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Trio é condenado à prisão por morte de negro nos EUA

25 de novembro de 2021

Homens brancos foram considerados culpados pela perseguição e assassinato de Ahmaud Arbery, de 25 anos. Imagens do crime geraram revolta no país.

Ahmaud Arbery
Ahmaud Arbery tinha 25 anos e foi morto após ser perseguido e baleado em uma rua da cidade de Brunswick, nos EUAFoto: Marco Bello/REUTERS

Três homens brancos que perseguiram, encurralaram e, com uma arma de fogo, mataram o jovem negro Ahmaud Arbery, de 25 anos, na cidade de Brunswick, estado da Geórgia, nos Estados Unidos, foram condenados à prisão perpétua nesta quarta-feira (24/11).

O episódio ocorreu em 23 de fevereiro de 2020 e chocou o país depois que imagens com cenas do crime foram publicadas em mídias sociais.

Travis McMichael, 35 anos, que atirou em Arbery, seu pai, o policial aposentado Gregory McMichael, 65, e o vizinho deles, William Bryan, que participou da perseguição, receberam sentenças de um júri majoritariamente branco por múltiplas acusações de assassinato, agressão agravada (que denota uso de armamento) e cárcere privado. Resta agora o juiz decidir se eles terão direito a apelar da condenação no futuro.

Assim que os jurados terminaram de ler o primeiro dos 23 veredictos, o pai de Ahmaud, Marcus Arbery, teve de deixar a sala de audiências após saltar e gritar, em celebração. No último, a mãe do jovem, Wanda Cooper-Jones, baixou a cabeça e levantou os pulsos. "Nunca achei que esse dia iria chegar. Foi uma longa e dura batalha. Mas Deus é bom. Obrigado a todos que protestaram e rezaram”, disse Jones.

Tanto dentro quanto fora do júri, o público também celebrou as condenações de maneira bastante emocionada. Marcus Arbery declarou que o filho "não fez nada além de correr e sonhar”. E completou: "Hoje é um dia bom. Eu não quero ver outro pai ver seu filho ser linchado e alvejado da forma como o meu foi”.

O advogado de defesa de Travis e Gregory McMichael disse que seus clientes acreditam que agiram corretamente, e que o vídeo com cenas do crime pode inclusive ajudá-los no caso. Ao mesmo tempo, eles também declararam que lamentam que Arbery tenha sido morto.

A família de Arbery comemorou o veredicto, que deve levar os réus à prisão perpétuaFoto: Marco Bello/REUTERS

O presidente Joe Biden celebrou o veredicto, mas reforçou que o "trabalho árduo” continua no combate ao racismo nos Estados Unidos.

"A morte de Ahmaud Arbery, testemunhada pelo mundo inteiro em vídeo, é um lembrete devastador do quão longe ainda precisamos ir na luta pela justiça racial neste país. Embora os veredictos de culpa reflitam que nosso sistema de justiça esteja fazendo seu trabalho, isso por si só não é suficiente. Em vez disso, devemos nos comprometer a construir um futuro de unidade e força compartilhada, onde ninguém teme a violência por causa da cor de sua pele”, afirmou Biden, em um comunicado.

O governador do estado, o republicano Brian Kemp, disse que Arbery foi "vítima de uma vigilância que não tem lugar na Geórgia”, e pediu "cura e reconciliação” para a sociedade.

O crime

No dia 23 de fevereiro de 2020, Travis e Gregory McMichael pegaram armas, subiram em uma caminhonete e começaram a perseguir Arbery, após terem avistado o jovem em uma casa em construção e, depois, nas ruas próximas. Bryan, o vizinho, subiu em sua caminhonete e acompanhou o episódio. Ele, inclusive, gravou tudo com seu próprio telefone.

Pai e filho disseram à polícia que suspeitaram que Arbery fosse um bandido em fuga. Mas os promotores argumentaram que eles provocaram o confronto e que não havia nenhuma evidência de que a Arbery tenha cometido crimes na vizinhança.

Os três réus perseguiram e cercaram Arbery em uma rua tranquila da cidade portuária de Brunswick, que tem pouco mais de 16 mil habitantes.

Durante o julgamento, foram analisados vídeos e áudios do 911 (o sistema de emergência dos EUA). Gregory McMichael ligou para o 911 em torno de 30 segundos antes dos tiros contra Arbery terem sido disparados.

Na chamada, ele diz a um operador: "Estou aqui em Satilla Shores. Há um homem negro correndo pela rua''. Ele então começa a gritar, aparentemente no mesmo momento em que Arbery corre em direção à caminhonete - com a outra caminhonete, de Bryan, logo atrás -, e ouve-se o seguinte áudio: "Pare aí mesmo! Maldição, pare! Travis!''. Os tiros podem ser ouvidos alguns segundos depois.

Manifestantes pelos direitos civis estiveram presentes tanto dentro quanto fora da sala de audiênciasFoto: Sean Rayford/AFP/Getty Images

Vídeo foi fundamental para a condenação

O vídeo surgiu em torno de dois meses após o crime. Com isso, o Escritório de Investigação da Geórgia tomou as rédeas do caso e rapidamente conseguiu prender os três suspeitos.

A gravação vazou em redes sociais e causou indignação generalizada nos Estados Unidos. Jackie Johnson, uma promotora local, foi denunciada por dificultar a investigação da morte de Arbery.

Ao júri, foi exibido o vídeo de Gregory e Travis McMichael perseguindo Arbery com sua caminhonete, e Bryan seguindo ambos em seu próprio veículo enquanto filmava a ação com o telefone celular.

Em determinado momento, a vítima tenta correr pela frente da caminhonete, que estava parada. Travis McMichael, que havia saído do veículo, abre fogo com uma espingarda calibre 12. Ferido, Arbery é visto lutando com McMichael antes de ser morto com outro tiro.

Durante o julgamento, a promotora Linda Dunikoski argumentou que Arbery estava "tentando fugir de estranhos que gritavam com ele, ameaçando matá-lo. E eles o mataram. Isso aqui não é o Velho Oeste”.

Kevin Gough, advogado de Bryan, pediu a anulação do julgamento ao juiz, alegando que a presença de líderes de direitos civis no local poderia influenciar os jurados. O juiz Timothy Walmsley indeferiu as moções, dizendo que qualquer pessoa era bem-vinda para comparecer, desde que não perturbasse.

Travis e Gregory McMichaels e William Bryan também enfrentam acusações de crimes de ódio federais em um caso que irá a julgamento no próximo ano.

gb/afp/ap

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