Trump diz que vai negociar acordo comercial com o Brasil
30 de julho de 2019
Presidente americano exalta relacionamento com o Brasil, apesar de o país "cobrar um monte de tarifas", e fala em pacto de livre-comércio entre as nações. Também faz elogios a Bolsonaro: "Está fazendo um ótimo trabalho."
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (30/07) que deseja negociar um acordo comercial com o Brasil para estreitar os laços entre os dois países. A medida poderia solucionar disputas comerciais. O mandatário americano não deu detalhes sobre o andamento das negociações.
"Vamos trabalhar num acordo de livre-comércio com o Brasil. O Brasil é um grande parceiro comercial. Eles nos cobram um monte de tarifas, mas, fora isso, amamos nosso relacionamento", disse Trump a jornalistas na Casa Branca, em Washington. A declaração foi dada na véspera de uma reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e o secretário de Comércio dos EUA, Willbur Ross, em Brasília.
De acordo com um comunicado oficial do governo americano, a visita de Ross busca reforçar o compromisso da administração Trump com "uma forte relação comercial e econômica com o Brasil". A relação entre os dois países ganhou um novo impulso com a chegada de Bolsonaro ao poder.
Trump aproveitou ainda para tecer elogios ao líder brasileiro. "Tenho um ótimo relacionamento com o Brasil. Tenho um relacionamento fantástico com o presidente. Ele é um grande cavalheiro. Acho que ele está fazendo um ótimo trabalho", disse. "Ele é chamado de Trump do Brasil. Eu gosto disso."
O americano também falou da família de Bolsonaro, que descreveu como "maravilhosa". Bolsonaro indicou seu filho Eduardo Bolsonaro como embaixador do Brasil em Washington. O anúncio foi alvo de críticas no meio político, diplomático e no Judiciário, que logo acusaram o presidente de prática de nepotismo. O Brasil já fez a consulta diplomática sobre a indicação e aguarda agora a resposta dos Estados Unidos.
Com relação a Eduardo Bolsonaro, Trump disse estar contente com a indicação, apesar de ter dito que não sabia que Bolsonaro pretendia nomear o filho como embaixador em Washington. "Eu acho o filho dele excelente. Ele é um jovem brilhante, maravilhoso. Estou muito feliz com a indicação, acho que é uma ótima indicação", destacou.
O presidente americano também ressaltou que não vê nepotismo no fato de Eduardo ter trabalhado na campanha. "O filho dele é excelente. Eu acho que é uma ótima indicação", acrescentou.
Essa não é a primeira vez que Trump exalta a proximidade com o Brasil. Em março, ele recebeu Bolsonaro na Casa Branca e disse que os países estavam mais próximos do que nunca. Também declarou apoio à inclusão do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). Após a viagem, Bolsonaro chegou a dizer que, no encontro, propôs a abertura da exploração da região amazônica em parceria com os Estados Unidos.
Durante a última cúpula do G20, realizada em junho no Japão, Bolsonaro e Trump conversaram sobre a viabilidade de um acordo comercial dos Estados Unidos com o Mercosul – bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Bolsonaro era um dos poucos aliados de Trump no encontro, e ambos aproveitaram a ocasião paratrocar novamente elogios.
Com um volume anual de cerca de 70 bilhões de dólares (mais de 295 bilhões de reais) em trocas comerciais entre os dois países, os Estados Unidos possuem normalmente um robusto superávit comercial com o Brasil. As principais exportações dos EUA incluem produtos agrícolas, como trigo e ração, assim como bens de serviços nos setores da telecomunicação e informação. Já o Brasil exporta para lá aeronaves, combustíveis, café, carne, ferro e aço.
As visitas de presidentes brasileiros aos Estados Unidos
Relembre como foram as principais visitas de presidentes do Brasil aos Estados Unidos após a redemocratização do Brasil nos anos 1980.
Foto: Public Domain/Ronald Reagan Presidential Library & Museum/White House
Setembro de 1986: Sarney visita Reagan
Além de se reunir com Ronald Reagan, José Sarney proferiu um discurso ao Congresso. Os líderes discutiram a crise do endividamento internacional e a recusa do Brasil em assinar um acordo formal com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Outro tema foi a manutenção pelo Brasil da reserva de mercado para produtos de informática, mesmo com possíveis sanções pelos EUA. Pelé também estava na comitiva.
Foto: Public Domain/Ronald Reagan Presidential Library & Museum/White House
1990-1992: visitas entre Collor e Bush
Os dois presidentes se encontraram duas vezes em 1990: em setembro, Fernando Collor esteve com George H. W. Bush durante a Assembleia Geral da ONU e, em dezembro, o americano visitou Collor e ainda discursou ao Congresso brasileiro. Em junho de 1991, o brasileiro visitou Bush nos EUA e, em junho de 1992, Bush teve um encontro com o brasileiro durante a Conferência Rio-92.
