Governo sírio perdeu em 2014 o controle da província de Raqqa, cuja principal cidade virou capital do "Estado Islâmico" no nordeste do país. Outras ofensivas intensificam os combates entre militares e extremistas.
Anúncio
As tropas do presidente sírio Bashar al-Assad conseguiram adentrar a província de Raqqa, reduto do grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI) na Síria, segundo informaram organizações e agências internacionais neste sábado (04/06).
Forças do governo perderam o controle da região há dois anos, quando o EI capturou a base aérea de Tabqa, matando dezenas de militares sírios. Os jihadistas declararam a cidade de Raqqa, capital da província, como sua própria capital no nordeste da Síria.
Citando o grupo xiita Hisbolá, que luta ao lado das forças de Assad, a agência de notícias Associated Press afirma que as tropas sírias chegaram à divisa de Raqqa no sábado à tarde, após avançar cerca de seis quilômetros.
Os militares iniciaram o avanço em direção à província na quarta-feira, mesmo dia em que as forças rebeldes apoiadas pelos EUA lançaram um ataque contra Manbij, outro reduto do EI, a cerca de 115 quilômetros de Raqqa. Não se sabe se os ataques foram coordenados.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, as tropas de Assad contaram com o apoio de ataques aéreos russos durante a ofensiva, quando foram destruídas regiões da província de Hama, que faz divisa com Raqqa. Ainda de acordo com a ONG, nos três dias de confrontos até chegar à região, foram mortos 26 combatentes do EI e nove soldados do Exército ou pró-governo.
Os combatentes do grupo terrorista também estão envolvidos em batalhas ferozes em Marea, cidade a cerca de 70 quilômetros de Manbij. O EI cercou o local, mas não conseguiu tomar a cidade, controlada por forças rebeldes e pela Frente Al-Nusra, um ramo da Al Qaeda.
Além das batalhas em Raqqa, Manbij e Marea, o "Estado Islâmico" também participa de confrontos em seu reduto em Fallujah, no Iraque. Forças iraquianas, que lançaram ofensiva no local há quase duas semanas, dizem já se encontrar nos limites da cidade.
Enquanto isso a violência em Aleppo, maior cidade síria, causou novas mortes neste sábado. A TV estatal síria afirmou que o bombardeio em partes de Aleppo controladas pelo governo deixou 22 mortos e 23 feridos, enquanto ativistas da oposição falam em dezenas de mortes em bairros controlados pelos rebeldes.
Aleppo tem sido palco de violentos combates, mesmo durante uma trégua intermediada pelos EUA e Rússia, que entrou em vigor no fim de fevereiro, durando apenas poucas semanas.
EK/ap/dpa/rtr
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.