Trump diz que cem dias foram produtivos e ataca imprensa
30 de abril de 2017
Presidente afirma que cumpriu promessas de campanha e qualifica críticas de "fake news". Nos próximos dias haverá "uma grande decisão" sobre acordo climático de Paris, anuncia.
Anúncio
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste sábado (29/04) que cumpriu "uma promessa após a outra" em seus primeiros cem dias no poder e voltou a atacar a imprensa, que, segundo ele, vive fora da realidade e publica fake news (notícias falsas). "Meus primeiros cem dias foram muito produtivos. Cumprimos uma promessa após a outra", disse Trump num ato em Harrisburg, na Pensilvânia, um dos estados-chave de sua vitória eleitoral, já que não elegia um candidato presidencial republicano desde 1988.
Num ato com tom de campanha, Trump fez referências ao tradicional jantar dos correspondentes da Casa Branca, que ocorria em Washington e do qual ele não participou. "Não poderia estar mais emocionado de estar a mais de 100 milhas do lodaçal de Washington", afirmou. Desde Ronald Reagan, que faltou por estar se recuperando de uma tentativa de assassinato, em 1981, nenhum presidente deixou de estar presente ao encontro com os jornalistas.
Durante o discurso, de quase uma hora, Trump rejeitou as críticas às derrotas políticas ocorridas nos seus primeiros cem dias de mandato, como a negativa do Congresso em acabar com a lei de acesso à saúde conhecida como Obamacare e o bloqueio dos tribunais à sua proibição de entrada nos EUA de cidadãos de sete países de maioria muçulmana.
Neste sentido, enfatizou que "as prioridades da imprensa não são as prioridades de vocês" e voltou a destacar que está concentrado em "tornar os EUA grandes de novo", seu lema de campanha. "Se o trabalho da mídia é ser honesta e dizer a verdade, então a mídia merece uma nota baixa bem grande", disse perante os aplausos de 10 mil apoiadores.
Trump reiterou eixos de sua campanha, como sua disposição para renegociar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte, com o México e o Canadá, e a sua polêmica promessa de construir um muro na fronteira sul dos Estados Unidos. "Não se preocupem, vamos construí-lo", disse. Ele listou entre os resultados de seus primeiros cem dias a nomeação do juiz conservador Neil Gorsuch para a Suprema Corte, a liberação do oleoduto Keystone XL e a decisão de deixar o acordo de livre-comércio TPP.
Além disso, anunciou que vai tomar "uma grande decisão" sobre o acordo climático de Paris nas próximas duas semanas. "Veremos o que acontece", disse Trump, ao mesmo tempo reiterando seu compromisso para revitalizar a indústria do carvão e do petróleo. As declarações de Trump foram feitas no mesmo dia em que ocorreram várias marchas em defesa do clima – incluindo uma com milhares de manifestantes em Washington – e contra suas políticas de desregulamentação de leis ambientais nos EUA.
Esta semana, o presidente assinou uma ordem executiva para revisar proibições impostas por Obama e permitir explorações de petróleo no litoral do país, o que poderia abrir áreas do Ártico e do Golfo do México a novos poços. Os EUA estão avaliando se permanecem no Acordo de Paris, que foi assinado pelo ex-presidente Barack Obama.
Trump também se referiu à escalada da tensão com a Coreia do Norte, e defendeu que está trabalhando com a China para solucionar um problema que qualificou de complicado. Ele insistiu que sua decisão de não designar a China como manipulador cambial, como tinha prometido, responde à colaboração estreita com Pequim para diminuir o conflito. "Esta não é a melhor hora", disse.
AS/efe/rtr/dpa/ap
Nove livros para a era Trump
O novo presidente americano não lê muito. Mas, desde que ele chegou ao poder, livros sobre regimes totalitários voltam à lista de best-sellers. Conheça algumas obras que podem ajudar a entender seu estilo de governar.
