Tribunal de Hong Kong condena ativistas por protesto de 2019
1 de abril de 2021
Nove líderes do movimento pró-democracia são condenados por organizar manifestação contra lei que permitia extradição para China continental. Ex-parlamentares estão entre os réus.
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O movimento pró-democracia de Hong Kong sofreu um duro golpe nesta quinta-feira (01/04). Um tribunal local condenou nove ativistas por terem organizado e participado de uma manifestação pacífica em 2019. Na época, os manifestantes protestavam contra uma proposta de lei que permitira a extradição de cidadãos de Hong Kong para julgamentos criminais na China continental.
O julgamento durou quatro semanas e, nesta quinta-feira, sete réus foram declarados culpados pelo Tribunal Distrital de Hong Kong de organizar e participar de uma assembleia não autorizada. Outros dois haviam se declarado culpados previamente. Os ativistas podem pegar até 10 anos de prisão, embora suas sentenças – que serão anunciadas em data posterior – provavelmente serão mais brandas.
Entre os réus estão ex-deputados e o magnata da comunicação Jimmy Lai, fundador do jornal Apple Daily, tabloide crítico do governo. Lai foi preso em agosto depois que cerca de 200 policiais invadiram a redação do Apple Daily. Ele também foi acusado de conspiração com potências estrangeiras e colocar em risco a segurança nacional.
No banco dos réus, esteve ainda o proeminente advogado e ex-deputado Martin Lee, de 82 anos, considerado o pai da democracia de Hong Kong. Antes da transferência da antiga colônia britânica à China, em 1997, Lee foi um dos juristas escolhidos por Pequim para redigir a Lei Básica do território, uma miniconstituição que deveria vigorar durante 50 anos. Em um caso separado, Lee enfrenta acusações por supostas violações à segurança nacional.
Os réus restantes são as ex-legisladoras Margaret Ng e Cid Ho Sal-lan, o advogado Alberto Ho Chun-yan, e os ativistas veteranos Lee Cheuk-yan e Leung Kwok-hung. Os ex-deputados Au Nok-hin e Leung Yiu-chung são os dois ativistas que se declararam culpados previamente.
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"Vamos continuar a luta"
Pouco antes de entrar no tribunal, Lee Cheuk-yan relatou a repórteres sobre uma "situação difícil em Hong Kong" e classificou o processo como retaliação política. "Vamos continuar a luta", disse. Um pequeno grupo de manifestantes protestou em frente ao tribunal, reivindicando, entre outras questões, anistia aos participantes nas manifestações.
Na véspera da decisão judicial, o correspondente da DW em Taipei, William Yang, entrevistou Lee, que demonstrou manter seu posicionamento, apesar da ameaça de prisão. "Eles podem nos prender, mas não podem prender nosso espírito", disse Lee, que acrescentou que Hong Kong está se transformando numa China, mas que ainda há esperança.
"Estamos chegando muito perto do sistema da China, mas ainda não atingimos", disse. "Devemos nos ater ao espaço muito estreito que temos. Embora as coisas estejam ficando muito difíceis para as pessoas em Hong Kong e parece que tanto o sistema jurídico quanto o sistema político se parecem mas com os da China, acho que ainda temos uma sociedade civil muito forte e precisamos mantê-la."
Por fim, Lee convocou a comunidade internacional "a lutar pelos valores e por aquilo em que acredita, que não se comprometa em prol do retorno econômico". "Acho que pelo povo de Hong Kong continuaremos lutando, manteremos o espírito ativo e continuaremos acendendo velas para mostrar o caminho a ser seguido, mesmo em um túnel muito escuro. Esperamos que o mundo possa ver nossa luz e estar conosco", finalizou.
Lee é conhecido por ajudar a organizar as vigílias anuais à luz de velas realizadas em Hong Kong no aniversário da repressão violenta aos protestos pró-democracia ocorrida na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989.
Comício autorizado virou passeata proibida
Os ativistas foram considerados culpados por seu envolvimento num protesto realizado em 18 de agosto de 2019, quando cerca de 1,7 milhão de pessoas marcharam pelas ruas da cidade contra um projeto de lei que permitiria a extradição de suspeitos de crimes à China continental.
Na época, os organizadores da Frente de Direitos Humanos Civis receberam a permissão para realizar um comício no Parque Vitória, mas não a marcha, o que acabou por ocorrer quando as multidões se espalharam pelas ruas, ocupando as principais vias da cidade numa caminhada até os principais edifícios do governo. Diferentemente de muitos protestos em 2019, este permaneceu pacífico.
