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Trump diz que está tomando hidroxicloroquina

18 de maio de 2020

Após não mencionar remédio por algumas semanas, presidente americano diz que está fazendo uso de forma preventiva, mesmo sem estudos que apontem eficácia do fármaco contra a covid-19.

USA | Trump kündigt Entwicklung von „Super-Duper-Rakete“ an
Foto: picture-alliance/Consolidated News Photos/S. Corum

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (18/05) que está tomando hidroxicloroquina "preventivamente" contra a covid-19.

"Muito agentes de saúde estão tomando. Por acaso, eu estou tomando. Comecei a tomar há semana e meia. (...) Uma pílula por dia. Eu penso que é bom, Eu ouvi várias boas histórias", disse Trump a jornalistas.  O presidente, que tem 73 anos, afirmou ainda que não apresentou reações ao uso.

A hidroxicloroquina é normalmente usada no tratamento da malária e artrite. Vários estudos não demonstraram sua eficácia contra a covid-19, seja preventivamente ou como tratamento. Ao mesmo tempo, apontaram para efeitos colaterais graves.

Por conta de resultados assim, a Organização Mundial da Saúde continua a apontar que "não há tratamento específico para a doença causada pelo novo coronavírus".

Questionado pelos jornalistas se estava seguindo recomendação do médico da Casa Branca ao tomar o remédio, Trump respondeu "não". "Eu perguntei a ele, que disse 'bem... se você quiser.'"

Na semana passada, dois amplos estudos nos EUA também não comprovaram a eficácia da droga. Mesmo antes dos resultados, a FDA, agência federal americana responsável pela supervisão dos medicamentos no país, já havia advertido para os riscos de automedicação com cloroquina e não recomendou seu uso contra a covid-19.  

Nos últimos dois meses, Trump propagandeou com entusiasmo a droga como um tratamento potencial eficaz contra a covid-19. Ele fez a primeira menção à hidroxicloroquina em 21 de março, após o suposto potencial da droga ter sido propagado em círculos de extrema direita na internet que promovem teorias conspiratórias e desconfiança contra o establishment científico. À época, o remédio também ganhou espaço na rede de TV populista Fox News.

A coisa toda teve origem em um anúncio do controverso pesquisador frances Didier Raoult, que no dia 17 de março que um estudo preliminar em 24 pacientes havia apontando que a hidroxicloroquina havia sido eficaz no tratamento da covid-19. No entanto, o estudo de Raoult foi criticado em círculos científicos por causa da sua amostra limitada.   

Em 23 de março, dois dias depois de Trump mencionar o remédio, foi a  vez de o presidente brasileiro Jair Bolsonaro seguir o exemplo do americano e passar a sistematicamente promover o fármaco, mesmo sem estudos amplos que comprovassem sua eficácia. 

A partir do final de abril, no entanto, Trump deixou de mencionar a droga, conforme estudos apontaram sobre seus riscos e falta de eficácia, deixando Bolsonaro temporariamente sozinho na defesa. Mas as declarações desta segunda-feira mostram que o presidente americano resolveu retomar a estratégia de propagandear um suposto tratamento eficaz. O remédio também passou recentemente a ser promovido pelo venezuelano Nicolás Maduro.

No Brasil, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que se opôs a uma adoção generalizada da cloroquina no SUS, apontou na semana passada que o entusiasmo de Bolsonaro pelo remédio se encaixa na estratégia do governo brasileiro de tentar forçar uma reabertura da economia, mesmo com a ausência de embasamento científico. "Ele quer um medicamento para que as pessoas sintam confiança, para retomar a economia. E isso a pessoa fica na sua tranquilidade achando que o medicamento resolve o problema",  disse Mandetta na sexta-feira.

Bolsonaro chegou a se referir ao medicamente como "cura” e passou a usá-lo como arma política. Ele usou um pronunciamento em cadeia nacional para promover a droga e ordenou que os laboratórios das Forças Armadas passassem a produzi-la em larga escala.

Nas redes sociais, membros do seu círculo radical e apoiadores têm atacado figuras que pedem cautela na adoção generalizada, afirmando que eles "torcem pelo vírus". Alguns apoiadores chegaram a subir a hashtag #RemédiodoBolsonaro. No meio dessa discussão, temas como falta de respiradores, leitos de UTI e outras medidas parecem ter ficado em segundo plano nas prioridades do presidente brasileiro.

A droga ainda influenciou a queda de dois ministros da Saúde do Brasil, que não compartilharam o entusiasmo de Bolsonaro pela droga: os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

No final de março, Mandetta disse que a cloroquina não era "uma panaceia" e advertiu sobre os riscos de automedicação. Nos bastidores, ele também resistiu a endossar um decreto que estava sendo preparado pelo Planalto para liberar profissionais da saúde e pacientes graves da doença a usar a cloroquina. 

Na semana passada, pouco antes de pedir demissão, Teich expôs sua posição ao advertir sobre os riscos da cloroquina no Twitter. "Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica", escreveu. 

JPS/ots

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