Trump contradiz especialista e afirma que logo haverá vacina
17 de setembro de 2020
Presidente diz que vacina contra covid-19 estará disponível daqui a algumas semanas, apenas horas depois de diretor de agência de saúde afirmar que ampla vacinação provavelmente ocorreria apenas em 2021.
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contradisse nesta quarta-feira (16/09) os especialistas do seu próprio governo e anunciou que haverá uma vacina para a covid-19 daqui a algumas semanas e que elas estarão imediatamente à disposição. Segundo Trump, ao menos 100 milhões de doses estariam disponíveis até o fim do ano.
O presidente contradisse, assim, o que o diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, Robert Redfield, havia dito horas antes numa audiência no Senado. Redfield afirmara que a vacina estaria disponível entre novembro e dezembro, mas apenas de forma limitada e para os grupos de maior risco. A população americana só deverá ter acesso à vacina "provavelmente no fim do segundo trimestre ou no terceiro trimestre de 2021", dissera o especialista.
Até lá, o melhor que a população pode fazer é se cuidar lavando as mãos, mantendo distância e usando máscaras faciais, afirmou Redfield.
Trump disse que Redfield se enganou. "Acho que ele cometeu um erro quando disse isso, é apenas uma informação errada. Acho que ele não quis dizer isso. Acho que ele estava confuso quando isse isso", declarou o presidente. "Estamos muito perto de uma vacina. Acho que poderemos começar em algum momento de outubro" ou logo depois, disse Trump.
Ele também desdenhou das máscaras faciais e disse que a vacina é mais importante.
Para ser distribuída à população, qualquer vacina tem de ser aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), o órgão responsável por aprovar o uso de novos medicamentos, vacinas e outros produtos relacionados à saúde pública.
As empresas farmacêuticas Pfizer, Moderna e AstraZeneca estão realizando estudos de vacinas que já chegaram ao nível três, ou seja, estão sendo testadas em seres humanos, mas ainda não enviaram um produto final à FDA para aprovação.
O presidente reiteradamente tem dito que uma vacina estará disponível nas próximas semanas, um período que a maioria dos especialistas considera inalcançável. A eleição presidencial americana está marcada para 3 de novembro. O candidato democrata, Joe Biden, acusou Trump de estar pressionando por uma vacina por motivos eleitorais.
Nove empresas farmacêuticas já apelaram ao presidente para que fique ao lado da ciência e não pressione para tornar disponível um produto ainda não totalmente testado.
Os Estados Unidos são o país mais afetado pela pandemia, com 6,6 milhões de casos detectados e mais de 196 mil mortes, segundo levantamento independente da Universidade Johns Hopkins.
AS/lusa/ap/afp
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.