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ReligiãoVaticano

Tribunal do Vaticano condena cardeal acusado de fraude

16 de dezembro de 2023

Em julgamento histórico, cardeal Becciu foi sentenciado a 5 anos de prisão por envolvimento na compra superfaturada de um edifício e desvio de fundos da Igreja.

Julgamento de Angelo Becciu
Angelo Becciu é o membro de mais alta posição na hierarquia da Igreja Católica a ser julgado pelo tribunal civil do VaticanoFoto: Vatican Media/AFP

O Tribunal Penal do Vaticano condenou neste sábado (16/12) em primeira instância o cardeal italiano Angelo Becciu a cinco anos e meio de prisão, após um julgamento histórico relacionado com operações financeiras fraudulentas da Santa Sé.

O cardeal, de 75 anos, outrora um dos mais influentes do Vaticano, também foi multado em 8.000 euros (R$ 42.900). "Respeitamos o veredito, mas certamente entraremos com recurso", declarou o advogado do réu, Fabio Vignone.

O procurador havia pedido sete anos e três meses de prisão para o cardeal e uma multa de mais de 10.000 euros.

Ex-assessor próximo do papa Francisco, o cardeal Becciu é o membro de mais alta posição na hierarquia da Igreja Católica a ser julgado por esse tribunal do Vaticano, a Justiça civil da Cidade-Estado. O julgamento demorou dois anos e meio e teve 86 audiências.

No centro do caso está a compra superfaturada, por 350 milhões de euros (R$ 810,1 milhões), de um edifício de luxo em Londres entre 2014 e 2018, no âmbito dos investimentos da Santa Sé, que dispõe de um vasto patrimônio imobiliário.

Desde sua eleição em 2013, o papa Francisco vem tentando sanear as operações da Igreja. O pontífice argentino também reformou o sistema judicial para que bispos e cardeais possam ser julgados em tribunais laicos, e não apenas em instâncias religiosas.

O procurador Alessandro Diddi pediu penas de prisão que vão de quase quatro anos a até mais de 13 anos, além de sanções financeiras, contra Becciu e outros noves réus por fraude, desvio de fundos, abuso de poder, lavagem de dinheiro, corrupção e extorsão.

Das dez pessoas processadas, uma foi absolvida; outras duas, condenadas a pagarem uma multa; e outra, a uma pena de prisão sob sursis de um ano e meio. A pena mais dura, de sete anos e meio de prisão e multa de 10.000 euros, foi para Fabrizio Tirabassi, um ex-funcionário da Secretaria de Estado acusado de receber subornos.

A Justiça também considerou o cardeal Becciu culpado de canalizar 125 mil euros a uma cooperativa administrada por seu irmãoFoto: Guglielmo Mangiapane/REUTERS

Corrupção

Ex-número dois da Secretaria de Estado, principal órgão do governo central da Santa Sé, no centro desta transação, o cardeal Becciu mantém seu título, mas foi destituído de todas as suas funções em setembro de 2020. O cardeal, nascido na Sardenha, alega inocência e garantiu que "nunca roubou um centavo". Também disse ter sido vítima de um "linchamento midiático".

O tribunal explicou que considerou Becciu culpado de malversação porque ele ordenou o pagamento de um total de 200,5 milhões de dólares entre 2013 e 2014, oriundos dos fundos da Secretaria de Estado, para um fundo de investimento "altamente especulativo" liderado por Raffaele Mincione. Este último também foi condenado, com uma sentença de cinco anos e meio de prisão e multa de 8.000 euros.

A Justiça também considerou o cardeal culpado de canalizar 125 mil euros a uma cooperativa administrada por seu irmão, assim como por ter pago outros 570 mil euros a um intermediário pela libertação de uma freira refém na África. O valor, na verdade, nunca foi usado para esse fim.

O tribunal ordenou ainda o confisco de bens no valor de 166 milhões de euros (R$ 894,8 milhões) dos condenados, bem como o pagamento de 200 milhões de euros (cerca de R$ 1 bilhão) em indenizações às partes civis, quatro instituições do Vaticano.

Ao final das 86 audiências deste processo conhecido como o "do imóvel de Londres", os debates trouxeram à luz a falta de transparência de algumas operações financeiras da Santa Sé, com revelações sobre escutas telefônicas e procedimentos opacos por meio de uma série de intermediários.

jps (AFP, ots)