Tribunal de Kiev ordena prisão domiciliar de líder ortodoxo
2 de abril de 2023
Metropolita Pavlo, da Igreja Ortodoxa Ucraniana, é investigado por defender a Rússia e incitar o ódio inter-religioso. Clérigo é abade do Mosteiro das Cavernas e se nega a deixar o local após ordem do governo ucraniano.
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Um tribunal de Kiev decretou neste sábado (01/04) a prisão domiciliar do metropolita Pavlo, segundo informações da mídia ucraniana. A determinação vale por 60 dias e ele deverá ser monitorado por tornozeleira eletrônica. O clérigo é membro da Igreja Ortodoxa Ucraniana (IOU), ligada canonicamente ao Patriarcado de Moscou, e abade do Mosteiro das Cavernas, palco de um conflito religioso mais amplo que se desenrola em paralelo com a guerra.
A Procuradoria da Ucrânia está investigando Pavlo por justificar as ações da Rússia e por incitar o ódio religioso, devido aos seus ataques públicos à Igreja Ortodoxa da Ucrânia (IOdaU), canonicamente independente de Moscou.
Mais cedo, também no sábado, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) havia notificado Pavlo de que ele era suspeito de dois crimes: incitar inimizade inter-religiosa e justificar a agressão russa. O religioso de 61 anos nega as acusações e diz que elas têm motivação política.
"A lei e a responsabilidade por violá-la são as mesmas para todos, e uma batina não é garantia de intenções puras", disse o chefe da SBU, Vasyl Maliuk, em um comunicado, acusando a Rússia de usar a religião "para promover a propaganda e dividir a sociedade ucraniana".
O governo ucraniano lidera uma repressão à IOU por seus laços históricos com a Igreja Ortodoxa Russa, cujo líder, o patriarca Cirilo, é um leal apoiador do presidente russo, Vladimir Putin, e defensor da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Protestos pró e contra Pavlo ocorreram nas proximidades do mosteiro.
Monges se negam a deixar mosteiro
A decisão sobre a prisão domiciliar de Pavlo ocorreu três dias depois de o religioso, juntamente com cerca de 200 monges e 400 seminaristas da IOU, se recusarem a cumprir uma ordem do governo da Ucrânia de deixar o Mosteiro das Cavernas.
Os monges que usam a propriedade são da IOU. O mosteiro, porém, pertence ao governo ucraniano, que notificou a IOU no início deste mês sobre rescisão do contrato para o uso do local.
No entanto, o metropolita Pavlo e outros monges e padres ortodoxos que vivem no mosteiro disseram que não deixarão o local, enquanto aguardam o resultado de uma nova ação judicial que visa impedir o despejo.
O Mosteiro das Cavernas é, na verdade, uma espécie de complexo de mosteiros com cerca de 140 edifícios. Como nos tempos soviéticos, é de propriedade do Estado – e o governo ucraniano determina quem pode usá-lo. O ministro da Cultura da Ucrânia, Olexander Tkachenko, rescindiu o contrato de arrendamento com a IOU alegando que o clero teria erguido novos edifícios no local e reformado os já existentes, violando as regras estabelecidas.
No entanto, o motivo real seriam as suspeitas de que membros da IOU estariam trabalhando secretamente para a Rússia. A IOU acusa o governo ucraniano de perseguição religiosa. Enquanto a situação não se resolve, os monges seguem no local sagrado e celebrando missas, apesar da ordem do governo.
Acirramento das tensões
Os monges têm o apoio de numerosos fiéis, que fazem vigília no mosteiro. Por outro lado, protestos contra a IOU também se espalham pelo país.
A IOU tem sido historicamente um dos principais elos entre os ucranianos e a Rússia, que estaria usando a congregação para promover sua influência. Os serviços de inteligência ucranianos alegam que, em incursões no mosteiro no final do ano passado, encontraram materiais de propaganda russa. Desde o início da invasão, as autoridades ucranianas detiveram vários prelados da IOU sob a acusação de benzer o exército russo que está invadindo o país e de passar informações aos militares inimigos para ajudá-los em suas operações.
Neste domingo, na catedral de Khmelnytskyi, no oeste da Ucrânia, um padre da IOU agrediu um voluntário do exército ucraniano (que havia sido ferido na linha de frente), depois que o soldado repreendeu os presentes por manterem sua filiação com a igreja.
