Trump é investigado por obstrução da Justiça, diz jornal
15 de junho de 2017
Citando fontes oficiais, "Washington Post" afirma que presidente é alvo da investigação conduzida por Robert Mueller no FBI, que apura suposta ingerência russa na eleição. Defesa de Trump rechaça vazamento de informação.
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está sendo investigado por suposta obstrução da Justiça no âmbito do inquérito que apura a ingerência russa nas eleições presidenciais americanas, afirmou nesta quarta-feira (14/06) o jornal The Washington Post, citando fontes oficiais.
A investigação está sendo conduzida pelo ex-diretor do FBI Robert Mueller. Em maio, ele foi nomeado conselheiro especial, responsável por comandar as apurações sobre as possíveis conexões entre Moscou e a campanha eleitoral do então candidato republicano à Casa Branca, em 2016.
James Comey, que chefiava o FBI até ser demitido por Trump em maio, chegou a garantir ao presidente que ele não era alvo da investigação por parte da polícia federal. Fontes oficiais ouvidas pelo Washington Post afirmaram que a história mudou após o afastamento de Comey do cargo.
Em conversa com o jornal sob condição de anonimato, pessoas próximas ao inquérito listaram funcionários do governo que já concordaram em conversar com os investigadores nesta semana. Entre eles estão Daniel Coats, diretor de inteligência nacional, Mike Rogers, chefe da Agência de Segurança Nacional americana (NSA), e o ex-vice de Rogers, Richard Ledgett.
A investigação, segundo as fontes, ocorre sob sigilo. Os oficiais não especificaram quantas pessoas de dentro ou fora do governo já foram questionadas pelo FBI acerca do caso.
Em resposta à reportagem do Washington Post, a equipe legal do presidente rechaçou o vazamento de informações do FBI – classificando-o como "escandaloso, imperdoável e ilegal" –, mas não negou as informações publicadas.
Washington e Moscou
As revelações do jornal americano nesta quarta-feira representam mais um capítulo do escândalo envolvendo a suposta interferência russa nas eleições de 2016 e eventuais ligações entre Moscou e a campanha eleitoral republicana para favorecer a vitória de Trump.
A demissão repentina de Comey, por exemplo, levantou questões sobre as motivações do presidente, já que foi sob o comando desse diretor que o FBI iniciou o inquérito envolvendo a ingerência russa.
Em depoimento ao Comitê de Inteligência no Senado, que também investiga o caso, Comey disse acreditar que foi demitido por conta dessa apuração. "Foi, de certa maneira, para mudar a forma como a investigação estava sendo conduzida", declarou ele na quinta-feira passada.
Após seu afastamento, o ex-diretor do FBI revelou que Trump chegou a lhe pedir, em fevereiro, para encerrar uma investigação sobre o ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn, envolvendo também contatos com russos.
Flynn renunciou ao cargo na Casa Branca em 13 de fevereiro, após admitir que mentiu para autoridades americanas sobre o conteúdo de conversas telefônicas que manteve com o embaixador russo em Washington, Serguei Kislyak.
Embora seja improvável que Trump enfrente uma acusação criminal, o delito de obstrução da Justiça pode constituir a base para um processo de impeachment contra o presidente no Congresso. Ali, porém, o recurso enfrentaria obstáculos, uma vez que o Partido Republicano detém maioria sólida na Câmara dos Representantes.
EK/rtr/efe/dpa/lusa/ots
Nove livros para a era Trump
O novo presidente americano não lê muito. Mas, desde que ele chegou ao poder, livros sobre regimes totalitários voltam à lista de best-sellers. Conheça algumas obras que podem ajudar a entender seu estilo de governar.
Foto: Getty Images/S. Platt
"1984"
Em "1984", George Orwell mostra ao leitor o que é viver num Estado totalitário, onde a vigilância é onipresente, e a opinião pública é manipulada pela propaganda. Desde a eleição de Donald Trump, o romance distópico voltou à lista dos mais vendidos. Mas outros clássicos, que descrevem cenários semelhantes, também se encontram cada vez mais sobre as mesas de cabeceira.
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"As origens do totalitarismo"
O ensaio de Hannah Arendt "As origens do totalitarismo" chamou bastante atenção após a sua publicação em 1951. Arendt, que havia fugido da Alemanha nazista, foi uma das primeiras teóricas a analisar a ascensão de regimes totalitários. Há poucas semanas, o livro apareceu por um curto período como esgotado no site de compras Amazon.
Foto: Leo Baeck Institute
"Admirável mundo novo"
O romance distópico de Aldous Huxley "Admirável mundo novo" ainda é leitura obrigatória para escolares e universitários. O livro do escritor britânico, publicado em 1932, descreve a "Gleichschaltung" (uniformização) de uma sociedade por meio da manipulação e condicionamento.
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"O conto da aia"
A distopia feminista de Margaret Atwood também voltou à lista dos best-sellers. O romance publicado em 1985 se passa nos Estados Unidos do futuro, onde as mulheres são reprimidas e privadas de seus direitos por uma teocracia totalitária no poder. Por medo de cenários semelhantes, muitas mulheres se posicionam hoje contra Trump, que continua a provocar discussões com comentários sexistas.
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"O homem do castelo alto"
Em 1962, Philip K. Dick descreveu em seu romance "O homem do castelo alto" como seria a vida nos Estados Unidos sob a ditadura de vitoriosos nazistas e japoneses após a Segunda Guerra. Em 2015 foi transmitida uma série de TV baseada vagamente no livro do escritor americano. Os cartazes de propaganda do seriado no metrô de Nova York (foto) foram motivo de controvérsia devido à sua simbologia.
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"The United States of Fear"
O livro não ficcional de Tom Engelhardt ainda não publicado no Brasil "The United States of Fear" ("Os Estados Unidos do medo", em tradução livre) foi lançado em 2011. A obra analisa como o fator "medo" favorece investimentos maciços do governo americano nas Forças Armadas, em guerras e na segurança nacional – levando o país, segundo a tese do autor, à beira do abismo.
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"Things That Can and Cannot Be Said"
"Things that can and cannot be said" ("As coisas que podem e não podem ser ditas", em tradução livre) é uma coletânea de ensaios e conversas, na qual a autora Arundhati Roy e o ator e roteirista John Cusack refletem sobre o seu encontro com o whistleblower Edward Snowden, em 2014, em Moscou. O livro aborda principalmente a vigilância em massa e o poder estatal.
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"O poder dos sem-poder"
Em seu texto "O poder dos sem-poder" (1978), o escritor e posterior presidente tcheco Vaclav Havel analisa os possíveis métodos de resistência contra regimes totalitários. Ele próprio passou diversos anos na prisão como crítico do governo comunista. Seu ensaio se tornou um manifesto para muitos opositores no bloco soviético.
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"Mente cativa"
Em 1970, o autor polonês e posterior Nobel de Literatura Czeslaw Milosz se tornou cidadão americano. Sua não ficção "Mente cativa" (1953) fala sobre suas vivências como escritor crítico do governo no bloco soviético. Trata-se de um ajuste de contas intelectual com o stalinismo, mas também com a – em sua opinião – enfraquecida sociedade de consumo ocidental.