Tribunal prorroga processo sobre Brumadinho na Alemanha
25 de janeiro de 2022
Corte adia veredicto após ampliar ação movida por familiares de vítima e pelo município de Brumadinho para inclusão de mais 1.163 afetados. Eles reivindicam 440 milhões de euros em indenizações da certificadora TÜV Süd.
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Um processo civil num tribunal na Alemanha contra a empresa alemã de inspeções e certificação TÜV Süd pelo rompimento da barragem de Brumadinho deve ser ampliado em milhões de euros em pedidos de indenização, fazendo com que a duração do julgamento seja prorrogada.
O tribunal em Munique, sul da Alemanha, cancelou nesta terça-feira (25/01) a data prevista para uma primeira decisão, que deveria ser anunciada no dia 1º de fevereiro, e determinou a retomada da fase de audiências após ampliar a ação movida por sete moradores do município de Brumadinho para a inclusão de mais 1.163 afetados.
A ação civil representava apenas seis familiares de uma das vítimas da tragédia e o município de Brumadinho. Agora, o processo incluirá um total de 1.170 afetados pelo rompimento da barragem, que pedem indenização à TÜV Süd.
Segundo o advogado Jan Eric Spangenberg, envolvido na prorrogação do processo, as vítimas, incluindo sobreviventes e parentes dos mortos na tragédia, reivindicam 440 milhões de euros em indenizações.
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Empresa emitiu certificados
A subsidiária da TÜV Süd no Brasil era a empresa contratada pela Vale para avaliar e certificar a segurança da barragem de Brumadinho, entre outras. Em junho e setembro de 2018, poucos meses antes da tragédia, a empresa emitiu certificados atestando que a barragem de Brumadinho era estável.
Após o rompimento da estrutura, que provocou o maior acidente industrial da história do Brasil em número de vidas perdidas, investigações conduzidas por diversos órgãos reuniram indícios de que funcionários da TÜV Süd teriam conhecimento de problemas graves na barragem, mas atestaram a sua segurança apesar disso.
Documentos levantados pela Polícia Federal, pelo Ministério Público brasileiro e por uma Comissão Parlamentar de Inquérito apontaram que funcionários da TÜV Süd estavam cientes do baixo nível de segurança da barragem, mas sofriam pressão da Vale para emitir a certificação.
A TÜV Süd afirma que os atestados de estabilidade da barragem foram emitidos em conformidade com as normas brasileiras vigentes à época e que seus funcionários recomendaram à Vale melhorias de segurança. A empresa alemã diz não ter responsabilidade legal pela tragédia.
Além dessa ação civil, há pelo menos duas outras frentes jurídicas na Alemanha buscando a responsabilização da TÜV Süd pelo rompimento da barragem em Brumadinho. Uma outra ação civil representa 183 familiares de vítimas e foi apresentada pelo advogado brasileiro Maximiliano Garcez em conjunto com os advogados alemães Ruediger Helm e Ulrich von Jeinsen. Além disso, um inquérito criminal conduzido pelo Ministério Público de Munique investiga se a TÜV Süd e dois funcionários alemães da empresa cometeram corrupção, negligência e homicídio culposo.
md/lf (EPD, DPA)
Brumadinho, um ano depois da tragédia
Um ano após o desastre, as consequências da calamidade ainda são visíveis na região.
Foto: DW/N. Pontes
Buscas na lama
Um ano após o desastre causado pelo rompimento da barragem B1 na mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, as buscas por onze vítimas prosseguem. Das 259 identificadas, 123 eram empregadas diretas, 117 eram terceirizadas e 19 eram moradores da região. O acesso à chamada "zona quente" está vetado a jornalistas, sob alegação de que há riscos durante a temporada de chuvas.
Foto: DW/N. Pontes
Rejeitos removidos
Dos 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos armazenados na barragem B1, 10 milhões escorreram ao longo de 10 quilômetros após o colapso. Após passar por vistoria dos bombeiros, que buscam partes de corpos, os rejeitos voltam a ser de responsabilidade da Vale, que recebeu autorização para armazenar o material na cava da mina Córrego do Feijão.
Foto: DW/N. Pontes
Contenção dos danos
Apesar das estruturas de contenção, como a estação no Ribeirão Ferro-Carvão (foto), rejeitos continuaram escorrendo até o Rio Paraopeba. Andressa de Oliveira Lanchotti, promotora do Ministério Público, informou que 330 mil metros cúbicos de rejeitos podem ter vazado, e que novas obras devem conter o vazamento no período chuvoso.
Foto: DW/N. Pontes
Rio Paraopeba
A Fundação SOS Mata Atlântica fez uma nova avaliação sobre a qualidade da água nas bacias dos rios Paraopeba e Alto São Francisco. A conclusão, após análise do material coletado em 21 pontos ao longo de 356 quilômetros do Paraopeba, é que a água continua imprópria por toda a extensão percorrida, com presença elevada de metais como ferro, manganês e cobre.
Foto: DW/N. Pontes
Bairro fantasma
Eurico Gonçalves, 72 anos, viúvo, é um dos poucos que ficaram após a tragédia no bairro Parque da Cachoeira, zona rural de Brumadinho. Morador no local desde 2004, ele não teve sua casa diretamente atingida. “Se eu pudesse, venderia meu sítio também e iria embora. Não temos mais alegria, e a terra desvalorizou demais”, diz. Ele pede reparação à Vale na Justiça.
Foto: DW/N. Pontes
Atendimento aos desabrigados
Atualmente, 100 famílias desabrigadas vivem em casas alugadas pela mineradora. A Vale repassou R$ 2,8 bilhões em indenizações até agora, incluindo os 106 mil salários a moradores de Brumadinho, como ajuda emergencial. No terceiro trimestre de 2019, a mineradora teve um lucro líquido de R$ 6,5 bilhões.
Foto: DW/N. Pontes
Planejamento das operações
O planejamento das ações em Brumadinho acontece também na sede dos bombeiros em Belo Horizonte. Segundo o tenente Constantino (foto), as equipes vistoriaram 95% da área atingida, equivalente a sete quilômetros quadrados, a uma profundidade de três metros. Das 270 vítimas, duas eram mulheres grávidas.
Foto: DW/N. Pontes
Protesto e justiça
Cartazes e mensagens em muros deixados em vários locais da cidade pedem justiça e a condenação da Vale. Andre Rhouglas (foto), morador de Ponte Nova, município atingido pelo desastre da Samarco, em Mariana, em 2015, viajou a Brumadinho para protestar. Um amigo dele está entre as vítimas que ainda não foram encontradas sob os rejeitos da B1.