Abril de 1995: FHC visita Clinton
Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton abordaram um dos principais atritos entre os países: a aprovação da Lei de Patentes. Os EUA ameaçavam com sanções se o projeto não passasse. O texto chegou a ser aprovado em fevereiro de 1996, mas nos moldes como queriam os americanos. FHC repetiu ainda uma demanda brasileira existente até hoje: ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
FHC participou de uma reunião nas Nações Unidas sobre o combate ao tráfico de drogas e ficou hospedado em Camp David, a casa de campo da Presidência americana. Ele teve um encontro informal com Clinton, que cumprimentou FHC pela boa resposta brasileira à turbulência financeira asiática. Os dois líderes conversaram ainda sobre a paz no Oriente Médio e a estratégia de combate às drogas.
Foto: Imago/Zumapress/S. Farmer
Maio de 1999: FHC visita Clinton
Em Washington, FHC participou de vários encontros com governantes e empresários para convencê-los de que o pior da crise econômica já havia passado e afirmou que seu governo tentaria impedir outras no futuro. Com Clinton, FHC insistiu que era necessário buscar mecanismos financeiros que protegessem o país de ataques especulativos e de prejuízos provocados pela volatilidade de capitais.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Walsh
Abril de 2001: FHC visita Bush
Na visita, o país desistiu de selar um acordo com os EUA sobre o início da Área de Livre Comércio das Américas (Alca. O revés de última hora ocorreu após o Departamento de Estado enviar a alguns países um memorando defendendo o ano de 2003 – em contraponto ao acordo fechado entre Brasília e Washington de começar a Alca em 2005. O documento esvaziou a visita de FHC.
Foto: Getty Images/M. Wilson
Novembro de 2001: FHC visita Bush
FHC e George W. Bush tiveram na Casa Branca uma conversa amigável, porém, morna. Ambos falaram sobre terrorismo, prejuízo do protecionismo às nações em desenvolvimento, economia da Argentina e a criação de um Estado palestino. FHC reforçou ainda o desejo do Brasil de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Depois, o brasileiro foi para Nova York abrir a Assembleia Geral da ONU.
Foto: Getty Images/AFP/S. Thew
Junho de 2003: Lula visita Bush
O encontro terminou sem resultados concretos. O Brasil chegou a prometer que cooperaria para concluir com êxito a Alca até 2005 e a pedir o apoio de Washington para ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU – dois assuntos que não avançaram. Eles também discutiram a paz no mundo e Lula disse que ela só seria alcançada se os países ricos ajudassem os mais pobres a se desenvolverem.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
Março de 2007: visitas entre Lula e Bush
No início do mês, Bush e Lula assinaram em Guarulhos/SP um memorando para a cooperação no desenvolvimento da tecnologia de biocombustíveis e prometeram diminuir a dependência do petróleo e de outros combustíveis fósseis não renováveis em seus países. No final de março, Lula foi recebido em Camp David (foto) para discutir o etanol como commodity mundial e a retomada da Rodada Doha, da OMC.
Foto: Getty Images/R. Sachs-Pool
Março de 2009: Lula visita Obama
No seu primeiro encontro, os dois presidentes anunciaram a criação de um grupo de trabalho para a reunião do G20, que aconteceu no mês seguinte em Londres, para buscar uma estratégia comum para enfrentar, na época, a crise econômica mundial, aumentar a confiança no sistema financeiro e recuperar as economias afetadas pelo maior crash vivido pelo mundo desde a década de 1930.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Reynolds
Abril de 2012: Dilma visita Obama
Dilma Rousseff mostrou preocupação com a depreciação das moedas dos países ricos em consequência das políticas monetárias deles para conter a crise, dizendo que esse desequilíbrio afeta todas as nações, principalmente as emergentes. Barack Obama disse que a relação dos dois países "nunca esteve mais forte" e discutiu com a brasileira temas como narcotráfico, intercâmbio estudantil e combustíveis.
Foto: Carolyn Kaster/AP Photo/picture alliance
Junho de 2015: Dilma visita Obama
A reunião marcou a superação de um imbróglio diplomático depois de documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA) vazados por Edward Snowden mostrarem que os EUA também espionavam Dilma. Por causa do escândalo, ela chegara a cancelar uma visita de Estado a Obama em outubro de 2013. No encontro de 2015, Dilma tentou atrair investimentos, prometeu reduzir a poluição e aumentar o reflorestamento.
Foto: Getty Images/C. Somodevilla
Março de 2019: Bolsonaro visita Trump
Foi a primeira visita de Estado de Jair Bolsonaro – e a viagem foi bem-sucedida para o então presidente brasileiro. O fato de ele ter se encontrado com fiéis foi bem recebido entre seus eleitores evangélicos. Para militares e para a economia, ele conseguiu a promessa de Trump de apoiar o status de aliado preferencial na Otan e a entrada do Brasil na OCDE.
Foto: Allen Eyestone/ZUMAPRESS.com/picture alliance