Tribunal absolve Mubarak por morte de manifestantes
2 de março de 2017
Julgamento de ex-presidente egípcio é repetido pela segunda vez, após ele ter sido condenado à morte e depois inocentado. Antigo líder, deposto na Primavera Árabe, enfrenta agora somente uma pena de três anos de prisão.
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O mais alto tribunal de apelação egípcio absolveu nesta quinta-feira (02/03) o ex-presidente Hosni Mubarak de envolvimento nas mortes de 239 manifestantes durante a revolta de 2011, que pôs fim às três décadas no poder do ditador. A decisão é definitiva.
A corte rejeitou um recurso da acusação, que pediu a repetição do julgamento. O juiz Ahmed Abdelqauai assegurou que "não há necessidade de julgar Mubarak novamente, porque já há uma sentença definitiva neste caso".
"Este veredicto não é justo. O Judiciário é politizado", criticou Osman al-Hefnway, advogado das famílias das vítimas, que não compareceram ao tribunal.
O local estava lotado de apoiadores do ex-mandatário, que gritavam "vida longa para a justiça" e seguravam cartazes com fotos do antigo líder enquanto o veredicto era lido.
Esta foi a segunda repetição do julgamento, e não cabe mais apelação. Em 2012, um tribunal havia condenado Mubarak à prisão perpétua, e, dois anos depois, ele foi absolvido, e as acusações, arquivadas. O julgamento foi repetido devido a irregularidades no processo em que Mubarak foi inocentado.
O ex-presidente, de 88 anos, era acusado de incitar o assassinato de manifestantes durante a revolução que durou 18 dias e em que cerca de 850 pessoas foram mortas.
Mubarak foi o primeiro dos líderes depostos numa onda de revoltas no mundo árabe a ser julgado. Ele enfrentou uma avalanche de acusações, envolvendo desde corrupção à cumplicidade na morte dos manifestantes.
No momento, mantém-se contra Mubarak apenas uma condenação, de 2015, a três anos de prisão por apropriação ilegal de fundos públicos destinados aos gastos dos palácios presidenciais. Desde que foi detido, em 2011, o ex-mandatário passou a maior parte do tempo num hospital militar.
LPF/efe/lusa/rtr
As revoluções e suas músicas
Quer americana, francesa, russa ou árabe, por convicção ou obrigação, há séculos os compositores criam obras destinadas a apoiar ou comentar as revoluções. Mas também há espaço para vozes críticas.
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Melodias e ritmos revolucionários
Compositores de diversos países e épocas têm feito música inspirada por ideias e eventos revolucionários. A Revolução Francesa de 1789, em especial, deixou forte marca em numerosas peças musicais. Porém outros levantes também tiveram sua trilha sonora.
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Canto da independência americana
Até hoje, "Yankee Doodle" é uma das melodias populares mais conhecidas dos Estados Unidos. Ela era a canção dos revolucionários que almejavam se libertar da dominação britânica – coisa que alcançariam em 1776. Thomas Jefferson elaborou a Declaração de Independência, enfatizando a liberdade e igualdade de todos os seres humanos. E a Revolução Francesa abraçou essas ideias.
Músico de Napoleão
Etienne-Nicolas Méhul foi o compositor revolucionário por excelência. A ele Napoleão Bonaparte encomendou um hino famoso na virada do século 18 para o 19, "Le chant du départ" (O canto da partida). Porém o líder esnobou a "Missa solene" de Méhul para sua coroação como imperador. Ao compositor francês fica o mérito de ter inspirado Beethoven na "Quinta sinfonia", apelidada "Do Destino".
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Ópera de salvação
Também o italiano Luigi Cherubini foi contagiado pelo espírito da revolução. Em 1800 sua "ópera de salvação" "Os dois dias, ou O aguadeiro" fez sucesso estrondoso. Esse gênero operístico trata do resgate de uma personagem injustamente perseguida. Aqui, o vendedor de água salva um conde de pagar com a vida por suas ideias progressistas. O obra foi fonte de inspiração para "Fidelio" de Beethoven.
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Fascínio da "Eroica"
Em 1803 a "Sinfonia nº 3" de Beethoven, apelidada por ele "Eroica", rompia com todas as convenções do gênero. Mais longa e dramática do que qualquer obra até então, ela nasceu como verdadeira "música da revolução", em honra a Napoleão. No entanto Beethoven retirou a dedicatória quando o líder francês se fez coroar imperador – traindo, assim, os ideais de liberdade, igualdade, fraternidade.
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Homenagem à Revolução Russa
Sergei Prokofiev compôs em 1937 sua "Cantata pelo 20º aniversário da Revolução de Outubro". Além de um total de 500 instrumentistas e coristas, ela inclui tiros de canhão, metralhadora e sino de alarme. A bombástica obra sobre textos de Marx, Engels e Lenin caiu, no entanto, em desagrado com o ditador Stalin, só sendo estreada em 1966, em versão reduzida.
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Déspota humilhado
O poeta e libertário Lord Byron escreveu em 1814 uma "Ode" à abdicação de Napoleão, em que zombava do imperador. Em 1942, sob a impressão do domínio nazista, Arnold Schoenberg musicou o poema para recitante, piano e quarteto de cordas. Um crítico musical contemporâneo apontou paralelos entre Bonaparte e Hitler – que o compositor politicamente engajado não contradisse.
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Beatles, 1968 e "Revolution"
A primeira canção que os Beatles gravaram para o "álbum branco" foi "Revolution". John Lennon a compôs em 1968, durante uma estada na Índia, inspirado nos protestos estudantis de Paris, na Guerra do Vietnã e no atentado contra Martin Luther King. A "Revolução" dos Beatles, porém, é pacífica, sem tiros nem extremistas violentos.