Trump ameaça Comey se houver "vazamentos" para a imprensa
12 de maio de 2017
Presidente americano sugere ter gravações de diálogos dele com ex-chefe do FBI, demitido há poucos dias. Em entrevista, Trump afirma que o afastaria de qualquer maneira.
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Em tom de ameaça, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou nesta sexta-feira (12/05) o ex-chefe do FBI James Comey, demitido do cargo nesta terça, a não "vazar" informações para a imprensa, sugerindo que pode ter gravado conversas entre os dois.
"É melhor James Comey torcer para que não haja 'fitas' das nossas conversas antes de começar a vazar detalhes para a imprensa!", escreveu o presidente americano no Twitter, em meio a uma série de tuítes publicados pela manhã em torno do assunto. Não ficou claro se essas gravações de fato existem ou se se trata apenas de uma tentativa de intimidação.
Questionado diversas vezes por jornalistas sobre o caso, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, se recusou a responder se Trump gravou ou não conversas que manteve com Comey. "O presidente não tem mais nada a acrescentar sobre o assunto", disse o funcionário durante seu pronunciamento diário à imprensa nesta sexta-feira. Spicer sublinhou que a mensagem do mandatário no Twitter não se trata de uma ameaça ao ex-diretor do FBI, mas acrescentou que "o tuíte fala por si só".
Até o momento, Comey não se manifestou publicamente sobre conversas com o presidente. Este, porém, afirmou que, em três oportunidades (uma pessoal e duas por telefone), o ex-diretor do FBI lhe assegurou que não estava sendo investigado no inquérito sobre as relações entre a campanha republicana e a Rússia, acusada de interferir na eleição americana.
O presidente também ameaçou cancelar as entrevistas coletivas dos seus assessores para a imprensa depois de vários jornais apontarem contradições entre as declarações dele e dos assessores para explicar a demissão de Comey. "Talvez o melhor seja cancelar todas as futuras entrevistas coletivas e distribuir respostas escritas em prol da exatidão?", questionou Trump. Ele afirmou que não se pode esperar informações exatas de seus assessores porque "há muita coisa acontecendo".
Trump aumentou ainda mais a confusão sobre as razões para a demissão de Comey ao assegurar, em uma entrevista à emissora NBC, nesta quinta-feira, que o demitiria de qualquer maneira, apesar de, logo depois da demissão, na terça-feira, e nos dias posteriores, seus porta-vozes afirmarem que tudo ocorreu depois das recomendações do procurador-geral adjunto, Rod Rosenstein.
A Casa Branca insistiu que a demissão ocorreu após recomendações de Rosenstein em relação à maneira como Comey gerenciou a investigação sobre o uso dos e-mails de Hillary Clinton, rival democrata na eleição presidencial vencida por Trump, quando esta era secretária de Estado. Na entrevista à NBC, porém, Trump indicou que estava pensando "nessa história da Rússia" quando demitiu Comey.
Nesta sexta-feira, o jornal The New York Times noticiou que Trump, quando assumiu o cargo, em janeiro, cobrou lealdade de Comey, mas este teria oferecido honestidade. O diálogo teria acontecido durante um jantar privado, uma semana depois da posse de Trump, ocorrida no dia 20 de janeiro, segundo relatou Comey a alguns de seus colegas, que, após sua demissão, na última terça-feira, falaram sob condição de anonimato ao jornal nova-iorquino.
Em um ponto da conversa, depois que Trump celebrou sua vitória nas eleições, ele pediu para Comey "jurar lealdade". Este rejeitou o pedido e, em seu lugar, prometeu que sempre seria honesto com ele, mas insistiu que não seria confiável no sentido político. De acordo com a versão do ex-diretor do FBI, insatisfeito com a resposta, Trump pediu mais duas vezes para que ele fizesse o juramento, mas Comey não cedeu. Comey disse acreditar que o jantar foi "um prenúncio de sua queda", segundo o NYT. Nesta sexta-feira, o porta-voz da Casa Branca negou que Trump tenha pedido lealdade de Comey.
IP/dpa/afp/efe/ap/rtr
Os decretos de Donald Trump
Donald Trump estremeceu o cenário político em seus primeiros dias como presidente dos EUA com uma série de decretos e memorandos impactantes. Entenda a diferença e o significado de cada um deles.
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Forma rápida de cumprir promessas eleitorais
Com menos de duas semanas na presidência, Donald Trump emitiu 17 medidas executivas. Embora este número em si não seja significativo – no mesmo período Barack Obama assinou praticamente o mesmo número de ordens – o conteúdo dos decretos de Trump é. Parece que o novo presidente dos EUA quer implementar muitas de suas promessas de campanha – incluindo as controversas - o mais rápido possível.
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O que são ordens executivas e memorandos?
