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Entrevista

Anne Hagedorn (sv)23 de setembro de 2008

Gilles de Kerchove, coordenador da UE para o combate ao terrorismo, fala em entrevista sobre os sucessos e fracassos do bloco na luta contra a disseminação de idéias terroristas principalmente via internet.

UE: controle da internet e intercâmbio de dadosFoto: AP/DW

O Parlamento Europeu debate, no momento, novos planos de combate ao terrorismo. A discussão gira principalmente em torno da internet como "ferramenta terrorista" e dos padrões de proteção de dados dentro da União Européia.

Deutsche Welle: Quais são, no momento, as prioridades da UE no combate ao terrorismo?

Gilles de Kerchove: A estratégia que adotamos em 2005 prevê quatro pilares principais: prevenir a radicalização das pessoas; perseguir e processar os envolvidos; acirrar a proteção das fronteiras; aprimorar meios através dos quais os países-membros podem responder a um ataque maior. Para mim, as prioridades são enfatizar a prevenção e tratar das [possíveis] conseqüências de um ataque maior.

O Parlamento Europeu irá debater a respeito de novas ofensivas, como o incitamento a atos terroristas através da internet. Esse problema aumentou nos últimos anos?

De fato. Isso é muito importante e defendo muito essa legislação. Se for implementada pelos países-membros, ela permitirár aos países processar aqueles que usam principalmente a internet para tentar incitar o ódio e cometer atos terroristas. Há aproximadamente 5 mil websites conclamando à violência e a atos terroristas. É importante poder lidar com isso através de uma lei criminal.

E não é só isso. Temos que desenvolver uma narrativa contrária, da mesma forma. Temos que explicar que as primeiras vítimas disso tudo são os próprios muçulmanos, e que isso é uma guerra de idéias. Temos que ir contra o abuso da religião muçulmana com propósitos políticos.

A Alemanha está exercendo um papel importante?

Um projeto que a Alemanha vem conduzindo de forma muito interessante é a monitoração na internet, que levou à criação de um portal na Europol. O projeto se chama check-the-web, e nele tentamos aglutinar todas as nossas informações, tornando-as acessíveis para a polícia e para os serviços de inteligência de todos os países da UE.

No momento, estou trabalhando com colegas alemães para ver o que podemos fazer para acelerar esse projeto e reforçar o que podemos fazer juntos no controle da internet.

A internet é vasta, fluida, e de difícil controle. É realmente possível controlar os sites terroristas por todos os lados?

De fato, é um exercício difícil. Como eu disse, é uma guerra de idéias e temos que ganhar os corações e as mentes ao mesmo tempo. Uma coisa que vem se desenvolvendo na web – é interessante observar no YouTube, por exemplo – é que cada vez mais gente vem colocando material na rede que denigre a imagem de Osama Bin Laden. E o apoio a Bin Laden e à Al Qaeda vem diminuindo em alguns lugares do mundo islâmico. Nisso devemos investir.

Você falou a respeito da troca de dados dentro da Europa. Há aqueles que acreditam que isso poderia criar problemas na proteção de dados. É possível que pessoas inocentes caiam na mira da Europol ou de serviços secretos?

Sim, mas se for o caso, isso será facilmente detectado. Recentemente, visitei uma empresa privada que trabalhou para serviços de inteligência, onde tentavam adentrar alguns chat rooms. E você sabe, não é fácil entrar nesses chat rooms. Você tem que construir uma relação de confiança, o que pode levar meses até você conseguir uma senha. De forma que usuários que esperam meses para conseguir uma senha não são inocentes.

Como as instituições européias, como o braço investigativo Europol e o braço de cooperação judiciária Eurojust trabalham juntos?

A cooperação está se intensificando, mas ainda há muito a fazer. Por exemplo, nem todos os casos de investigação e processos são enviados à Europol ou à Eurojust respectivamente. De forma que acho importante lembrar aos países-membros da existência desta obrigação. É importante para a Europol e para a Eurojust estarem associadas a um número cada vez maior de equipes de investigação. Elas têm que mostrar aos países-membros sua importância. Acredito que em dois ou três anos isso terá mudado significativamente.

A cooperação etnre os países europeus funciona como deveria?

Há certamente espaço para melhorias, mas a cooperação, hoje, é bem melhor do que há cinco anos. Veja os casos recentes que foram desbaratados na Europa – em Barcelona, na Dinamarca, na Alemanha e na Bélgica. E, em muitos desses casos, isso só se deu devido a uma estreita cooperação entre os diferentes serviços de inteligência e polícia.

Ainda temos que melhorar a forma como a informação é trocada. Isso não acontece de forma óbvia no nível da União Européia, entre a comunidade dos serviços de inteligência e as polícias. Isso acontece no nível nacional. Na Alemanha, você tem uma plataforma onde todos os envolvidos trocam informações... Estou tentando convencer todos os 27 países-membros a instalar uma plataforma semelhante. E depois disso teríamos que aperfeiçoar a rede entre essas 27 plataformas.

Esse é um caminho indireto rumo à implementação de um conceito de troca de informações, que a comissão que fez o relatório sobre o 11 de setembro nos EUA considerou a mais importante lição dos atentados ocorridos lá.

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