Foto: Getty Images/S. Platt
"1984"
Em "1984", George Orwell mostra ao leitor o que é viver num Estado totalitário, onde a vigilância é onipresente, e a opinião pública é manipulada pela propaganda. Desde a eleição de Donald Trump, o romance distópico voltou à lista dos mais vendidos. Mas outros clássicos, que descrevem cenários semelhantes, também se encontram cada vez mais sobre as mesas de cabeceira.
Foto: picture-alliance/akg-images
"As origens do totalitarismo"
O ensaio de Hannah Arendt "As origens do totalitarismo" chamou bastante atenção após a sua publicação em 1951. Arendt, que havia fugido da Alemanha nazista, foi uma das primeiras teóricas a analisar a ascensão de regimes totalitários. Há poucas semanas, o livro apareceu por um curto período como esgotado no site de compras Amazon.
Foto: Leo Baeck Institute
"Admirável mundo novo"
O romance distópico de Aldous Huxley "Admirável mundo novo" ainda é leitura obrigatória para escolares e universitários. O livro do escritor britânico, publicado em 1932, descreve a "Gleichschaltung" (uniformização) de uma sociedade por meio da manipulação e condicionamento.
Foto: Chatto & Windus
"O conto da aia"
A distopia feminista de Margaret Atwood também voltou à lista dos best-sellers. O romance publicado em 1985 se passa nos Estados Unidos do futuro, onde as mulheres são reprimidas e privadas de seus direitos por uma teocracia totalitária no poder. Por medo de cenários semelhantes, muitas mulheres se posicionam hoje contra Trump, que continua a provocar discussões com comentários sexistas.
Foto: picture-alliance / Mary Evans Picture Library
"O homem do castelo alto"
Em 1962, Philip K. Dick descreveu em seu romance "O homem do castelo alto" como seria a vida nos Estados Unidos sob a ditadura de vitoriosos nazistas e japoneses após a Segunda Guerra. Em 2015 foi transmitida uma série de TV baseada vagamente no livro do escritor americano. Os cartazes de propaganda do seriado no metrô de Nova York (foto) foram motivo de controvérsia devido à sua simbologia.
Foto: Getty Images/S. Platt
"The United States of Fear"
O livro não ficcional de Tom Engelhardt ainda não publicado no Brasil "The United States of Fear" ("Os Estados Unidos do medo", em tradução livre) foi lançado em 2011. A obra analisa como o fator "medo" favorece investimentos maciços do governo americano nas Forças Armadas, em guerras e na segurança nacional – levando o país, segundo a tese do autor, à beira do abismo.
Foto: Haymarket Books
"Things That Can and Cannot Be Said"
"Things that can and cannot be said" ("As coisas que podem e não podem ser ditas", em tradução livre) é uma coletânea de ensaios e conversas, na qual a autora Arundhati Roy e o ator e roteirista John Cusack refletem sobre o seu encontro com o whistleblower Edward Snowden, em 2014, em Moscou. O livro aborda principalmente a vigilância em massa e o poder estatal.
Foto: picture alliance / Christian Charisius/dpa
"O poder dos sem-poder"
Em seu texto "O poder dos sem-poder" (1978), o escritor e posterior presidente tcheco Vaclav Havel analisa os possíveis métodos de resistência contra regimes totalitários. Ele próprio passou diversos anos na prisão como crítico do governo comunista. Seu ensaio se tornou um manifesto para muitos opositores no bloco soviético.
Foto: DW/M. Pedziwol
"Mente cativa"
Em 1970, o autor polonês e posterior Nobel de Literatura Czeslaw Milosz se tornou cidadão americano. Sua não ficção "Mente cativa" (1953) fala sobre suas vivências como escritor crítico do governo no bloco soviético. Trata-se de um ajuste de contas intelectual com o stalinismo, mas também com a – em sua opinião – enfraquecida sociedade de consumo ocidental.