Trump diz que apoia o Brasil na OCDE, mas não define prazo
11 de outubro de 2019
Após priorizar Argentina e Romênia, presidente diz que continua a apoiar entrada do Brasil na organização. Porém, evita indicar quando vai cumprir sua parte em acordo fechado com Bolsonaro.
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Após relatos na imprensa americana afirmarem que os Estados Unidos teriam desistido de apoiar a inclusão do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), o governo americano afirmou nesta quinta-feira (10/10) que apoia totalmente o acesso brasileiro à entidade.
"A declaração conjunta com o presidente [Jair] Bolsonaro divulgada em março deixa absolutamente claro que eu apoio que o Brasil inicie o processo para uma adesão total à OCDE. Os EUA se mantêm junto a essa declaracao e ao presidente jair Bolsonaro. Esse artigo é fake News!", declarou o americano.
Trump se referia a uma reportagem publicada pela agência Bloomberg, que cita uma carta enviada pelo secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em 28 de agosto, ao secretário-geral da OCDE, Angel Gurria. No documento, Pompeo rejeita um pedido para incluir mais países na organização e destaca que Washington apoiava apenas a candidatura da Argentina e da Romênia.
Segundo a Bloomberg, o documento, no qual Pompeo rejeita um pedido para incluir mais países na OCDE, afirma que "os Estados Unidos continuam preferindo a ampliação em ritmo contido, levando em consideração a necessidade de pressionar por planos de governança e sucessão".
Mais tarde, Pompeo tentou minimizar a carta, alegando que ela não representa exatamente a posição dos Estados Unidos. "Somos apoiadores entusiastas da entrada do Brasil nesta instituição e os EUA farão um forte esforço para apoiar a adesão do Brasil", afirmou no Twitter.
Na série de mensagens, Pompeo disse que a carta obtida pela Bloomberg, assinada por ele próprio e enviada a Gurría, "não representava com precisão" a posição dos EUA. Ele e Trump, porém, não negaram a veracidade do documento ou o fato de o Brasil não ter recebido o apoio americano ao acesso na OECD. .
O apoio dos Estados Unidos à candidatura brasileira na organização foi um dos primeiros pontos abordados na aproximação entre Bolsonaro e Trump. Durante uma visita a Washington, o mandatário brasileiro abriu mão de receber um tratamento especial na Organização Mundial do Comércio (OMC), que inclui prazos para cumprir acordos e maior flexibilidade em negociações comerciais, em troca do lobby americano pelo Brasil na organização.
O governo brasileiro chegou até mesmo aumentar a cota para importações de etanol sem tarifa, passando o de 600 milhões de litros para 750 milhões de litros por ano como parte do esforço para se aproximar dos EUA. A medida agradou os americanos, principais exportadores do produto para o Brasil.
Na época da visita, muitos duvidavam que os americanos cumprissem sua promessa de apoiar os brasileiros no ingresso no clube dos países industrializados e emergentes. O Brasil apresentou sua candidatura em maio de 2017 e contava com o apoio prometido por Trump para fazer parte do grupo, pois a aprovação de Washington é fundamental para a entrada na OCDE.
O comprometimento do presidente americano chegou ainda a ser visto como um importante triunfo internacional para o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e para Bolsonaro.
Após a enorme repercussão da reportagem da Bloomberg, o governo brasileiro adorou a estratégia de minimizar a importância da carta americana à OCDE, conhecida informalmente como o "clube dos países ricos".
Em sua transmissão ao vivo semanal nas redes sociais, o presidente Bolsonaro negou que o Brasil tivesse sido preterido pelos EUA. Ele disse que o apoio americano a Argentina e Romênia já era conhecido e que o país ainda terá a oportunidade de fazer parte da organização.
