Trump diz que "nenhum político foi tratado tão injustamente"
18 de maio de 2017
Presidente dos EUA faz primeira aparição pública desde que foi acusado de tentar barrar investigação do FBI envolvendo ex-assessor e Rússia. Apesar de não comentar caso, ele se queixa de tratamento recebido da mídia.
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Envolvido em diferentes polêmicas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se queixou nesta quarta-feira (17/05) da forma com que tem sido tratado, principalmente pela imprensa americana, afirmando ser o pior tratamento recebido por um político em toda a história.
Trump discursava a novos cadetes durante uma cerimônia de formatura da Academia da Guarda Costeira dos EUA, no estado de Connecticut. "Ao longo de sua vida, você vai descobrir que as coisas nem sempre são justas. Mas você tem que abaixar a cabeça e lutar, lutar, lutar", aconselhou.
"Olha a forma como estou sendo tratado ultimamente, especialmente pela mídia. Nenhum político na história – e digo isso com grande segurança – foi tratado tão mal ou tão injustamente", continuou o presidente, antes de rebater: "Não fui eleito para servir à mídia de Washington, mas ao povo".
Mantendo o tom motivacional, o republicano disse aos cadetes que "não deixem os críticos e os adversários atrapalharem seus sonhos". "Talvez por isso nós tenhamos vencido [a eleição]", afirmou ele. "Adversários te deixam mais forte. Não desista e nunca deixe de fazer o que acha certo."
Essa foi a primeira aparição pública de Trump desde a acusação, publicada pela imprensa americana na véspera, de que o republicano teria pedido em fevereiro ao então diretor do FBI, James Comey, que encerrasse uma investigação sobre seu ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn.
A polícia federal americana conduz investigações que apuram uma suposta interferência russa nas eleições americanas do ano passado, além de uma ligação entre o governo em Moscou e a campanha de Trump. Comey comandava esses inquéritos até ser demitido pelo presidente em 9 de maio.
Flynn, por sua vez, um dos alvos dessas investigações, renunciou ao cargo de conselheiro da Casa Branca em fevereiro, após admitir ter mentido para autoridades americanas sobre o conteúdo de conversas telefônicas que manteve com o embaixador russo, Serguei Kislyak, em dezembro.
No discurso desta quarta-feira, que durou quase 30 minutos, Trump não mencionou tal acusação, mas parecia fazer alusão às recentes polêmicas publicadas pela imprensa envolvendo seu nome.
No início desta semana, o presidente americano já havia sido alvo de outra acusação. Segundo o jornal The Washington Post, Trump revelou segredos de Estado ao chanceler russo, Serguei Lavrov, e ao embaixador russo Kislyak, durante uma reunião na Casa Branca na semana passada.
A informação altamente confidencial, segundo o jornal, seria sobre uma operação do "Estado Islâmico" e teria sido repassada por um aliado que não dera permissão para que ela fosse compartilhada com outros países. Washington nega que a conduta tenha sido "inapropriada".
Em defesa de Trump, o presidente russo, Vladimir Putin, ofereceu nesta quarta-feira entregar aos EUA a transcrição da conversa entre o ministro Lavrov e o presidente republicano, que por conta das recentes acusações estaria sendo impedido de fazer bem seu trabalho, segundo opinou o líder do Kremlin. A Casa Branca ainda não se manifestou sobre a oferta do governo russo.
EK/afp/ap/dpa/efe/rtr
Qual o poder do presidente dos EUA?
Chefe de governo e de Estado da maior potência econômica e militar do planeta é frequentemente considerado a pessoa mais poderosa do mundo, mas nem por isso seu poder é ilimitado.
Foto: Klaus Aßmann
Assim diz a Constituição
O presidente é eleito por quatro anos e pode ser reeleito apenas uma vez. Ele é chefe de Estado e de governo. É tarefa dele fazer com que as leis aprovadas pelo Congresso sejam executadas. Cerca de 4 milhões de pessoas trabalham para o Poder Executivo. O presidente pode, como principal diplomata, receber embaixadores e, assim, reconhecer Estados.
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Balanço entre os poderes
Cada um dos três poderes pode intervir no outro, o que limita de poder de todos. O presidente pode indultar pessoas e nomear juízes federais, mas apenas com a concordância do Senado. O presidente nomeia também, entre outros, seus ministros e embaixadores – se os senadores derem o aval. Esse é um dos meios que o Legislativo tem para controlar o Executivo.
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Discurso sobre o Estado da União
O presidente tem que informar o Congresso sobre o destino do país, e ele faz isso em seu "discurso sobre o Estado da União". Apesar de não ter o poder de apresentar propostas de leis ao Congresso, ele pode expor suas prioridades no seu discurso. Assim, pode fazer pressão sobre o Congresso. Mas não mais do que isso.
Foto: Klaus Aßmann
Ele pode simplesmente dizer "não"
Se o presidente enviar de volta ao Congresso um projeto de lei sem sua assinatura, significa que ele usou seu poder de veto. E esse veto somente poderá ser revogado por uma maioria de dois terços nas duas câmaras. De acordo com o Senado, dos cerca de 1.500 vetos na história dos EUA, somente 111 foram derrubados.
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Zona nebulosa na definição de poder
A Constituição e decisões da Suprema Corte não deixam bem claro quanto poder o presidente tem de fato. Uma brecha permite um segundo tipo de veto, o chamado "pocket veto". Sob certas circunstâncias, o presidente pode colocar uma proposta legislativa "no seu bolso", ou seja, ela não vale. O Congresso não pode derrubar esse veto. Essa manobra foi usada mais de mil vezes.
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Decretos que são válidos como leis
O presidente pode determinar como os funcionários do governo cumprirão seus deveres. Esses decretos presidenciais têm força de lei e não necessitam de aprovação parlamentar. Ainda assim, o presidente não pode fazer o que bem entender. A Justiça pode declarar um decreto inválido, ou o Congresso pode aprovar uma lei contrária. E, ainda, o próximo presidente pode simplesmente revogar um decreto.
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Contornar o Congresso
O presidente pode negociar acordos com outros governos, mas o Senado deve aprová-los com uma maioria de dois terços. Para contornar isso, em vez de tratados, os presidentes podem fazer uso de "acordos executivos", que não precisam ser aprovados pelo Congresso. Eles são válidos enquanto o Congresso não vetá-los ou aprovar legislação que torne o acordo inválido.
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Comandante em chefe
O presidente é o comandante em chefe das tropas, mas é o Congresso que tem o poder de declarar guerra. Não está claro, porém, se um presidente pode enviar tropas para uma região em conflito. Na Guerra do Vietnã, o Congresso entendeu que um limite havia sido ultrapassado e interveio por lei. Ou seja, o presidente só pode assumir competências enquanto o Congresso não agir.
Foto: Klaus Aßmann
Impeachment
Se um presidente abusar do poder do cargo ou cometer um crime, a Câmara dos Representantes pode iniciar um processo de impeachment. Mas há um instrumento muito mais poderoso para parar qualquer iniciativa presidencial: o Congresso tem a competência de aprovar o orçamento e pode simplesmente fechar a torneira de dinheiro do presidente.