Tribunal responsabiliza governo e operadora por Fukushima
10 de outubro de 2017
Corte distrital aplica multa milionária a Tóquio e companhia que opera usina nuclear por danos causados por tragédia em 2011. Decisão é resultado da maior ação coletiva relacionada ao acidente.
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Um tribunal distrital de Fukushima responsabilizou nesta terça-feira (10/10) a operadora Tokyo Electric Power Company (Tepco) e o governo japonês pelos danos causados pela tripla fusão na usina nuclear de Fukushima Daiichi, na sequência de um tsunami, em 2011.
O governo e a operadora da usina nuclear foram condenados a pagar 500 milhões de ienes (cerca de 4,44 milhões de dólares) aos residentes de Fukushima, que exigiam compensação por seus meios de subsistência perdidos.
Um grupo de 3.800 residentes apresentou uma ação coletiva – o maior caso relacionado ao desastre nuclear de 2011. Cerca de 30 queixas semelhantes envolvendo um total de 12 mil pessoas foram apresentadas em todo o país.
O tribunal de Fukushima determinou que o governo falhou ao não exigir que a Tepco melhorasse as medidas de segurança na planta da usina, apesar de ter conhecimento, ao menos desde 2002, de que a área corria risco de ser atingida por um tsunami. Tanto o governo quanto a Tepco argumentaram que a avaliação de 2002 não era conclusiva e que não poderiam ter previsto o tsunami.
A catástrofe de Fukushima
01:06
A decisão desta terça-feira é a segunda em que o governo japonês é responsabilizado pelo desastre de Fukushima. A primeira foi anunciada em março deste ano, pelo tribunal distrital de Maebashi. Este também é o terceiro veredicto contrário à Tokyo Electric Power Company.
Os requerentes no caso analisado pelo tribunal de Fukushima também pleitearam que o governo e a operadora da planta nuclear façam com que a radioatividade em suas casas retorne aos níveis anteriores ao desastre, mas o tribunal negou o pedido.
A Tepco é criticada há tempos por ignorar a ameaça representada por desastres naturais para a usina nuclear de Fuskushima, assim como o governo japonês pela maneira como lidou com a crise.
Em março de 2011, um sismo de magnitude 9,0 na escala de Richter e p tsunami que veio apos ele deixaram 15.895 mortos e 2.561 desaparecidos e desencadearam o desastre na central nuclear de Fukushima, onde três dos seis reatores entraram em fusão. Foi o pior acidente nuclear desde o de Chernobyl, em 1986, na antiga União Soviética.
PV/lusa/ap/dpa/rtr
Fukushima, o desastre sem fim
Após preocupantes dados sobre a radiação no local do acidente nuclear de 2011, governo do Japão interfere para controlar a situação na usina danificada. Contribuintes japoneses terão de arcar com custos milionários.
Foto: picture alliance/dpa
Governo como gestor da crise
O governo do primeiro-ministro Shinzo Abe quer demonstrar capacidade de ação. Tóquio passou a atuar diretamente conter os estragos na usina de Fukushima, depois que notícias divulgaram que os níveis de radiação na área da central nuclear avariada após o terremoto de 2011 seriam muito mais elevados do que se considerava até então.
Foto: Reuters
Ônus milionário para contribuintes
O governo japonês pretende disponibilizar o equivalente a 360 milhões de euros (R$ 1,1 bilhão) para a segurança das instalações. A verba será aplicada na contenção de vazamentos para evitar que água contaminada com radiação siga escoando. Um dos planos prevê a construção de um muro protetor de terra congelada em torno dos reatores, com quase 1,5 quilômetro de extensão.
Foto: Reuters/Kyodo
Mensagem do chefe de governo
"O mundo está nos observando para ver se conseguimos realizar a desativação da usina nuclear de Fukushima", declarou o premiê japonês Shinzo Abe em 3 de setembro de 2013. O governo anunciou sua intervenção na crise de Fukushima com grande efeito midiático, poucos dias antes da decisão sobre o local dos Jogos Olímpicos de 2020. Tóquio ficou entre as finalistas.
Foto: Reuters
Números dramáticos
A radiação medida num dos tanques de água, no terreno da ruína atômica, chegou a 2.200 milisievert por hora. Em 03.09, falava-se em 1.800 Sv/hora no mesmo local – uma dose a que um ser humano só consegue sobreviver por quatro horas.
Foto: Reuters/Tokyo Electric Power Co
Tepco continua alvo de críticas
A companhia de energia Tepco foi duramente criticada após a catástrofe nuclear de 2011 por sua gestão ineficaz da tragédia. Agora, a operadora de Fukushima é acusada de seguir tentando ocultar a extensão do desastre, só divulgando gradativamente ao público os dados relevantes.
Foto: Reuters/Issei Kato
Volumes incontroláveis de água
Após o terremoto e o tsunami no litoral japonês, ocorreu a fusão do núcleo de alguns reatores de Fukushima. Desde então bombeia-se água ininterruptamente para esfriá-los. O líquido contaminado é armazenado em tanques, aguardando tratamento que permitirá sua reutilização no resfriamento. O problema é que, diariamente, água dos lençóis freáticos entra nos recipientes, misturando-se com a radioativa.
Foto: Reuters/Kyodo
Recipientes permeáveis
Os tanques em que a água radioativa é coletada têm apresentado problemas recorrentes. A maior parte deles é construída com placas de aço aparafusadas. Os vazamentos são constantes. Deduz-se que água contaminada com radioatividade tenha vazado dos tanques e chegado ao mar pelo sistema de esgotos.
Foto: Reuters
Nível de alerta elevado
Somente no dia 19 de agosto de 2013 foi divulgado que cerca de 300 mil litros de água radioativa haviam vazado e, em grande parte, escoado para o meio ambiente. Devido a esse distúrbio, o mais grave desde a fusão do reator, a agência japonesa de segurança nuclear NRA elevou, pela primeira vez, o nível de alerta de 3 para 7 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares (Ines).
Foto: picture-alliance/dpa
Destino final: o Pacífico?
Para controlar as massas de água dentro da usina, a agência japonesa de vigilância nuclear NRA não exclui bombear líquido para o Oceano Pacífico de forma controlada – contanto que a contaminação radioativa esteja abaixo do "valor limite". Segundo Shunichi Tanaka, presidente da NRA, tal passo é "inevitável", pois não há capacidade de armazenamento para o gigantesco volume de água contaminada.
Foto: Reuters
À sombra da ruína nuclear
A catástrofe atômica de Fukushima seguirá preocupando a população da região durante muito tempo. De acordo com a Tepco, a completa normalização na usina avariada poderá demorar até 40 anos.