"Não é chegou e vai entrando", disse o presidente. "Estamos praticamente chegando lá, só que dois países estavam na frente, Argentina e Romênia, e isso foi mais uma vez externado hoje", explicou. "Eles [a OCDE] fazem uma seleção, e a seleção é a conta-gotas, para exatamente esse novo país que entra cumpra tudo aquilo que está no estatuto da OCDE, porque eles não podem errar."
Bolsonaro compartilhou o Tweet de Trump mencionando uma passagem bíblica que afirma "a verdade o libertará", em inglês.
O ministro Araújo seguiu a mesma linha. "Os Estados Unidos continuam apoiando o Brasil muito fortemente. Simplesmente é uma questão da sequência dos membros. O processo começaria pela Argentina e pela Romênia, coisa que nós já sabíamos, porque são países que já tinham o apoio anteriormente", afirmou.
"Isso não significa nada, nenhum tipo de falta de apoio, exatamente o contrário. O Brasil está pronto para começar, e o processo de adesão não tem um período determinado, por isso o Brasil pode começar o processo um pouco depois e terminar antes", acrescentou.
Ao ser perguntado sobrea possibilidade de o Brasil ser formalmente convidado para ser membro da OCDE no ano próximo ano, Araújo respondeu "espero que sim, espero que sim".
Entretanto, segundo apurou o jornal Folha de S. Paulo, a decisão americana de não apoiar o país já era conhecida há um mês pelo governo brasileiro, que teria pedido explicações a Washington.
Segundo a Folha, equipe de Bolsonaro teria ouvido que o problema não era com o Brasil, mas sim, com um aumento desenfreado de membros, sem que houvesse uma reforma na entidade. Os EUA estariam temendo uma influência maior da União Europeia na organização.
As visitas de presidentes brasileiros aos Estados Unidos
Relembre como foram as principais visitas de presidentes do Brasil aos Estados Unidos após a redemocratização do Brasil nos anos 1980.
Foto: Public Domain/Ronald Reagan Presidential Library & Museum/White House
Setembro de 1986: Sarney visita Reagan
Além de se reunir com Ronald Reagan, José Sarney proferiu um discurso ao Congresso. Os líderes discutiram a crise do endividamento internacional e a recusa do Brasil em assinar um acordo formal com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Outro tema foi a manutenção pelo Brasil da reserva de mercado para produtos de informática, mesmo com possíveis sanções pelos EUA. Pelé também estava na comitiva.
Foto: Public Domain/Ronald Reagan Presidential Library & Museum/White House
1990-1992: visitas entre Collor e Bush
Os dois presidentes se encontraram duas vezes em 1990: em setembro, Fernando Collor esteve com George H. W. Bush durante a Assembleia Geral da ONU e, em dezembro, o americano visitou Collor e ainda discursou ao Congresso brasileiro. Em junho de 1991, o brasileiro visitou Bush nos EUA e, em junho de 1992, Bush teve um encontro com o brasileiro durante a Conferência Rio-92.
Abril de 1995: FHC visita Clinton
Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton abordaram um dos principais atritos entre os países: a aprovação da Lei de Patentes. Os EUA ameaçavam com sanções se o projeto não passasse. O texto chegou a ser aprovado em fevereiro de 1996, mas nos moldes como queriam os americanos. FHC repetiu ainda uma demanda brasileira existente até hoje: ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
FHC participou de uma reunião nas Nações Unidas sobre o combate ao tráfico de drogas e ficou hospedado em Camp David, a casa de campo da Presidência americana. Ele teve um encontro informal com Clinton, que cumprimentou FHC pela boa resposta brasileira à turbulência financeira asiática. Os dois líderes conversaram ainda sobre a paz no Oriente Médio e a estratégia de combate às drogas.
