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Trump envia maior porta-aviões do mundo à Venezuela

24 de outubro de 2025

Porta-aviões se soma a oito navios de guerra, um submarino nuclear e caças F-35 já na região. Escalada sem precedentes é parte de ofensiva contra "narcoterrorismo". Maduro vê tentativa de criar "guerra eterna".

O porta-aviões USS Gerald R. Ford
USS Gerald R. Ford comporta mais de 75 aviões e tem mais de 5 mil homens a bordo [imagem de arquivo]Foto: Ruben Reed/U.S. Navy/ZUMAPRESS/picture alliance

Em uma escalada sem precedentes das tensões militares entre Estados Unidos e Venezuela desde que o governo de Donald Trump deflagrou sua guerra ao narcotráfico, o maior navio de guerra do mundo – o porta-aviões USS Gerald R. Ford – agora navega em direção ao Mar do Caribe.

O porta-aviões – um dos 11 que fazem parte da frota americana – se soma a oito navios de guerra, um submarino nuclear e caças F-35 já na região.

Em declaração postada nas redes sociais, o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, afirmou que a presença aumentada das forças americanas na região "vai impulsionar a capacidade de detectar, monitorar e interromper atores e atividades ilícitas que comprometam a segurança no Hemisfério Ocidental".

O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, declarou que os EUA darão aos "narcoterroristas" o mesmo tratamento dispensado à organização terrorista Al Qaeda de Osama bin Laden, responsável pelo atentado de 2001 às Torres Gêmeas.

Ainda não há informações sobre quando o porta-aviões chegará ao Mar do Caribe, mas há alguns dias ele foi avistado na Europa.

Capacidade para mais de 75 aviões e mais de 5 mil homens a bordo

O Gerald Ford é o porta-aviões mais novo dos EUA e o maior do mundo, com mais de 5 mil militares a bordo e capacidade para transportar mais de 75 aeronaves, incluindo destróieres.

A embarcação tem ainda um reator nuclear próprio e um arsenal de mísseis de médio alcance e terra-ar, além de radares sofisticados que podem ajudar a controlar o tráfego aéreo e marítimo.

Os navios de apoio, como o cruzador lança-mísseis guiados classe Ticonderoga Normandy e os destróieres lança-mísseis guiados classe Arleigh Burke Thomas Hudner, Ramage, Carney e Roosevelt, possuem capacidades de guerra antiaérea, de superfície e antissubmarino.

Guerra às drogas

O governo Trump acusa o regime venezuelano, liderado pelo presidente Nicolás Maduro, de proteger traficantes de drogas e sabotar instituições democráticas. O próprio Maduro é apontado por Washington como chefe do "Cartel de los Soles", classificado como organização terrorista pela Casa Branca.

Em agosto, Washington elevou para 50 milhões de dólares o prêmio para quem entregar informações que levem à prisão de Maduro.

Desde setembro, militares americanos atacaram dez embarcações que supostamente estariam sendo usadas pelo narcotráfico, a maior parte no Caribe. Mais de 40 pessoas foram mortas, algumas delas de nacionalidade venezuelana. Especialistas consideram as execuções sumárias ilegais, ainda que tenham como alvo traficantes confirmados.

Agora, a Casa Branca estaria avaliando planos para atacar pontos de produção de cocaína dentro da própria Venezuela, informou nesta sexta-feira (24/10) a emissora CNN, citando três fontes do governo. O martelo da decisão, porém, ainda não teria sido batido.

Na semana passada, Trump admitiu ter autorizado operações secretas da CIA no país latino-americano.

Ao assumir a Casa Trump, Trump avisou que estava disposto a utilizar todo o potencial militar dos Estados Unidos para acabar com as rotas do narcotráfico e os cartéis de drogas – os de Sinaloa e Tren de Aragua, por exemplo, foram designados "organizações terroristas" por decreto presidencial.

O governo justificou a medida alegando que ela permitiria usar as mesmas ferramentas que empregou em sua guerra ao terror, travada ao longo de duas décadas em todo o mundo após os ataques de 11 de setembro de 2001.

Em carta ao Congresso, Trump alega que o país está em "conflito armado" com cartéis de drogas.

Maduro: "Sem guerra maluca, por favor"

Maduro tem repetidamente atribuído as ações dos EUA ao desejo de despojá-lo do poder, e recentemente apelou a Trump em tom conciliatório: "Sem guerra maluca, por favor". Já seu ministro da Defesa, Vladimir Padrino, prometeu que o país lutaria contra a instalação de um governo "submisso" a Washington.

Após o anúncio do deslocamento do Gerald Ford, Maduro afirmou que os EUA tentam inventar uma "guerra eterna". 

"Eles estão inventando uma nova guerra eterna. Prometeram que nunca mais se envolveriam em uma guerra e estão inventando uma que nós vamos evitar", disse Maduro em uma transmissão de rádio e televisão.

Os EUA "inventam uma narrativa extravagante, vulgar, criminosa e totalmente falsa, já comprovadamente falsa", continuou Maduro. "A Venezuela é um país livre de produção de folha de coca, livre de produção de cocaína, e vamos alcançar 100% de controle sobre a passagem de um pequeno 5% do narcotráfico que vem da Colômbia", completou. 

Vladimir Padrino também declarou que o desdobramento dos EUA representa uma ameaça militar contra a Venezuela e a América Latina.

A Venezuela estaria em enorme desvantagem em um conflito com os Estados Unidos.

O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos estima que as forças armadas venezuelanas contam com 123 mil integrantes, além de 220 mil milicianos voluntários leais a Maduro – porém alguns especialistas acreditam que esses números sejam muito menores.

As tensões também são sentidas na Colômbia. O presidente Gustavo Petro, que tem criticado o que chamou de "execuções extrajudiciais" no Mar do Caribe, foi acusado por Trump de ser um "traficante de drogas" e "cara malvado", e nesta sexta-feira (24/10) tornou-se alvo de sanções do governo americano.

Brasil reage: "Não podemos aceitar intervenção externa"

A situação é observada com preocupação por líderes latino-americanos, que temem um conflito militar mais amplo na região.

Mais cedo nesta sexta-feira (24/10), sem citar diretamente a Venezuela ou Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a atuação dos militares americanos na região, afirmando que o combate ao narcotráfico precisa ser feito dentro da lei e com respeito à soberania de outros países.

"Se a moda pega, cada um acha que pode invadir o território do outro para fazer o que quer", declarou. "Se o mundo virar uma terra sem lei, vai ser difícil viver."

Já Celso Amorim, assessor especial de Lula, foi mais direto: "Não podemos aceitar uma intervenção externa, pois isso provocaria um enorme ressentimento", afirmou à agência de notícias AP. "Isso poderia inflamar a América do Sul e levar à radicalização da política em todo o continente."

ra/gq (Reuters, AFP, ots)

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