"Prepara-se, os mísseis vão chegar", diz presidente americano à Rússia, mas porta-voz da Casa Branca diz que "outras opções" ainda estão sobre a mesa.
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Apesar dos insistentes alertas enviados pela Rússia, os Estados Unidos avaliam a possibilidade de uma ofensiva com mísseis em resposta ao suposto ataque com armas químicas em Duma, cidade nas proximidades da capital da Síria, Damasco.
Segundo relatório desta quarta-feira (11/04) da Organização Mundial da Saúde (OMS), os sintomas de 500 pacientes tratados após o ataque de sábado em Duma apontam que houve, de fato, o uso de armas químicas no ataque.
O governo do presidente Donald Trump manteve ao longo das últimas horas amplos contatos com os governos da França e do Reino Unido para avaliar a possibilidade de uma ação conjunta.
Nesta terça-feira, tanto o governo francês como o britânico afirmaram que, se houve mesmo um ataque químico contra civis em Duma, ele não deve ficar sem resposta. Porém, uma decisão final ainda não foi tomada, afirmaram, sob anonimato, funcionários do governo americano à agência de notícias AP.
Na tarde desta quarta-feira, a Casa Branca desmentiu a iminência de um ataque contra o regime sírio de Bashar Al Assad e reforçou que Trump está avaliando ainda algumas das "outras opções" que tem à sua disposição.
"Não é a única opção, existem outras opções sobre a mesa", garantiu a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, durante uma entrevista coletiva.
Trump já deixou claro que pretende fazer com que o regime do presidente Bashar al-Assad e também seus principais apoiadores, a Rússia e o Irã, paguem caro pelo suposto ataque químico, que é atribuído às forças leais a Assad. Ao mesmo tempo, o presidente se mostra relutante em tomar uma decisão, pois é claramente contrário a um envolvimento ainda maior dos Estados Unidos na guerra civil da Síria.
Nesta quarta-feira, o embaixador da Rússia no Líbano, Alexander Zasypkin, disse que as forças russas vão derrubar qualquer míssil americano que cruzar território sírio.
"Se houver um ataque americano, nós vamos derrubar os mísseis e atacar as posições de onde eles foram lançados", disse, em entrevista a um canal de TV ligado ao Hisbolá. "Nos últimos dias, nós vimos uma escalada em direção a uma crise significativa."
No Twitter, Trump respondeu: "A Rússia ameaçou derrubar todos os mísseis disparados na Síria. Prepare-se, Rússia, porque eles vão chegar, bonitos, novos e 'smart'. Vocês não deveriam ser parceiros desse animal que mata com gás seu próprio povo e tem prazer nisso", escreveu o presidente americano.
Resposta mais robusta
Em 2017, Trump lançou um ataque de míssil de cruzeiro contra uma base aérea na Síria, em retaliação a um ataque com gás sarin que as Nações Unidas, mas tarde, atribuíram ao regime de Assad.
Segundo o jornal The New York Times, a Casa Branca e conselheiros de segurança avaliam que, desta vez, a resposta deveria ser mais "robusta" para intimidar o regime sírio e assim impedir novos usos de armas químicas. Entre as opções consideradas estariam atacar mais de um alvo ou atacar por mais de um dia.
O presidente americano cancelou sua participação na Cúpula das Américas para, segundo a Casa Branca, coordenar a resposta à Síria. O secretário de Defesa, Jim Mattis, também cancelou planos de viagem, e o destroier USS Donald Cook foi deslocado para uma região de onde pode atacar a Síria. Nos próximos dias será a vez do porta-aviões USS Harry Truman.
Uma ação militar conjunta, possivelmente liderada pela França, enviaria um sinal de unidade internacional sobre a proibição do uso de armas químicas. O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu uma resposta "forte e conjunta" e disse que uma decisão será tomada nos próximos dias.
"Nossa decisão não vai mirar aliados do regime nem atacar alguém, mas atacar as instalações químicas do regime", afirmou Macron, acrescentando que não pretende acirrar ainda mais o conflito na Síria.
O presidente francês não necessita de aprovação parlamentar para iniciar uma operação militar. A França já participa da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos e criada em 2014 para combater o grupo terrorista "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque.
Diante da possibilidade de "ataques aéreos na Síria com mísseis ar-terra e/ou de cruzeiro, nas próximas 72 horas", a Eurocontrol, organização europeia de segurança na navegação aérea, divulgou uma advertência às companhias aéreas sobre os riscos de sobrevoar a área do Mediterrâneo Oriental-Nicósia.
AS/ap/afp/lusa
Cronologia da guerra na Síria
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.