Tribunal considera Aurora Dourada uma organização criminosa
7 de outubro de 2020
Membros de partido neonazista grego foram considerados culpados de violência contra migrantes e assassinato de ativista de esquerda. Grupo chegou a ter 3ª maior bancada do Parlamento durante crise nos anos 2010.
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O partido neonazista Aurora Dourada, que chegou a ser o terceiro maior no Parlamento grego, foi considerado nesta quarta-feira (07/10) uma organização criminosa pelo Tribunal Penal de Atenas no âmbito de uma ação que envolve um assassinato e duas tentativas de homicídio. A sentença histórica foi anunciada após cinco anos de julgamento.
Ao final do procedimento, a Justiça grega declarou o fundador e líder do partido, Nikos Michaloliakos, de 62 anos, culpado de "comandar uma organização criminosa".
A sentença começou a ser lida às 11h30 (5h30 em Brasília) e foi recebida com gritos e aplausos de mais de 15 mil pessoas que aguardavam a decisão em frente ao tribunal, com faixas onde se liam frases como "Eles não são inocentes" ou "O fascismo não é uma opinião, é um crime".
Os 68 réus do caso incluíam 18 ex-deputados do partido, fundado na década de 1980, originalmente como uma organização neonazista. Em 2012, o grupo saiu da obscuridade durante a grave crise financeira que afetou o país, chegando a conquistar até 7% dos votos e elegendo duas dezenas de deputados. Em 2015, conseguiu eleger a terceira maior bancada do Parlamento. No entanto, em 2019, o partido já não mostrava a mesma força, e não conseguiu eleger nenhum deputado, em meio à pressão gerada pelo julgamento de seus membros.
A decisão judicial desta quarta-feira baseia-se concretamente em quatro casos: o assassinato do rapper e ativista de esquerda Pavlos Fyssas, ataques a migrantes, atentados contra ativistas de esquerda e qual era a natureza do partido.
Entre os 68 réus, estavam sete líderes do partido, que foram todos considerados culpados de liderar uma organização criminosa. Outros foram considerados culpados de participar de uma organização criminosa. Um réu, Yorgos Roupakias, um alto membro da organização, admitiu que estava por atrás do assassinato de Fyssas. Ele pode ser sentenciado à prisão perpétua. Já outros líderes do partido arriscam pelo menos 15 anos de prisão.
Decisão histórica
A decisão foi considerada histórica na Grécia e pelo movimento antifascista, já que o tribunal entendeu que os crimes cometidos foram cometidos sob a proteção e as ordens da liderança da Aurora Dourada, que operava mais como uma gangue do que como partido político.
Fyssas, de 34 anos, foi esfaqueado até à morte na noite de 18 de setembro de 2013, em frente a um café do bairro de Keratsini, um subúrbio de Atenas.
Outros crimes abordados pelo tribunal incluíam ainda a acusação de que membros do partido estavam por trás da tentativa de assassinato de Abouzid Embarak, um pescador egípcio em 2012. No ano passado, dois membros do partido já haviam sido condenados pelo assassinato de um migrante paquistanês em 2013.
Esses e outros crimes levaram o Ministério Público grego a investigar se o partido operava como um grupo paramilitar, com ordens transmitidas pela liderança a organizações de bairro e a gangues que realizaram ataques violentos a migrantes.
Apenas 11 dos 68 acusados estiveram presentes no tribunal. Nenhum dos ex-deputados do Aurora Dourada compareceu.
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"Não há espaço para o fascismo nas nossas vidas"
Pela manhã, milhares de pessoas reuniram-se em frente ao tribunal de Atenas para aguardar a sentença. Na multidão, alguns tocavam músicas de Pavlos Fyssas.
No entanto, a manifestação não foi livre de violência. Quando algumas centenas de manifestantes autonomeados antifascistas lançaram coquetéis molotov, a polícia respondeu com gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral jatos de água para dispersar a multidão. Cerca de 2 mil policiais haviam sido deslocados para reforçar a segurança em volta do tribunal.
Os principais partidos políticos gregos estiveram presentes na manifestação, incluindo uma representação do partido no poder, Nova Democracia (conservador), e líderes do principal partido da oposição, a coligação de extrema esquerda Syriza.
"A guerra contra a violência e o ódio é constante", disse o secretário do Comitê Político do Nova Democracia, Giorgos Stergiou, lembrando que foi sob um governo do seu partido que começou o processo contra o Aurora Dourada.
"Hoje as vítimas e a sociedade recebem justiça", referiu o líder do partido Kinal, de centro-esquerda, Fofi Gennimata. "Estamos aqui porque não há espaço para o fascismo nas nossas vidas", acrescentou.
A ONG Anistia Internacional, que participou e ajudou a organizar uma rede para registar a violência racista na Grécia, também aplaudiu a sentença, sublinhando que a decisão vai aumentar os esforços daqueles que tentam processar judicialmente os crimes de ódio.
"As acusações contra líderes e membros do Aurora Dourada, incluindo a do assassinato de Pavlos Fyssas, mostram o início do desmoronamento [destas organizações] não apenas na Grécia, mas em toda a Europa", afirmou o diretor europeu da Anistia Internacional, Nils Muiznieks.
O Aurora Dourada nega qualquer ligação direta com os ataques e descreveu o julgamento e as acusações contra a liderança do partido como uma "conspiração sem precedentes", com o objetivo de conter o aumento da sua popularidade.