Foto: Imago/Zumapress/S. Farmer
Maio de 1999: FHC visita Clinton
Em Washington, FHC participou de vários encontros com governantes e empresários para convencê-los de que o pior da crise econômica já havia passado e afirmou que seu governo tentaria impedir outras no futuro. Com Clinton, FHC insistiu que era necessário buscar mecanismos financeiros que protegessem o país de ataques especulativos e de prejuízos provocados pela volatilidade de capitais.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Walsh
Abril de 2001: FHC visita Bush
Na visita, o país desistiu de selar um acordo com os EUA sobre o início da Área de Livre Comércio das Américas (Alca. O revés de última hora ocorreu após o Departamento de Estado enviar a alguns países um memorando defendendo o ano de 2003 – em contraponto ao acordo fechado entre Brasília e Washington de começar a Alca em 2005. O documento esvaziou a visita de FHC.
Foto: Getty Images/M. Wilson
Novembro de 2001: FHC visita Bush
FHC e George W. Bush tiveram na Casa Branca uma conversa amigável, porém, morna. Ambos falaram sobre terrorismo, prejuízo do protecionismo às nações em desenvolvimento, economia da Argentina e a criação de um Estado palestino. FHC reforçou ainda o desejo do Brasil de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Depois, o brasileiro foi para Nova York abrir a Assembleia Geral da ONU.
Foto: Getty Images/AFP/S. Thew
Junho de 2003: Lula visita Bush
O encontro terminou sem resultados concretos. O Brasil chegou a prometer que cooperaria para concluir com êxito a Alca até 2005 e a pedir o apoio de Washington para ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU – dois assuntos que não avançaram. Eles também discutiram a paz no mundo e Lula disse que ela só seria alcançada se os países ricos ajudassem os mais pobres a se desenvolverem.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
Março de 2007: visitas entre Lula e Bush
No início do mês, Bush e Lula assinaram em Guarulhos/SP um memorando para a cooperação no desenvolvimento da tecnologia de biocombustíveis e prometeram diminuir a dependência do petróleo e de outros combustíveis fósseis não renováveis em seus países. No final de março, Lula foi recebido em Camp David (foto) para discutir o etanol como commodity mundial e a retomada da Rodada Doha, da OMC.
Foto: Getty Images/R. Sachs-Pool
Março de 2009: Lula visita Obama
No seu primeiro encontro, os dois presidentes anunciaram a criação de um grupo de trabalho para a reunião do G20, que aconteceu no mês seguinte em Londres, para buscar uma estratégia comum para enfrentar, na época, a crise econômica mundial, aumentar a confiança no sistema financeiro e recuperar as economias afetadas pelo maior crash vivido pelo mundo desde a década de 1930.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Reynolds
Abril de 2012: Dilma visita Obama
Dilma Rousseff mostrou preocupação com a depreciação das moedas dos países ricos em consequência das políticas monetárias deles para conter a crise, dizendo que esse desequilíbrio afeta todas as nações, principalmente as emergentes. Barack Obama disse que a relação dos dois países "nunca esteve mais forte" e discutiu com a brasileira temas como narcotráfico, intercâmbio estudantil e combustíveis.
Foto: Carolyn Kaster/AP Photo/picture alliance
Junho de 2015: Dilma visita Obama
A reunião marcou a superação de um imbróglio diplomático depois de documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA) vazados por Edward Snowden mostrarem que os EUA também espionavam Dilma. Por causa do escândalo, ela chegara a cancelar uma visita de Estado a Obama em outubro de 2013. No encontro de 2015, Dilma tentou atrair investimentos, prometeu reduzir a poluição e aumentar o reflorestamento.
Foto: Getty Images/C. Somodevilla
Março de 2019: Bolsonaro visita Trump
Foi a primeira visita de Estado de Jair Bolsonaro – e a viagem foi bem-sucedida para o então presidente brasileiro. O fato de ele ter se encontrado com fiéis foi bem recebido entre seus eleitores evangélicos. Para militares e para a economia, ele conseguiu a promessa de Trump de apoiar o status de aliado preferencial na Otan e a entrada do Brasil na OCDE.
Foto: Allen Eyestone/ZUMAPRESS.com/picture alliance