"Quantas pessoas mais terão que morrer para vocês pararem de ir à [igreja do] Patriarcado de Moscou?", teria gritado o soldado durante uma missa, conforme explicou o membro do conselho regional Viktor Burlyk em sua conta no Facebook, onde também postou um vídeo do momento do ataque.
O primaz da IOdaU Epifânio 1 acusou recentemente o metropolita Pavlo de "aterrorizar" seus monges. O major-general da reserva da SBU Viktor Yagun disse neste domingo que a IOU tenta provocar os fiéis ucranianos que se manifestam no Mosteiro das Cavernas com a intenção de produzir "um banho de sangue" para desacreditar a democracia ucraniana.
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Rompimento com o Patriarcado Russo
Em maio de 2022, a IOU rompeu com o patriarca russo Cirilo e a Igreja Ortodoxa Russa, em protesto contra o fervoroso apoio do líder religioso à guerra. A IOU reafirmou sua independência de Moscou, removendo a adição "Patriarcado de Moscou" de seu nome – até então, ela era referida como Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscou (IOU-PM). Em maio do ano passado, em um novo estatuto, a IOU descreveu-se como independente, mas não como autocéfala.
Muitos ucranianos duvidam da autenticidade da ruptura e pedem aos fiéis desta congregação, caso realmente queiram cortar todos os laços com Moscou, que se filiem à IOdaU.
Cumprindo um antigo desejo do movimento de independência da Ucrânia, Kiev criou em 2018 sua própria igreja ortodoxa autocéfala independente de Moscou, chamada de Igreja Ortodoxa da Ucrânia (IOdaU), que foi reconhecida em seguida, em Istambul, por Bartolomeu 1º, uma espécie de "pontífice honorário" dos 260 milhões de cristãos ortodoxos de todo o mundo.
le/gb (EFE, AP, AFP, DPA, Reuters)
Bakhmut: a "fortaleza do Donbass" na linha de frente da guerra
Antes da invasão russa, Bakhmut tinha 70 mil moradores. Intensos combates entre tropas russas e ucranianas causaram mortes e destruição na estratégica cidade do Donbass, mas nem todos os civis a abandonaram.
Foto: LIBKOS/AP Photo/picture alliance
A cidade antes da destruição
Esta foto, tirada na primavera europeia de 2022, mostra murais com o tema "Família e Crianças" em Bakhmut. Em maio, a linha de frente da guerra chegou à cidade, e os tiros e bombardeios aéreos começaram. Muitas casas foram seriamente danificadas.
Foto: JORGE SILVA/REUTERS
"Você se sente um sem-teto"
Blocos de apartamentos no leste de Bakhmut foram os primeiros a serem atingidos por ataques russos. Hoje, os bairros se assemelham aos da cidade portuária destruída de Mariupol. "Você se sente um sem-teto, perdemos tudo. Não há para onde voltar", disse uma moradora chamada, Halyna, retirada de Bakhmut e cuja casa foi totalmente destruída.
Foto: Aris Messinis/AFP/Getty Images
Escola em ruínas
Dois professores de Bakhmut se abraçam em frente às ruínas de sua escola. Ela foi bombardeada pelo exército russo em 24 de julho de 2022. O prédio ficou bastante danificado. Não houve mortos ou feridos no ataque.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Patrimônio cultural em pedaços
O bombardeio russo causou a destruição de muitos prédios históricos importantes em Bakhmut, incluindo o Palácio da Cultura, a antiga casa particular do comerciante Polyakov da década de 1880 e o antigo ginásio para meninas. Edifícios mais modernos, que já foram o "cartão de visitas" de Bakhmut, também foram destruídos.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Preparativos para a retirada
Oleksandr Hawrys faz os preparativos finais para transferir a esposa e dois filhos de Bakhmut para Kiev. Em 7 de março de 2023, menos de 4 mil pessoas ainda estavam na cidade, que antes da guerra tinha 73 mil habitantes.
Foto: Metin Aktas/AA/picture alliance
Só ficaram os solteiros e os mais fracos
Mais de 90% dos residentes deixaram Bachmut e arredores. Por meses, algumas lojas e uma farmácia ainda funcionaram durante momentos de trégua. Instituições de caridade e voluntários levaram ajuda humanitária aos moradores da cidade.