As ações executivas (EA) permitem que o presidente dos EUA dê ordens que não precisam de aprovação do Congresso a agências governamentais, contornando o processo legislativo e acelerando sua implementação. Ordens executivas são uma forma mais abrangente de EA que muitas vezes lidam com diretrizes organizacionais maiores, enquanto memorandos presidenciais ordenam agências específicas a fazer algo.
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Enfraquecer Obamacare (ordem executiva)
A primeira ordem executiva assinada por Trump foi uma para retardar partes do Affordable Care Act (Obamacare) para "minimizar encargos regulatórios". Enquanto Trump sozinho não pode revogar a legislação instituída por Obama, ele pode minar a implementação do programa de saúde enquanto a maioria republicana no Congresso se prepara para revogá-lo.
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Retirar subsídio para aborto (memorando)
Trump reinstituiu uma política que impede o financiamento federal para ONGs que fornecem aconselhamento sobre aborto e defendem o direito ao aborto. Essa diretriz tem uma longa história: foi inicialmente instaurada pelo republicano Ronald Reagan, rescindida pelo democrata Bill Clinton, reinstituída pelo republicano George W. Bush, antes de ser reativada pelo democrata Barack Obama.
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Deportação de imigrantes (ordem executiva)
Trump ordenou que os agentes de imigração expandissem o escopo das deportações. Ele visa retirar concessões federais das chamadas cidades-santuário (onde imigrantes sem documentos não são processados) e que imigrantes suspeitos de um crime sejam detidos, mesmo sem acusação. Trump pretende contratar 10 mil novos agentes e publicar um relatório sobre crimes cometidos por imigrantes sem documentação.
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Construir o muro (ordem executiva)
Numa ordem executiva assinada em 25 de janeiro, Trump solicitou "a construção imediata de um muro físico", a fim de proteger a fronteira entre México e EUA. Ele também se referiu aos imigrantes sem documentos como "deportáveis", dizendo que o Poder Executivo deve "acabar com o abuso das disposições de liberdade condicional e refúgio usadas para impedir a remoção legal de estrangeiros deportáveis."
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Veto a muçulmanos (ordem executiva)
Trump assinou este controverso decreto em 27 de janeiro. Ele proibiu pessoas de sete países de maioria muçulmana de entrar nos EUA por três meses, suspendeu indefinidamente o programa de refugiados sírios e suspendeu a admissão de refugiados por 120 dias. Protestos contra a ordem estouraram em todo o país e até mesmo os senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham criticaram a medida.
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EUA deixam TPP (memorando)
Não foi nenhuma surpresa Donald Trump ter abandonado a Parceria Transpacífico (TPP). Durante a campanha, ele criticou frequentemente o TPP e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), afirmando que outros países se beneficiaram desses acordos comerciais, em detrimento dos EUA. O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump prefere lidar individualmente com os países.
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Sinal verde para oleodutos (memorando)
Três memorandos diferentes – um sobre a construção do oleoduto Dakota Access, outro sobre a continuação da construção do oleoduto Keystone e uma terceira ordem sobre o uso de materiais americanos nas obras – foram emitidos no quarto dia de Trump no governo. Obama tinha negado licenças para ambos os oleodutos após protestos em massa de ambientalistas, que temem o impacto de eventuais vazamentos.
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Expandir as Forças Armadas (memorando)
Trump cumpriu sua promessa eleitoral de investir num Exército maior ao assinar na sua primeira semana no cargo um memorando que pede mais tropas, navios de guerra e um arsenal nuclear modernizado. Quatro dias antes ele ordenou congelar a contratação de civis em agências federais por até 90 dias, para que seu governo possa desenvolver um plano de longo prazo para encolher a força de trabalho.
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Steve Bannon no NSC (memorando)
Trump ordenou uma revisão do Conselho de Segurança Nacional (NSC) para elevar o papel de Stephen Bannon. Trump retirou vários membros do painel responsável por tomar decisões de política externa, enquanto seu estrategista-chefe – conhecido por opiniões de extrema direita – servirá no comitê geralmente preenchido por generais. Isso rompe com a norma de longa data de não nomear políticos para o NSC.
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Desregulamentações (executiva e memorando)
Trump quer que agências federais eliminem ao menos duas normas para cada nova regulamentação e ordenou o congelamento de regulamentações federais, até que um chefe de departamento designado por ele possa revisá-las. Ele também pediu pela rápida aprovação de "projetos de infraestrutura de alta prioridade". Na campanha, Trump disse que o "excesso de regulamentações" feriu o comércio americano.
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Precedente presidencial
Obama emitiu um total de 277 ordens executivas – uma média de quase três por mês e um pouco menos do que seu antecessor, George W. Bush (291). Obama assinou 644 memorando presidenciais para contornar imposições no Congresso – um precedente do qual Trump aparenta estar tirando proveito, embora a maioria em ambas as Casas do Congresso seja republicana.