia israelense, que criticou a ausência de uma condenação ao Hamas. Horas depois, Gaza ficou sem sinal de internet e telefonia – o sinal começou a ser reestabelecido neste domingo –, e militares ampliaram a investida contra o Hamas, expandindo as "operações terrestres" e inaugurando a "segunda fase" do que Netanyahu chamou de "guerra de independência" pela existência de Israel.
No domingo, militares teriam despejado panfletos sobre Gaza instruindo a civis sobre como "se render". "Líderes do Hamas estão te explorando", consta do texto em árabe. "Eles e suas famílias estão em locais seguros enquanto você morre em vão."
O Brasil, que preside o Conselho de Segurança da ONU até terça-feira (31/10), tenta negociar uma outra resolução – esta, com caráter vinculativo – para a crise em Gaza, convocando nova reunião de emergência do conselho para a tarde de segunda-feira, informou o colunista Jamil Chade, do UOL. Esforços anteriores nesse sentido foram vetados por Estados Unidos e Rússia.
Preocupação internacional com situação humanitária
Bombas têm sido lançadas sobre o enclave desde que Israel declarou guerra ao Hamas e impôs um rígido cerco em resposta aos atos terroristas de 7 de outubro, quando membros do grupo considerado terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e vários países ocidentais e que controla o território palestino massacraram cerca de 1.400 pessoas e sequestraram mais de 200.
Também Israel se encontra sob fogo constante desde então, mas tem conseguido interceptar boa parte dos ataques – que têm partido não só de Gaza, mas também da fronteira com o Líbano e a Síria.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) têm apelado a civis para que deixem "temporariamente" o norte de Gaza, local onde os militares têm concentrado suas operações. A inteligência isralense alega que o Hamas tem sabotado esses esforços, enquanto alguns moradores ignoram os apelos alegando não ter nenhum lugar seguro para se abrigar.
Parte buscou abrigo em hospitais, como o Al-Quds, cujas imediações foram bombardeadas neste domingo, segundo relatos. Equipes médicas permaneceram no local sob o argumento de não ter como transferir pacientes em situação delicada.
Israel diz que o Hamas se esconde atrás de infraestrutura civil e usa inocentes deliberadamente como escudo humano. O grupo mantém uma extensa rede de túneis no subsolo de Gaza e é acusado de desviar apoio humanitário à região em benefício próprio.
No lado palestino o conflito fez, até agora, segundo informações das autoridades em Gaza, mais de 8.000 vítimas – esses dados não podem ser verificados de forma independente.
Judeus e palestinos têm sofrido animosidades
Na Cisjordânia, veículos locais informam que tem havido confrontos entre judeus assentados e palestinos. Líder de ultradireita e ministro do Interior de Israel, Itamar Ben-Gvir tem acenado com armas gratuitas a israelenses que vivem na região e em áreas de fronteira.
Um israelense foi preso preventivamente pelas autoridades na noite de sábado, segundo o jornal Times of Israel, sob suspeita de cometer atentados contra palestinos.
Na Rússia, na região do Daguestão, a mídia local informou que o aeroporto de Makhachkala foi fechado por policiais após uma multidão tentar invadir um avião vindo de Tel Aviv enquanto proferia palavras de ordem com teor antissemita.
Três milhões de pessoas vivem no Daguestão, a maioria muçulmana, mas a região abriga cerca de 400 famílias judias, que agora cogitam se mudar.
ra/gb/rk (AP, Reuters, ots)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
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2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.