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Crimes de Guerra

23 de novembro de 2010

Um novo museu dedicado aos Julgamentos de Nurembergue foi inaugurado nesta semana no mesmo local onde Hermann Göring, Rudolf Hess e outros líderes nazistas foram condenados por crimes de guerra e contra a humanidade.

A sala 600 ainda funciona como tribunalFoto: museen der stadt nürnberg

Sessenta a cinco anos após o início dos Julgamentos de Nurembergue, o local que testemunhou a condenação dos líderes nazistas por crimes de guerra foi transformado em museu, lembrando o momento histórico que fez com que o mundo inteiro fixasse os olhos sobre a cidade do estado da Baviera, no sul da Alemanha.

Benjamin Ferencz, ex-promotor norte-americano no tribunal de guerra e um dos poucos participantes dos processos ainda vivos retornou a Nurembergue aos 91 anos para discursar na cerimônia de abertura do novo museu, o Memorium Nürnberger Prozesse, realizada no dia do aniversário do primeiro julgamento de crimes de guerra da história.

"Quando deixei a Alemanha pela primeira vez após a Segunda Guerra Mundial, e deixei Nurembergue, o meu maior desgosto foi nunca ter ouvido um alemão dizer 'sinto muito'. Nunca acreditaria que retornaria depois de 60 anos e ouviria um tom completamente diferente em um mesmo país", afirmou, ao discursar.

Coletando evidências

Ferencz foi promotor-chefe, com apenas 27 anos, no julgamento de 22 nazistas em 1947, um dos 12 julgamentos posteriores à condenação dos principais criminosos de guerra. Após se formar em Harvard em 1943, ele imediatamente entrou no Exército dos EUA, coletando evidências de crimes nazistas nos campos da morte libertados pelos americanos, Buchenwald, Maulhausen e Dachau.

Dois bancos originais são parte da exposição, que exibe também filmes da épocaFoto: J.Hube

"Eu vi os crematórios com cadáveres entulhados do lado de fora e corpos queimando dentro. Vi a destruição de cidades alemães, de cidades francesas, de cidades britânicas... não sei se um dia viraremos essa página completamente. As pessoas sempre irão duvidar se é possível que seres humanos se comportem de forma tão desumana", observou Ferencz, ao discursar na mesma sala em que ele presidiu o julgamento em 1947.

Julgamentos justos

Durante a guerra, o ditador soviético Joseph Stalin pediu pela execução em massa de soldados alemães e líderes nazistas, quando a vitória estivesse consumada. Por seu turno, o Reino Unido, França e os EUA defenderam que os criminosos nazistas respondessem pelos seus crimes diante de um tribunal legalmente constituído. Foi essa insistência que levou ao Tribunal Militar Internacional, cuja primeira sessão foi inaugurada em 20 de novembro de 1945 na Sala 600 no Palácio de Justiça de Nurembergue.

Enquanto os líderes nazistas Adolf Hitler e Heinrich Himmler escaparam da Justiça cometendo suicídio, outros 21 líderes nazistas foram levados a julgamento em Nurembergue. Sob os olhares da mídia internacional, a cidade associada aos congressos do partido nazista renasceu como o lugar que abrigou o primeiro tribunal de crimes de guerra da história. Chamado de "o tribunal do século" pela imprensa, passaram-se 218 dias antes que os acusados ouvissem suas penas em 1° de outubro de 1946.

Embora Hermann Göring tenha escapado de sua sentença, se suicidando momentos antes de ser levado para a forca, o ministro do Exterior Joachim von Ribbentrop e o comandante das Forças Armadas, Wilhelm Keitel, foram enforcados na prisão de Nurembergue em outubro de 1946, juntamente com outros oito condenados.

O mesmo banco onde Hermann Göring e outros líderes nazistas sentavam ao serem condenados à morte agora é parte do acervo do novo museu, situado em uma área localizada sobre a Sala 600, a qual ainda é usada ativamente como tribunal, mas fica aberta à visitação em dias em que não há julgamentos.

Fim gradual da perseguição

A inauguração do museu, com a presença dos ministros do Exterior de Alemanha e Rússia, assim como de representantes dos Estados Unidos, França e Reino Unido, simboliza o fim gradual da perseguição judicial dos crimes de guerra nazistas, deixando que os livros de história julguem aqueles que possam ter escapado da Justiça.

Os acusados durante o julgamento em 1946Foto: picture-alliance / dpa

Neste mês, Michael Seifert, conhecido como o "açougueiro de Bolzano", morreu aos 86 anos em um hospital italiano depois de ser extraditado do Canadá para a Itália em 2008. Ele estava na prisão, cumprindo pena por assassinar 11 pessoas em um campo de prisioneiros em Bolzano. Seifert era um dos poucos criminosos de guerra nazistas que se sabiam ainda vivos. Poucas testemunhas daquele tempo permanecem, fazendo com que seja cada vez mais difícil para os tribunais continuarem o trabalho iniciado em Nurembergue no final da guerra.

O julgamento atualmente em andamento de John Demjanjuk, de 90 anos, acusado de participação no assassinato de 27 mil pessoas no campo de concentração de Sobibor, na Polônia, pode ser a última vez que um suspeito criminoso nazista senta no banco dos réus.

Precursor do TPI

Os Julgamentos de Nurembergue deixaram um legado que vai além do período nazista. Ao abrir o julgamento de 1946, o promotor-chefe Robert H. Jackson afirmou que "os erros que estamos para condenar e punir foram tão devastadores que a civilização não pode tolerar que eles sejam ignorados, porque não poderá sobreviver a uma repetição deles".

O Tribunal de Nurembergue pavimentou o caminho para a criação do Tribunal Penal Internacional (TPI), além de ter sido a primeira corte a estabelecer o precedente legal de crimes contra a humanidade.

Autora: Naomi Scherbel-Ball (md)
Revisão: Carlos Albuquerque

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