Mercado de trabalho
28 de março de 2008Anúncio
Nora Neye (27) faz parte da chamada "geração de estagiários" na Alemanha – um clube ao qual ela não optou. Ela é uma das inúmeras pessoas de 20 a 30 anos com formação acadêmica, mas sem a sorte de ter encontrado um emprego em período integral. A opção que restou a essa geração foi aceitar uma série de estágios, geralmente não remunerados, na esperança de que um deles pudesse levar a um emprego fixo. No final, é comum o estagiário ir embora desapontado ou amargurado, e geralmente bem mais pobre. "Tirar um diploma e depois encontrar um trabalho adequado parece cada vez mais difícil", ela diz. "Se você não tiver feito um número razoável de estágios, não vai encontrar emprego." Novas diretrizes O ministro alemão do Trabalho, Olaf Scholz, quer acabar com a exploração dos estagiários. Ele pretende regulamentar o pagamento apropriado dos estagiários com formação universitária e a determinação de suas funções no início do trabalho, a fim de evitar que eles sejam explorados como mão-de-obra barata. "Estagiários são úteis, mas há um certo abuso. Temos que fazer algo contra isso", declarou Scholz à imprensa. O ministro social-democrata se remete a um estudo do Instituto Federal de Segurança e Saúde Ocupacionais (Baua) realizado com 2 mil jovens entre 18 e 34 anos sobre suas experiências de estágio. Embora todos tenham nível superior completo, 51% não foram remunerados como estagiários e 12% consideram insuficiente o pagamento recebido. A meta do Ministério, no entanto, não é acabar com os estágios ou impor um salário mínimo, mas apenas tomar medidas para que os estagiários obtenham um tratamento justo, já que este grupo tende a aumentar. Na faixa etária de 30 a 34 anos, 17% dos trabalhadores têm experiências de estágio; entre os jovens de 18 a 24 anos, a cota é de 25%. Novo modelo econômico? Tradicionalmente, os estágios eram vistos como uma forma de introduzir os jovens no mercado de trabalho. Para os recém-formados, eles funcionavam como uma ponte para um emprego fixo, especialmente porque os estagiários não são usados apenas para fazer café e fotocópias, mas assumem funções relevantes. "Eles têm uma formação sólida e o conhecimento necessário para assumir tarefas importantes", confirma Rene Rudolf, da Confederação Alemã dos Sindicatos (DGB). Bettina König, diretora da Fair Work, uma iniciativa para revalorizar os estágios, remete à estagnação da economia alemã em 2001, uma época em que os empregos eram raros e as empresas temiam contratar funcionários, ao mesmo tempo em que os recém-formados passaram a procurar estágios de baixa ou nenhuma remuneração, só para ganhar experiência e talvez conseguir aprimorar suas qualificações. "Mas mesmo agora, com o surto econômico, esse modelo se estabeleceu em diversas empresas", constata König. "Acho que isso só mudará com algum tipo de intervenção governamental." Excesso e falta de regulamentação Alguns políticos e grupos de empregadores são contra qualquer tipo de nova regulamentação por parte do governo. A ministra alemã da Educação, Annette Schavan, se opõe à criação de mais "regras burocráticas", questionando ao mesmo tempo a validade do estudo da Baua. O presidente da Confederação das Associações de Empregadores Alemães (BDA), Gerhard Braun, declarou ao Financial Times Deutschland que uma maior regulamentação e a estipulação de um piso salarial poderia levar as empresas a suspender seus programas de estágio. Por outro lado, há quem pense que as mudanças sugeridas pelo Ministério não sejam suficientes. O líder sindical Rene Rudolf, da DGB, quer estipular uma duração máxima de três meses, condições de pagamento e uma definição precisa do que é um estágio. A idéia é uma relação de aprendizado com a empresa, não uma mera relação de trabalho.
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