Foto: ANATOLII STEPANOV/AFP/Getty Images
Eles resistem, apesar de tudo
A grávida Olha e seu marido, Wlad, em 28 de janeiro de 2023 em frente a um abrigo antiaéreo em Bakhmut. O casal está entre os poucos civis que permaneceram na cidade, apesar dos violentos combates. Atualmente, para entrar em Backmut é preciso um passe especial.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Viver sob medo constante
A aposentada Valentyna Bondarenko, de 79 anos, olha pela janela de seu apartamento em Bakhmut, em agosto de 2022. Por causa dos bombardeios sem fim e do perigo constante, muitos moradores de Bakhmut permanecem em porões e abrigos de emergência por meses.
Foto: Daniel Carde/Zumapress/picture alliance
O dia a dia num porão
"Estamos acostumados aos zumbidos e explosões", disse Nina, de Bakhmut, à DW. Suas filhas foram "para a Europa", mas ela e o marido pretendem ficar enquanto o exército ucraniano estiver na cidade. Se a situação piorar, eles querem deixar a cidade "para não perturbar os militares quando o inimigo se esconder atrás das casas".
Foto: Oleksandra Indukhova/DW
Na fila pela ajuda humanitária
A situação humanitária na cidade piorou, principalmente nos últimos meses de 2022, depois da ofensiva das tropas russas de 1º de agosto. A rede elétrica foi danificada pelos ataques e bombardeios. O abastecimento de alimentos se tornou difícil, e a telefonia móvel entrou em colapso. Até voluntários foram atacados.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Batalhas de artilharia pesada
As principais batalhas por Bakhmut são travadas entre unidades de artilharia. Segundo estimativas militares, quase toda a gama de artilharia e morteiros fica nesta área. Bakhmut é fortemente atacada por unidades do exército privado russo Grupo Wagner. Os militares ucranianos continuam resistindo aos ataques.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Bandeira ucraniana de Bakhmut no Congresso dos EUA
Em 20 de dezembro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, visitou soldados ucranianos perto de Bakhmut. De lá, ele levou uma bandeira ucraniana, que deu à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, dois dias depois, durante sua visita ao Congresso dos Estados Unidos. A bandeira traz as assinaturas de soldados que defendem a soberania da Ucrânia nas linhas de frente.
Foto: Carolyn Kaster/AP Photo/picture alliance
Tratamento dos feridos em Bakhmut
As principais tarefas dos médicos militares no front são estabilizar os feridos, prevenir mortes por perda de sangue e choque e, em casos graves, garantir o transporte para hospitais de áreas mais seguras no interior do país.
Foto: Evgeniy Maloletka/AP Photo/picture alliance
Cidade está 80% em ruínas
A foto é dos últimos dias de dezembro de 2022. A fumaça sobe sobre as ruínas de casas nos arredores de Bakhmut. De acordo com as autoridades locais, em março de 2023 os violentos combates já haviam destruído mais de 80% da área habitacional da cidade.
Foto: Libkos/AP/picture alliance
Destruição registrada por satélite
Uma imagem de satélite divulgada pela Maxar em 4 de janeiro de 2023 mostra a extensão da destruição em Bakhmut. "A cidade tem sido o centro de intensos combates entre as forças russas e ucranianas nos últimos meses, e as imagens mostram danos significativos em prédios e infraestrutura", informou a empresa aeroespacial.
Foto: Maxar Technologies/picture alliance/AP
Cidade-fantasma
Esta foto de 13 de fevereiro de 2023, tirada por um drone da agência de notícias AP, mostra a extensão da destruição causada pelos combates. Fileiras inteiras de casas foram destruídas, apenas as paredes externas e as fachadas danificadas ainda estão de pé. Telhados, tetos e pisos desmoronaram, e a neve se acumula dentro das ruínas.
Foto: AP Photo/picture alliance
"Fortaleza Bakhmut"
Um soldado ucraniano diante de uma pichação no centro da cidade que diz "Bakhmut ama a Ucrânia". Embora a liderança política e militar da Ucrânia tenha decidido continuar defendendo o lugar, a Otan não descarta que Bakhmut possa cair, embora isso não signifique necessariamente uma virada na guerra.