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HistóriaAlemanha

História

Vinte anos após a queda do Muro de Berlim, exposição relembra trem que circulava pelo lado ocidental da cidade, mas pertencia à então Alemanha Oriental. Um meio de transporte que serviu também de instrumento de fuga.

Berliner Skyline zur blauen Stunde
Foto: claudecastor86 - Fotolia.com

Meinhard Schröder tinha 17 anos de idade quando fugiu do lado oriental para o ocidental de Berlim, onde vivia seu pai. Na Páscoa de 1960, o então estudante deixou a cidade de Schwerin, em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, junto com sua mãe, primeiramente rumo a Berlim Oriental. Ali, os dois pegaram um trem de circulação local (S-Bahn), em direção a Berlim Ocidental. Se tivessem sido controlados, teriam sido condenados a vários anos de prisão.

"Lembro quando veio o guarda de fronteira. Mostrei minha identidade e esperei que me chamassem para sair. Eu estava naturalmente com o rosto vermelho e suando em bicas. Ele só deu uma olhada e seguiu. Não sei como isso aconteceu", conta Meinhard, uma das testemunhas cujas lembranças pessoais contribuem para compor a exposição Mit der S-Bahn in den Westen (De trem, rumo ao Oeste).

Meinhard não foi o único a fugir da então Berlim Oriental, na RDA (República Democrática Alemanha), para o lado ocidental da cidade, pertencente à RFA (República Federal da Alemanha). Somente nas primeiras semanas do mês de agosto de 1961, nada menos que 1.500 refugiados deixaram a Alemanha Oriental em trens locais rumo à Ocidental.

Artéria urbana destruída

Claudia Rücker (esq.) e Andrea Szatmary, curadoras da exposiçãoFoto: Lydia Leipert

Isso aconteceu até que essa ligação entre os dois lados da cidade desaparecesse: no dia 13 de agosto de 1961, com a construção do Muro de Berlim, vários trechos de metrôs e trens locais na cidade foram paralisados e plataformas foram desmontadas ou bloqueadas. Nas estações de fronteira, foram instalados postos de controle.

Uma das principais artérias da cidade foi interrompida, explica Andrea Szatmary, uma das duas curadoras da atual exposição no Memorial Acampamento Marienfelde, em Berlim. Segundo ela, através da história do S-Bahn, é possível não apenas reconstruir a divisão da capital alemã, mas também compreender a ligação entre os dois lados da cidade.

"Você tem o Muro, que separa, mas também o trem, que liga", diz Szatmary ao descrever a estranha construção jurídica da malha ferroviária em tempos de Muro.

Os trens, ou seja, toda a rede ferroviária, pertenciam completamente à Alemanha Oriental; os Aliados ocidentais tinham apenas direito de uso. Isso provocava não apenas conflitos constantes, mas também relações de trabalho no mínimo curiosas. "Esse trem passava por Berlim Ocidental, mas era conduzido por funcionários da companhia ferroviária da Alemanha Oriental", diz Szatmary.

Bandeiras vermelhas e palavras de ordem

Mostra 'De trem, rumo ao oeste' lembra fugas pelo S-BahnFoto: Lydia Leipert

Esses funcionários moravam em Berlim Ocidental e eram pagos em moeda local, o marco alemão. No entanto, obtinham a formação profissional no lado oriental e exerciam suas profissões de acordo com a legislação trabalhista da Alemanha Oriental.

Não só por isso, o S-Bahn se tornou um problema constante entre os dois Estados alemães, mas também porque a Alemanha Oriental utilizava as estações ferroviárias e de metrô para distribuir jornais de propaganda em prol de seu governo e disseminar cartazes com dizeres pedindo, por exemplo, a saída dos norte-americanos da cidade.

No dia 1° de maio de cada ano, todos os trens do tipo S-Bahn circulavam com bandeiras da RDA e bandeiras vermelhas. "Esse S-Bahn era símbolo da Alemanha Oriental. A administração de Berlim e a central sindical berlinense conclamaram um boicote a esse trem e houve participação intensa da população", conta Szatmary.

Os lucros com as passagens iam diretamente para a RDA, o que não agradava muita gente. Por isso, pouco depois da construção do Muro, manifestantes bloquearam as estações de S-Bahn da cidade, destruíram vagões e xingaram funcionários da rede ferroviária. Apesar dos preços mais altos, muita gente passou a usar a rede de ônibus e metrô do lado ocidental de Berlim, a fim de evitar o S-Bahn.

Com a reunificação alemã, em 1990, o Muro desapareceu rapidamente das ruas da cidade. A rede ferroviária de trens locais, contudo, demorou anos para ser reativada. Somente a partir de 2006 é que os trens circulares do S-Bahn-Ring voltaram a funcionar normalmente.