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Trump ajudou família a evitar milhões em impostos, diz "NYT"

3 de outubro de 2018

Jornal afirma que presidente – que alega ter feito fortuna sozinho – herdou ao menos 413 milhões de dólares do império imobiliário de seu pai. Boa parte teria sido por meio de empresas de fachada. Família nega fraudes.

Donald Trump e seu pai, o magnata Fred Trump (à esq.), em foto nos anos 1980
Trump e seu pai, o magnata Fred Trump (à esq.), em foto nos anos 1980Foto: Imago/Landmark Media

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participou de "esquemas tributários duvidosos" nos anos 1990, entre eles "casos claros de fraude", que ajudaram seus pais a evitar milhões de dólares em impostos, afirmou uma reportagem do jornal New York Times nesta terça-feira (02/10).

A investigação especial do veículo americano menciona um "grande tesouro" de registros financeiros e declarações fiscais confidenciais que revelam que Trump herdou o equivalente a 413 milhões de dólares (em valores atualizados) do império imobiliário de seu pai, Fred Trump.

O Times afirma que grande parte dessa fortuna foi parar nas mãos do hoje presidente americano porque ele e seus irmãos ajudaram seus pais a escapar do pagamento de impostos. Para isso, eles teriam criado empresas de fachada que receberam valores disfarçados de doações.

O jornal informa que suas descobertas foram baseadas em entrevistas com ex-funcionários e assessores de Fred Trump e em mais de 100 mil páginas de documentos que descrevem o funcionamento interno e a imensa lucratividade de suas empresas. Isso inclui documentos obtidos de fontes públicas, como hipotecas, escrituras e relatórios financeiros.

Os jornalistas também tiveram acesso a dezenas de milhares de páginas de documentos confidenciais, como extratos bancários, auditorias financeiras, livros contábeis, faturas e cheques cancelados, bem como 200 declarações de impostos de Fred Trump e empresas.

Durante sua campanha à presidência dos Estados Unidos, em 2016, Trump se promoveu como um magnata que fez fortuna por conta própria, alegando ter recebido apenas um empréstimo "muito baixo" de seu pai antes de construir seu próprio império.

No entanto, "a reportagem deixa claro que, em todas as épocas da vida de Trump, suas finanças estiveram profundamente entrelaçadas e dependentes da riqueza de seu pai", escreve o Times, antes de esmiuçar a "fortuna herdada e os desvios fiscais que garantiram a ele uma vida dourada".

O jornal afirma que, aos 3 anos de idade, o republicano já ganhava 200 mil dólares por ano (em valores atualizados) do império de seu pai. Trump se tornaria um milionário já aos 8 anos. Aos 17, ganhara uma fatia de propriedade de um prédio com 52 apartamentos.

Logo após se formar na faculdade, Trump recebia o equivalente a 1 milhão de dólares anualmente de seu pai. O valor aumentou com o passar dos anos, chegando a 5 milhões de dólares anuais em seus 40 e 50 anos de idade. O presidente tem hoje 72 anos.

"Fred Trump foi implacável e criativo em encontrar maneiras de canalizar sua riqueza para seus filhos", afirma o jornal. "Ele fez de Donald não apenas seu empregado assalariado, mas também seu gerente de propriedades, senhorio, banqueiro e consultor. Ele fez [ao filho] empréstimos atrás de empréstimos, muitos deles nunca devolvidos."

Segundo a reportagem, documentos revelam que Trump recebeu do pai dinheiro para bancar seus carros, para pagar seus empregados, para comprar ações, para financiar seus primeiros escritórios em Manhattan e para renovar esses escritórios. "[Fred] deu a ele cheques de Natal de 10 mil dólares", acrescenta o texto.

O jornal afirma que grande parte dessas doações foi realizada de forma a evitar impostos cobrados por doações e heranças, usando métodos que especialistas em tributação descreveram como impróprios ou possivelmente ilegais.

A reportagem relata que Trump e seus irmãos tomaram a posse da maior parte do império imobiliário de seu pai em 22 de novembro de 1997, cerca de um ano e meio antes da morte de Fred Trump, em junho de 1999. A mãe, Mary Anne Trump, por sua vez, morreu em agosto de 2000.

Nessa transação, os filhos conseguiram se esquivar de centenas de milhões em impostos sobre doações ao subestimar o valor das propriedades em declarações – quanto menos elas valem, menor é o imposto. Edifícios seriam vendidos na década seguinte por mais de 16 vezes o valor declarado.

Após a publicação da reportagem, um porta-voz do Departamento de Impostos e Finanças de Nova York informou que o órgão está investigando as alegações do New York Times.

Um dos advogados de Trump, Charles Harder, tachou as acusações do jornal de "100% falsas e altamente difamatórias". "Não houve fraude ou evasão fiscal por parte de ninguém. Os fatos sobre os quais o Times baseia suas falsas alegações são extremamente imprecisos."

A Casa Branca, por sua vez, afirmou apenas que, "muitas décadas atrás, a Receita Federal revisou e aprovou as transações" mencionadas pela reportagem.

Em comunicado em nome da família, Robert Trump, irmão do presidente, disse que "todas as declarações de impostos sobre bens e presentes foram devidamente registradas e todos os impostos exigidos foram pagos".

EK/afp/ap/lusa/rtr/ots

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