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ConflitosIsrael

Tribunal da ONU ordena que Israel suspenda ofensiva em Rafah

24 de maio de 2024

A pedido da África do Sul, CIJ determina que passagem de Rafah permaneça aberta para ajuda humanitária e pede libertação de reféns do Hamas. Corte em Haia, porém, não tem como assegurar cumprimento de decisão.

Juízes da Corte Internacional de Justiça se preparam para considerar acusações da África do Sul contra Israel, em 16/05/2024
Juízes da Corte Internacional de Justiça se preparam para considerar acusações da África do Sul contra Israel, em 16/05/2024Foto: Nick Gammon/AFP/Getty Images

A Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou a Israel, nesta sexta-feira (24/05), que suspenda imediatamente as operações militares em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. A decisão decorre da petição apresentada pela África do Sul em dezembro, dois meses depois de Israel iniciar sua guerra contra o grupo extremista palestino Hamas, em reação aos ataques terroristas de 7 de outubro em seu território.

O órgão judiciário das Nações Unidas, sediado em Haia, Holanda, estipulou ainda que Israel deve manter aberta a passagem de Rafah, a fim de permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza sem restrições e garantir o acesso de qualquer comissão autorizada pela ONU a "investigar alegações de genocídio". Também vetou qualquer outra ação de Israel que possa ter como consequência o extermínio total ou parcial da população palestina, citando risco "plausível" de genocídio. A decisão foi aprovada por 13 votos a 2.

Esta é a terceira decisão cautelar da corte contra Israel derivada da ação sul-africana. Em janeiro, os juízes decidiram que Israel precisa fazer de tudo para assegurar a ajuda humanitária aos palestinos. Em março, o órgão voltou a reforçar a ordem.

Com o início da operação israelense em Rafah, no início de maio, a África do Sul voltou a apelar à CIJ. A cidade na fronteira com o Egito absorveu a maior parte dos refugiados nos primeiros meses da guerra e era até então porta de entrada da maior parte da ajuda humanitária. Com a chegada das tropas israelenses e o fechamento da fronteira, a situação humanitária se deteriorou e centenas de milhares tiveram que fugir.

Nesta sexta, logo em seguida ao pronunciamento do tribunal, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou uma reunião ministerial extraordinária para decidir como responder à CIJ.

Líder oposicionista Yair Lapid acusou CIJ de "falha moral abjeta"Foto: Ohad Zwigenberg/AP Photo/picture alliance

Caráter simbólico

Embora as decisões do órgão jurisdicional da ONU sejam juridicamente vinculativas, ele não dispõe de mecanismos de aplicação direta, e é improvável que Israel acate a atual ordem. Ainda assim, esta deverá aumentar a pressão internacional sobre o país cada vez mais isolado.

O líder oposicionista israelense Yair Lapid ridicularizou o pronunciamento de Haia: "O fato de a CIJ sequer ter conectado diretamente o fim da operação militar em Rafah à libertação dos reféns e ao direito de Israel se defender contra o terrorismo é uma falha moral abjeta."

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06:17

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Paralelamente à imposição a Israel, nesta sexta-feira a CIJ também apelou pela libertação imediata dos cidadãos aprisionados pelo Hamas em 7 de outubro, por considerar "profundamente preocupante que muitos desses reféns permaneçam em cativeiro", e reiterou "o apelo à sua libertação imediata e incondicional".

O apelo foi emitido apenas horas após as Forças Armadas israelenses anunciarem a recuperação dos corpos de três dos 252 reféns levados pelo grupo islamista, entre os quais o do israelo-brasileiro Michel Nisembaum.

O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres ressaltou nesta sexta que as ordens da CIJ são vinculantes.

"O secretário-geral lembra que, em conformidade com a Carta e o Estatuto da Corte, suas decisões são vinculantes, e confia que as partes cumpram devidamente a ordem", consta de comunicado divulgado pela ONU. Ainda segundo o pronunciamento, Guterres notificará "sem demora" o Conselho de Segurança sobre as "medidas cautelares".

Israel contesta decisão da CIJ

O gabinete do premiê Netanyahu afirmou em nota que as acusações sul-africanas são "falsas, ultrajantes e repugnantes". "Israel não realizou e não realizará uma campanha militar na área de Rafah que permite condições de habitação e que possa levar à destruição da população civil palestina, em sua totalidade ou em parte".

O ministro da Segurança de Israel, o ultradireitista Itamar Ben-Gvir, acusou a CIJ de ser "antissemita", e disse que a ofensiva em Rafah continuará "até que a vitória total seja atingida".

Benny Gantz, ministro do gabinete de guerra israelense, afirmou que "o Estado de Israel está comprometido a continuar lutando pelo retorno dos reféns e para garantir a segurança de seus cidadãos, onde e quando for necessário, inclusive em Rafah".

"Continuaremos a agir em acordo com as leis internacionais [...] ao mesmo tempo em que protegemos o máximo possível a população civil. Não em razão da CIJ, mas por causa de quem somos e dos valores que defendemos."

Na quinta-feira, o porta-voz do governo israelense, Avi Hyman, já sinalizara que ignoraria qualquer ordem da CIJ relativa à sua guerra contra os fundamentalistas palestinos, declarando: "Nenhum poder na Terra vai impedir Israel de proteger seus cidadãos e ir atrás do Hamas em Gaza."

O governo israelense tem alegado que é difícil evitar mortes de civis dada a alta densidade habitacional da Faixa de Gaza, e afirma que suspenderá as hostilidades quando o Hamas se entregar ou for derrotado. O grupo é considerado uma organização terrorista por diversos países do Ocidente e, por isso, Israel rejeita que seja o único responsável pela situação humanitária catastrófica dos civis palestinos ou que não faça o suficiente por eles.

av/ra/rc (AP,AFP,Lusa)