Os réus foram presos em abril de 2020 entre um grupo de 15 pessoas acusadas de organizar o comício e outros dois protestos. A ação das autoridades de Hong Kong gerou repreensão e condenação internacional, incluindo uma notificação formal das Nações Unidas.
pv/cn (lusa, ap, rtr, afp, ots)
Em 1997, Hong Kong era restituída à China
Duas décadas depois de Hong Kong retornar ao domínio chinês, predomina entre muitos moradores a insatisfação com a ingerência de Pequim e o desejo por mais democracia.
Foto: Reuters/D. Martinez
1997 - Devolução à China
Após 156 anos de domínio britânico, Hong Kong era devolvida à China exatamente à zero hora de 1º de julho de 1997. Soldados do Exército de Libertação Popular içaram a bandeira chinesa, em sinal de supremacia sobre a antiga colônia britânica. O contrato para a devolução já havia sido assinado em 1984.
Foto: Reuters/D. Martinez
1998 - Ameaça de crise econômica
A crise financeira asiática de 1997-98 levou economias emergentes a impor controles comerciais ou à compra de ativos para tranquilizar investidores. Hong Kong surpreendeu o mercado em agosto de 1998 com uma intervenção de 15 bilhões de dólares para se defender de ataques especulativos. Os apoiadores da iniciativa dizem que isso salvou a cidade.
Foto: Reuters/L. Chan
1999 - Reagrupamento de famílias
As esperanças de um rápido reagrupamento das famílias separadas pela fronteira foram logo destruídas. Embora a Suprema Corte de Hong Kong tivesse concedido amplos direitos de residência, o governo chinês derrubou a decisão a pedido do governo de Hong Kong. Na foto, mais de cem visitantes da China continental protestaram para obter permissão de residência imediata em Hong Kong.
Foto: Reuters/B. Yip
2000 - Sucesso com a bolha
Em fevereiro de 2000, investidores entraram numa fila diante do banco HSBC para comprar ações da empresa Tom.com. Ao se lançar na bolsa de valores, a empresa – que existia apenas na internet – do bilionário Li Ka-shing conseguiu angariar quase 100 milhões de dólares pouco antes de estourar a bolha "dot-com".
Foto: Reuters/B. Yip
2001 - Conflito com grupo espiritual
Seguidores do movimento espiritual Falun Gong protestam regularmente em Hong Kong desde que o grupo foi banido pela China em 1999, sob a acusação de divulgar superstições e manipular as pessoas psicologicamente. Em 2002, 16 seguidores foram condenados por causa de protestos diante da representação da China em Hong Kong. A Suprema Corte do território reverteu metade das sentenças.
Foto: Reuters/K. Cheung
2002 - Famílias desesperadas
A questão das autorizações de residência acirrou-se em 2002, quando Hong Kong começou a deportar 4 mil chineses continentais que haviam perdido batalhas legais para residir no território. Houve protestos dos solicitantes e de seus apoiadores. Na foto, parentes de migrantes chineses depois de terem sido expulsos de um parque no centro de Hong Kong.
Foto: Reuters/K. Cheung
2003 - Nas mãos de um vírus
A Sars, uma doença viral semelhante à gripe, atingiu Hong Kong de tal forma que, em março de 2003, a Organização Mundial da Saúde a declarou uma pandemia. Até a cidade ser considerada livre da doença, em junho, 299 pessoas morreram, entre elas Tse Yuen-man. A médica de 35 anos esteve entre os primeiros voluntários a cuidar de pacientes com Sars. Em seu funeral, ela recebeu as mais altas honras.
Foto: Reuters/B. Yip
2004 - Frustração com Pequim
Centenas de milhares de pessoas participaram de protestos no sétimo aniversário da devolução à China. Pequim descartou o sufrágio universal em Hong Kong em 2007 ou 2008 e continuou freando as reformas políticas. Além disso, a China decretou que o governo de Pequim precisa aprovar qualquer alteração no direito de voto em Hong Kong, o que praticamente elimina qualquer aspiração democrática.
Foto: Reuters/B. Yip
2005 - Violência em protestos
Reuniões da Organização Mundial do Comércio regularmente são alvos de protestos dos adversários da globalização. Em Hong Kong, no final de 2005, não foi diferente. A polícia usou canhões de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes.
Foto: Reuters/L. Jae-Won
2006 - Conflito com o Japão
A China e o Japão disputavam um grupo de ilhas desabitadas. Acreditava-se que perto delas houvesse reservas de petróleo e de gás. Em outubro, um barco com ativistas de um comitê para defender as ilhas Diaoyi e que tem base em Hong Kong se aproximou 20km da ilha principal até ser interceptado por um barco de patrulha japonês.
