Trégua na Síria é marcada por acusações de violação
28 de fevereiro de 2016
Arábia Saudita e grupos da oposição dizem que Rússia e o regime de Assad atacaram rebeldes, apesar do acordo de cessar-fogo. Ataques do EI no norte do país deixam mais de 100 mortos.
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O acordo de cessar-fogo na Síria entrou no segundo dia neste domingo (28/02) sem grandes enfrentamentos entre as partes envolvidas. Os episódios de violência foram provocados pelo grupo "Estado Islâmico" (EI) e a Frente al-Nusra, ligada à al-Qaeda, que não foram incluídos nas negociações.
A Arábia Saudita, no entanto, acusou Assad e a Rússia de terem violado o acordo de cessar-fogo. Segundo o ministro do Exterior do país, Adel Jubeir, a Rússia mirou em grupos de "oposição moderada" neste fim de semana. "As coisas vão ficar mais claras nos próximos dias sobre se o regime e a Rússia são sérios ou não em relação ao cessar-fogo", disse.
Jubeir afirmou que o enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, está "em contato" com a Rússia e o regime de Assad para alcançar um acordo que limite ou dê fim às operações militares contra a oposição moderada síria e coloque o foco dos ataques apenas no EI e na Al-Nusra. A Arábia Saudita é um dos principais apoiadores dos rebeldes moderados sírios.
Segundo o Comitê de Altas Negociações (HNC), coalizão que reúne políticos e grupos armados de oposição sírios, foram registradas 15 violações feitas pelo regime e aliados no sábado, mas os rebeldes não revidaram.
"Temos violações aqui e ali, mas no geral está bem melhor do que antes e as pessoas estão confortáveis", afirmou o porta-voz do HNC, Salem al-Meslet.
O cessar-fogo impulsionado por Estados Unidos e Rússia e com a aprovação do regime de Bashar al-Assad e da comissão que representa membros da oposição entrou em vigor à meia-noite deste sábado.
"Se ele [cessar-fogo] continuar, vai criar as condições para o acesso completo, permanente e desimpedido de ajuda humanitária ao redor da Síria", afirmou Federica Mogherini, chefe da diplomacia da União Europeia (UE).
Ataques terroristas continuam
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, 180 pessoas foram mortas na Síria no primeiro dia de vigor do cessar-fogo, a maioria em ataques do EI na região norte do país.
Em Tel Abyad, cidade controlada pela milícia curda síria YPG na fronteira com a Turquia, 70 extremistas, 20 combatentes curdos e 10 civis morreram. Em outros pontos do país, cerca de 20 civis foram mortos em ataques e tiroteios.
Outros enfrentamentos entre forças do regime, rebeldes e jihadistas deixaram 50 combatentes mortos. Nas províncias de Aleppo e Hama, bombardeios aéreos foram feitos provavelmente por Moscou ou Damasco, informou o Observatório.
Segundo o chefe da organização, Rami Abdel Rahman, não está claro se o território está ou não coberto pelo acordo de cessar-fogo, porque diferentes grupos, incluindo a Al-Nusra, controlam diferentes setores nesta área.
KG/dpa/efe/afp
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.