Kosovo: futuro incerto
10 de agosto de 2007O futuro do Kosovo corre o risco de se tornar uma história sem fim desde que as últimas negociações entre Pristina e Belgrado fracassaram. A partir desta sexta-feira (10/08), um trio negociador do Grupo de Contato para o Kosovo se encontra na região para uma nova rodada de 120 dias de negociações, ao fim da qual os resultados serão apresentados ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
No entanto, especialistas consideram a tarefa do trio, composto pelo alemão Wolfgang Ischinger (representando a União Européia), pelo russo Aleksandar Botsan-Khartchenko e pelo americano Frank Vizner, desde já como uma "missão impossível".
"Não tenho ilusões quanto à dificuldade da missão e sei que só podemos progredir se houver uma pré-disposição de todos os envolvidos – na região, nas Nações Unidas, mas também nos Estados Unidos, na Europa e na Rússia – para que obtenhamos uma aproximação", disse Ischinger.
Com grande experiência em assuntos relacionados aos Balcãs, sua receita pessoal para o sucesso é escutar muito, falar pouco e obter o maior número de opções possível. Se isso será suficiente para solucionar o problema, permanece uma incógnita.
Por enquanto, ambas as partes se mantêm fiéis a suas posições iniciais: enquanto o governo em Pristina exige sua independência incondicional, a Sérvia admite reconhecer apenas uma ampla autonomia de sua província meridional, que desde 1999 é controlada por tropas da ONU.
Nova resolução
O objetivo da missão é criar uma nova resolução que seja aprovada também pela Rússia, embora a base para as negociações continue sendo o plano apresentado pelo ex-mediador das Nações Unidas para o Kosovo, Martti Ahtisaari, que prevê a independência kosovar sob supervisão internacional. A recente recusa sérvia, no entanto, levara a aliada Rússia a impor seu veto no Conselho de Segurança da ONU.
Ischinger admite que a situação no Kosovo é a mesma que em 1999 e que, até agora, o plano de Ahtisaari é a única solução oficial aprovada pelo secretário-geral da ONU e o fato de ele não ter sido aprovado no Conselho de Segurança não significa que esteja descartado. "No entanto, precisamos reconhecer que, no atual momento, não é possível chegar a um acordo quanto a ele. Então perguntaremos a ambas as partes se elas têm alguma idéia melhor. Está nas mãos deles."
Embora o caso tome cada vez mais a forma de uma disputa global de poder, com os EUA e a União Européia apoiando a independência kosovar e a Rússia defendendo a posição sérvia, Ischinger salienta: "Trata-se do sucesso de Pristina e Belgrado, e não do nosso."
Postura pragmática
Caso a missão fracasse, é de se esperar que o Kosovo emita uma declaração unilateral de independência, o que poderia abalar novamente o equilíbrio político na região. Por isso, Ischinger pede pragmatismo nas negociações. "A troika [trio] está disposta a reconhecer qualquer resultado que seja aprovado pelos dois lados", salienta.
"Se ambas as partes aceitarem o fato de que qualquer alternativa a uma solução negociada é uma solução pior, então elas deveriam estar dispostas a negociar", lembra. "Nas relações internacionais, nada é absolutamente impossível, é tudo uma questão de vontade política." (rr)