Foto: Reuters/P. Yeung
2007 - Preservar a história
Um píer da era colonial tornou-se pivô de nova polêmica. O governo queria removê-lo para recuperar terras e construir estradas. Ativistas furiosos que consideravam o píer um local histórico lutaram pela sua preservação. O embate atingiu seu ponto alto em agosto, quando a polícia removeu um acampamento de ativistas e pessoas em greve de fome que já durava três meses. Em 2008, o píer foi demolido.
Foto: Reuters/P. Yeung
2008 - Morar em gaiolas
Terrenos cada vez mais caros tornaram os aluguéis impagáveis para muitas pessoas em Hong Kong. Milhares de moradores passaram a viver em gaiolas, onde dispunham de cerca de 1,4 m2. Em geral, um cômodo tem oito dessas caixas de arame. Em 2017, estima-se que 200 mil pessoas vivam assim ou disponham de apenas uma cama em apartamentos divididos.
Foto: Reuters/V. Fraile
2009 - Contra o esquecimento
Moradores de Hong Kong vestidos de preto e branco fizeram uma vigília no 20º aniversário da violenta repressão aos manifestantes pró-democracia na Praça da Paz Celestial em Pequim em 1989. O Victoria Park, no centro de Hong Kong, transformou-se num mar de velas.
Foto: Reuters/A. Tam
2010 - Projetos indesejados
Crescia em Hong Kong a insatisfação devido à falta de democracia e o fato de o governo não ter de prestar contas. As raiva coletiva é descarregada em forma de protestos contra os planos do governo de construir um trajeto para trens de alta velocidade ligando Hong Kong ao continente. O projeto ferroviário, não implementado até hoje, previa a destruição de um vilarejo.
Foto: Reuters/B. Yip
2011 - Protestos com papel
Um controverso projeto de lei que eliminou o mecanismo de eleições suplementares para o Conselho Legislativo gerou vários dias de protestos em frente ao prédio do conselho. Centenas de manifestantes jogaram aviões de papel com mensagens políticas contra o prédio.
Foto: Reuters/B. Yip
2012 - Desafios da administração
Leung Chun-ying (à esquerda) presta juramento como chefe de governo da região administrativa especial, diante do então presidente chinês, Hu Jintao. Ele prometeu mais democracia e moradias mais acessíveis. Apesar de medidas de contenção, os preços continuaram subindo, e as reformas políticas ainda estão emperradas. Leung Chun-ying não concorreu a um novo mandato.
Foto: REUTERS/File Photo/B. Yip
2013 - Hong Kong no foco da imprensa
Quando começaram a ser publicadas notícias sobre Edward Snowden e segredos dos EUA, o especialista em TI estava em Hong Kong. Apesar de os Estados Unidos terem pedido sua extradição, Hong Kong deixou Snowden voar para Moscou, onde ele recebeu asilo político. Enquanto alguns veem em Snowden um denunciante corajoso, outros o consideram um traidor da pátria.
Foto: Reuters/B. Yip
2014 - Protestos de guarda-chuva
Durante dois meses, Hong Kong teve grandes manifestações pró-democracia. A exigência era a escolha completamente democrática do chefe de governo. A marca registrada dos protestos foram os guarda-chuvas usados pelos manifestantes para se proteger do spray de pimenta da polícia. As manifestações são vistas como o maior desafio à autoridade da China desde o movimento por mais democracia, em 1989.
Foto: Reuters/T. Siu
2015 - Liberdade de expressão no estádio
A partida de futebol entre China e Hong Kong pelas eliminatórias da Copa de 2018 foi palco de protestos. Torcedores de Hong Kong empunharam cartazes com os dizeres "Hong Kong não é China" enquanto era tocado o hino nacional chinês. Há muita tensão entre os dois lados desde os "protestos dos guarda-chuvas". O jogo acabou em 0 a 0.
Foto: Reuters/B. Yip
2016 - Até correr sangue
Novos protestos foram realizados em Hong Kong. Mais uma vez, a polícia usou spray de pimenta e cassetetes. A razão: as autoridades tentaram remover vendedores de rua ilegais num bairro operário. Foram as mais violentas batalhas de rua desde os protestos de 2014.
Foto: Reuters/B. Yip
2017 - O tempo passa
No parque memorial rei George 5º, um dos poucos parques onde ainda há uma ligação com o passado colonial, as raízes de uma figueira cobrem uma placa, 20 anos após a devolução de Hong Kong à China pelos britânicos.