JPS/lusa/ap/ots
Memoriais do Terror Nazista
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, diversos memoriais foram inaugurados na Alemanha para homenagear as vítimas do conflito e os perseguidos e mortos pelo regime nazista.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de concentração de Dachau
Um dos primeiros campos de concentração criados durante o regime nazista foi o de Dachau. Poucas semanas depois de Hitler chegar ao poder, os primeiros prisioneiros já foram levados para o local, que serviu como modelo para os futuros campos do Reich. Apesar de não ter sido concebido como campo de extermínio, em nenhum outro lugar foram assassinados tantos dissidentes políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Reichsparteitagsgelände
A antiga área de desfiles do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, denominada "Reichsparteitagsgelände", foi de 1933 até o início da Segunda Guerra palco de passeatas e outros eventos de propaganda do regime nazista, reunindo até 200 mil participantes. Lá está atualmente instalado um centro de documentação.
Foto: picture-alliance/Daniel Karmann
Casa da Conferência de Wannsee
A Vila Marlier, localizada às margens do lago Wannsee, em Berlim, foi um dos centros de planejamento do Holocausto. Lá reuniram-se, em 20 de janeiro de 1942, 15 membros do governo do "Terceiro Reich" e da organização paramilitar SS (Schutzstaffel) para discutir detalhes do genocídio dos judeus. Em 1992, o Memorial da Conferência de Wannsee foi inaugurado na vila.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de Bergen-Belsen
De início, a instalação na Baixa Saxônia servia como campo de prisioneiros de guerra. Nos últimos anos do conflito, eram geralmente enviados para Bergen-Belsen os doentes de outros campos. A maioria ou foi assassinada ou morreu em decorrência das enfermidades. Uma das 50 mil vitimas foi a jovem judia Anne Frank, que ficou mundialmente conhecida com a publicação póstuma do seu diário.
Foto: picture alliance/Klaus Nowottnick
Memorial da Resistência Alemã
No complexo de edifícios Bendlerblock, em Berlim, planejou-se um atentado fracassado contra Adolf Hitler. O grupo de resistência, formado por oficiais sob comando do coronel Claus von Stauffenberg, falhou na tentativa de assassinar o ditador em 20 de julho de 1944. Parte dos conspiradores foi fuzilada no mesmo dia, no próprio Bendlerblock. Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência Alemã.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruínas da Igreja de São Nicolau
Como parte da Operação Gomorra, aviões americanos e britânicos realizaram uma série de bombardeios contra a estrategicamente importante Hamburgo. A Igreja de São Nicolau, no centro da cidade portuária, servia aos pilotos como ponto de orientação e foi fortemente danificada nos ataques. Depois de 1945 não foi reconstruída, e suas ruínas foram dedicadas às vítimas da guerra aérea na Europa.
Foto: picture-alliance/dpa
Sanatório Hadamar
A partir de 1941, portadores de doenças psiquiátricas e deficiências eram levados para o sanatório de Hadamar, em Hessen. Considerados "indignos de viver" pelos nazistas, quase 15 mil – de um total de 70 mil em todo o país – foram mortos ali com injeções de veneno ou com gás. O atual memorial engloba a antiga instituição da morte e o cemitério contíguo, onde estão enterradas algumas das vítimas.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento de Seelow
A Batalha de Seelow deu início à ofensiva do Exército Vermelho contra Berlim, em abril de 1945. No maior combate em solo alemão, cerca de 100 mil soldados das Wehrmacht enfrentaram o Exército soviético, dez vezes maior. Após a derrota alemã, em 19 de abril o caminho para Berlim estava aberto. Já em 27 de novembro de 1945 era inaugurado o monumento nas colinas de Seelow, em Brandemburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial do Holocausto
O Memorial ao Holocausto em Berlim foi inaugurado em 2005, em memória aos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Europa. Não muito distante do Bundestag (parlamento), 2.711 estelas de cimento de tamanhos diferentes formam um labirinto por onde os visitantes podem caminhar livremente. Uma exposição subterrânea complementa o complexo do Memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento aos Homossexuais Perseguidos
De formas inspiradas no Memorial do Holocausto e próximo a ele, o monumento aos homossexuais perseguidos pelo nazismo foi inaugurado em 27 de maio de 2008, no parque berlinense Tiergarten. Uma abertura envidraçada permite ao visitante vislumbrar o interior do monumento, onde um vídeo infinito mostra casais de homens e de mulheres que se beijam.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Monumento aos Sintos e Roma Assassinados
O mais recente memorial central foi inaugurado em Berlim em 2012. Em frente ao Reichstag, um jardim lembra o assassinato de 500 mil ciganos durante o regime nazista. No centro de uma fonte de pedra negra, está uma estela triangular: ela evoca a forma do distintivo que os prisioneiros ciganos dos campos de concentração traziam em seus uniformes.
Foto: picture-alliance/dpa
'Pedras de Tropeçar'
Na década de 1990, o artista alemão Gunter Demnig começou um projeto de revisão do Holocausto: diante das antigas residências das vítimas, ele aplica placas de metal onde estão gravados seus nomes e as circunstâncias das mortes. Há mais de 45 mil dessas "Stolpersteine" (pedras de tropeçar) na Alemanha e em 17 outros países europeus, formando o maior memorial descentralizado às vítimas do nazismo.