Trump elimina resquícios do governo Obama na Justiça
11 de março de 2017
Presidente pede a saída de todos os procuradores do país apontados por seu antecessor. Decisão acelera processo de troca e contempla retirada de juristas responsáveis por alguns dos casos mais importantes dos EUA.
Anúncio
O governo Donald Trump deu mais um passo para eliminar vestígios da gestão anterior no Departamento de Justiça, ao pedir nesta sexta-feira (10/03) a renúncia imediata de 46 procuradores nomeados por Barack Obama.
A Justiça americana se divide territorialmente em 94 distritos, que contam com um procurador nomeado pelo presidente por recomendação de um senador. É tradição que os procuradores ponham seu posto à disposição do novo presidente.
Muitos dos nomeados por Obama deixaram seu cargo após a posse de Trump em 20 de janeiro. Mas 46 deles se mantiveram na ativa até agora, inclusive Preet Bharara, de Manhattan, famoso por investigações sobre corrupção e por processar mais de cem executivos de Wall Street.
"O procurador-geral pediu aos 46 procuradores cuja nomeação depende do presidente que apresentem suas demissões para assegurar uma transição uniforme", indicou em um breve comunicado a porta-voz do Departamento de Justiça, Sarah Isgur Flores.
Ao contrário de Trump, o governo de Obama permitiu que os procuradores nomeados pelo seu antecessor, George W. Bush (2001-2009), se mantivessem em seu posto até que se designasse uma pessoa para substituí-los.
Segundo o governo Trump, até que os novos procuradores apontados pelo presidente sejam confirmados, os procuradores de carreira ocuparão seu lugar e se dedicarão a investigar e processar acusados de crimes violentos.
A decisão, considerada abrupta pela imprensa americana, é anunciada após Trump demonstrar várias vezes irritação com constante vazamento de informações de dentro de órgãos oficiais, inclusive da Casa Branca.
Nomes de peso
Entre os demitidos está Robert L. Capers, responsável pelo caso na Justiça americana contra o traficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán. O procurador serviu nos últimos 17 meses no cargo, no qual substituiu Loretta Lynch, nomeada por Obama em 2015 procuradora-geral dos EUA.
Por enquanto, a chefia da procuradoria do Distrito Leste de Nova York, com sede no Brooklyn, será ocupada pela interina Bridget M. Rohde. Este escritório conduz a acusação contra "El Chapo", extraditado aos EUA no último dia 19 de janeiro e que pode ser condenado à prisão perpétua.
Além disso, a procuradoria federal do Brooklyn se ocupa de outros processos muito conhecidos como o da corrupção dentro da Fifa e de vários assuntos de terrorismo.
A decisão do Departamento de Justiça, comandado por Jeff Sessions, inclui também o procurador do Distrito Sul de Nova York, o midiático Preet Bharara, que há alguns meses aceitara uma proposta de Trump para continuar no posto.
Bharara, cujo escritório maneja casos de terrorismo internacional, corrupção, narcotráfico e fraudes das bolsas de valores em Wall Street, e que levou à prisão vários executivos, foi designado para o posto em agosto de 2009 por Obama.
RPR/rtr/efe/ots
Nove livros para a era Trump
O novo presidente americano não lê muito. Mas, desde que ele chegou ao poder, livros sobre regimes totalitários voltam à lista de best-sellers. Conheça algumas obras que podem ajudar a entender seu estilo de governar.
Foto: Getty Images/S. Platt
"1984"
Em "1984", George Orwell mostra ao leitor o que é viver num Estado totalitário, onde a vigilância é onipresente, e a opinião pública é manipulada pela propaganda. Desde a eleição de Donald Trump, o romance distópico voltou à lista dos mais vendidos. Mas outros clássicos, que descrevem cenários semelhantes, também se encontram cada vez mais sobre as mesas de cabeceira.
Foto: picture-alliance/akg-images
"As origens do totalitarismo"
O ensaio de Hannah Arendt "As origens do totalitarismo" chamou bastante atenção após a sua publicação em 1951. Arendt, que havia fugido da Alemanha nazista, foi uma das primeiras teóricas a analisar a ascensão de regimes totalitários. Há poucas semanas, o livro apareceu por um curto período como esgotado no site de compras Amazon.
Foto: Leo Baeck Institute
"Admirável mundo novo"
O romance distópico de Aldous Huxley "Admirável mundo novo" ainda é leitura obrigatória para escolares e universitários. O livro do escritor britânico, publicado em 1932, descreve a "Gleichschaltung" (uniformização) de uma sociedade por meio da manipulação e condicionamento.
Foto: Chatto & Windus
"O conto da aia"
A distopia feminista de Margaret Atwood também voltou à lista dos best-sellers. O romance publicado em 1985 se passa nos Estados Unidos do futuro, onde as mulheres são reprimidas e privadas de seus direitos por uma teocracia totalitária no poder. Por medo de cenários semelhantes, muitas mulheres se posicionam hoje contra Trump, que continua a provocar discussões com comentários sexistas.
Foto: picture-alliance / Mary Evans Picture Library
"O homem do castelo alto"
Em 1962, Philip K. Dick descreveu em seu romance "O homem do castelo alto" como seria a vida nos Estados Unidos sob a ditadura de vitoriosos nazistas e japoneses após a Segunda Guerra. Em 2015 foi transmitida uma série de TV baseada vagamente no livro do escritor americano. Os cartazes de propaganda do seriado no metrô de Nova York (foto) foram motivo de controvérsia devido à sua simbologia.
Foto: Getty Images/S. Platt
"The United States of Fear"
O livro não ficcional de Tom Engelhardt ainda não publicado no Brasil "The United States of Fear" ("Os Estados Unidos do medo", em tradução livre) foi lançado em 2011. A obra analisa como o fator "medo" favorece investimentos maciços do governo americano nas Forças Armadas, em guerras e na segurança nacional – levando o país, segundo a tese do autor, à beira do abismo.
Foto: Haymarket Books
"Things That Can and Cannot Be Said"
"Things that can and cannot be said" ("As coisas que podem e não podem ser ditas", em tradução livre) é uma coletânea de ensaios e conversas, na qual a autora Arundhati Roy e o ator e roteirista John Cusack refletem sobre o seu encontro com o whistleblower Edward Snowden, em 2014, em Moscou. O livro aborda principalmente a vigilância em massa e o poder estatal.
Foto: picture alliance / Christian Charisius/dpa
"O poder dos sem-poder"
Em seu texto "O poder dos sem-poder" (1978), o escritor e posterior presidente tcheco Vaclav Havel analisa os possíveis métodos de resistência contra regimes totalitários. Ele próprio passou diversos anos na prisão como crítico do governo comunista. Seu ensaio se tornou um manifesto para muitos opositores no bloco soviético.
Foto: DW/M. Pedziwol
"Mente cativa"
Em 1970, o autor polonês e posterior Nobel de Literatura Czeslaw Milosz se tornou cidadão americano. Sua não ficção "Mente cativa" (1953) fala sobre suas vivências como escritor crítico do governo no bloco soviético. Trata-se de um ajuste de contas intelectual com o stalinismo, mas também com a – em sua opinião – enfraquecida sociedade de consumo ocidental.