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Tremores ameaçam patrimônio cultural italiano

Stefan Dege (ca)1 de setembro de 2016

Após o sismo devastador no centro da Itália com quase 300 mortos, as autoridades se preocupam com o legado histórico do país e com os grandes danos em museus e igrejas. Até o Davi de Michelangelo está ameaçado.

Igreja de Santo Agostinho em Amatrice, antes e depois do terremoto
Igreja de Santo Agostinho em Amatrice, antes e depois do terremoto

Na sequência do tremor que abalou a Itália em 27 de agosto, historiadores da arte, arquitetos e restauradores seguiram-se às equipes de resgate na região central do país ameaçada por terremotos. O balanço feito por esses especialistas foi devastador: num raio de 20 quilômetros do epicentro do abalo sísmico, cerca de 290 edifícios de importância histórica desabaram ou sofreram danos, 50 deles graves.

Ao norte dali, a mundialmente famosa de estátua de Davi, de Michelangelo (1475-1564), ainda está firme em seu pedestal na Galleria Dell'Accademia de Florença. Mas por quanto tempo ainda?

Cecilie Hollberg dirige Galleria Dell'Accademia de Florença há um anoFoto: picture-alliance/dpa/W.Grubitzsch

Dois anos atrás, quando eclodiu uma série de tremores menores na região da cidade toscana, os especialistas soaram o alarme: a obra-prima do Renascimento ameaça estraçalhar-se, advertia um estudo. Microfissuras já existentes nas pernas poderiam se alastrar ainda mais. O ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini, prometeu 200 mil euros para a construção de um pedestal a prova de terremotos para a estátua de Davi, mas até hoje nada aconteceu.

A boa notícia é que atualmente a historiadora alemã da arte Cecilie Hollberg está cuidando do jovem desnudo. Ela dirige já há um ano a Galleria dell'Accademia com a maior coleção de pintura veneziana, do gótico até o rococó. Segundo Hollberg, depois do recente terremoto na Itália, o "Projeto Davi" está novamente em todas as bocas. Há necessidade de ação, mas os planos de restauro estão obsoletos e devem ser repensados de "cabeça fria", explicou a especialista à DW. "Se o prédio todo desabar, de pouco serve um Davi seguro!"

Graves danos em tesouros culturais

Em Amatrice foi atingida a Basílica de São Francisco, uma construção do século 14 com afrescos barrocos e valiosos murais. Bastante danificado, um deles traz a representação do Juízo Final. "Faltam palavras diante da devastação", comentou o historiador da arte Paolo Vescacci à emissora pública alemã ARD.

O museu da cidade foi completamente destruído. Ele abrigava um valioso acervo de arte sacra da Baixa Idade Média e do início do Renascimento. Em Archata, diz a mídia, a igreja medieval Della Santissima Annunziata ameaça desabar. Ali está pendurado um crucifixo policromático do século 13, uma das obras de arte sacra mais importantes da região.

Também periga desabar a Igreja da Santa Cruz de Pescara del Tronto, que remonta ao início do século 4°, sendo um dos templos católicos mais antigos da Itália. Em Castelluccio, na Úmbria, a torre da igreja românica ameaça desmoronar. Por motivos de segurança teve que ser fechada a catedral de Urbino, na região de Marcas: profundas rachaduras atravessam suas paredes externas.

Davi de Michelangelo pode ser destruído por novos tremoresFoto: APT Firenze

Solidariedade dos museus

No momento é muito difícil estimar os custos do terremoto, nem se sabe ainda de onde virá o dinheiro para a reconstrução de bens culturais danificados. Com pouco menos de 1% do orçamento estatal italiano, a pasta da Cultura é o ministério mais "pobre" do governo. Por esse motivo, o ministro Dario Franceschini aposta em doadores privados, como também na ajuda da União Europeia e da Unesco.

"E vai ser preciso mais apoio", salienta a diretora da Galleria dell'Accademia, Hollberg, "para o resgate, armazenamento e restauração dos bens culturais, e também para o trabalho de assessoria".

A pedido de Franceschini, os museus estatais italianos destinaram suas receitas do último domingo (28/08) para ajuda às vítimas do terremoto. Segundo dados de Roma, foram coletados 610 mil euros. A agência de notícias Ansa noticiou que os museus receberam mais que o dobro de visitantes de um fim de semana normal de agosto. "Foi um dia maravilhoso de solidariedade. Obrigado pelos muitos participantes", tuitou o ministro Franceschini.

Participaram da iniciativa museus e monumentos famosos, como a Galleria degli Uffizi em Florença, o Coliseu em Roma, as escavações de Pompeia e instituições regionais menores. Somente em Florença foram arrecadados 100 mil euros, calcula Cecilie Hollberg. Segundo a diretora, esse foi apenas o começo de uma grande onda de solidariedade.

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