Trump exige que militares da Rússia deixem a Venezuela
28 de março de 2019
Presidente dos EUA repete que não descarta intervenção militar para tirar Maduro do poder. Rússia considera declarações inaceitáveis e "intromissão nas relações de duas nações soberanas".
Anúncio
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que soldados russos precisam deixar a Venezuela, poucos dias depois de aviões militares da Rússia, com quase cem soldados a bordo, chegarem aos arredores de Caracas. Ele acrescentou que "todas as opções" estão em aberto para que essa saída se concretize, mais uma vez não descartando uma intervenção militar para derrubar o regime de Nicolás Maduro.
"A Rússia precisa sair", disse Trump a repórteres, durante encontro com Fabiana Rosales, esposa do líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela.
A Rússia qualificou a declaração de Trump de inaceitável. "Trump está se metendo nas relações bilaterais de dois países soberanos", disse o líder da Comissão de Relações Internacionais do Conselho da Federação (câmara alta do Parlamento), Constantin Cossatchov. Segundo Cossatchov, Trump está tentando ditar à Rússia o que ela deve ou não fazer. Ele disse ainda que as relações entre Moscou e Caracas e a cooperação militar dos dois países respeitam o direito internacional.
Dois aviões militares russos aterrissaram na Venezuela no fim de semana passado. Segundo a imprensa do país sul-americano, as aeronaves Antonov 124 e Ilyushin 62 transportavam 99 militares e uma carga de 35 toneladas de equipamento militar.
Já na segunda-feira o governo americano havia criticado duramente o apoio russo a Maduro e o envio de forças militares à Venezuela, um país rico em petróleo que há anos está mergulhado em caos econômico e humanitário. O Departamento de Estado dos EUA afirmou que não vai assistir de braços cruzados à Rússia acirrando as tensões na Venezuela. O vice-presidente americano, Mike Pence, chamou o envio das aeronaves de provocação.
A Rússia está entre os países que apoiam o regime de Maduro. EUA, Alemanha, vários países da União Europeia e da América Latina, como o Brasil, reconheceram Guaidó como legítimo presidente interino.
Apesar do apoio internacional, o líder oposicionista venezuelano não conseguiu estabelecer uma base de poder dentro do país. Com novas manifestações em massa planejadas para o fim de semana, Guaidó quer aumentar a pressão sobre Maduro, que conta com o apoio dos militares.
Há semanas, o governo americano pressiona pela saída de Maduro, especialmente por meio de sanções econômicas ao seu entorno. Questionado por jornalistas se os Estados Unidos estão considerando elevar ainda mais as sanções econômicas ao entorno de Maduro, Trump disse que, mais pressão do que a atual, só se for por meios militares. "Todas as opções estão em aberto", afirmou.
Trump afirmou que a Venezuela tem um grande potencial, mas que tudo foi destruído pela liderança de Maduro. "Eles não têm dinheiro, não têm água, nada. Estão sofrendo muita pressão no momento. Eles não têm eletricidade", enumerou. Desde segunda-feira, vastas áreas do país sofrem com o segundo apagão deste mês.
O secretário de Estado, Mike Pompeo, previu, em depoimento ao Congresso americano, que a crise econômica e política deverá resultar no êxodo de mais 2 milhões de venezuelanos. Mais de 3 milhões já cruzaram a fronteira rumo a outros países.
RK/rtr/dpa/afp
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube
Maduro reprime tentativa da oposição de entrar no país com ajuda humanitária a partir da Colômbia e do Brasil. Confrontos entre manifestantes e militares deixam mortos e centenas de feridos em cidades fronteiriças.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/H. Matheus
Comboios de ajuda humanitária
A oposição liderada por Juan Guaidó com apoio dos governos brasileiro, colombiano e de outros países da região buscou reforçar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro com o envio de ajuda humanitária para a Venezuela a partir do Brasil e da Colômbia, mas a tentativa foi duramente reprimida pelo governo venezuelano ao longo do sábado (23/02).
Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida
Fronteiras reforçadas
Maduro mandou fechar as fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia para impedir a entrada de ajuda humanitária, reforçando os bloqueios com militares das Forças Armadas venezuelanas instalados nas divisas. O líder chavista alega que o ingresso de ajuda não passa de um pretexto para os Estados Unidos promoverem um golpe de Estado no país.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Confrontos na fronteira brasileira
Na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, conflitos irromperam quando dois veículos carregados de ajuda humanitária foram impedidos de prosseguir. Militares do regime chegaram a lançar gás lacrimogêneo contra manifestantes opositores que estavam do lado brasileiro, enquanto estes atiraram coquetéis molotov contra soldados venezuelanos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/I. Valencia
Mortos e feridos
Choques na cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairén, na divisa com Roraima, teriam deixado ainda ao menos quatro mortos, segundo informações de uma ONG e de um deputado venezuelano da oposição. Além disso, vários feridos foram levados para hospitais no Brasil, muitos com ferimentos a bala. Na véspera, outras duas pessoas já haviam sido mortas por forças do regime na região.
Foto: Reuters/R. Moraes
Choques na fronteira colombiana
Confrontos violentos também foram registrados na fronteira da Venezuela com a Colômbia. Na cidade venezuelana de Ureña, onde fica uma das pontes que conectam os dois países, tropas chavistas dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Llano
Veículos incendiados
Caminhões carregando ajuda humanitária também foram impedidos de entrar na Venezuela a partir da fronteira com a Colômbia. Na ponte Francisco de Paula Santander, que liga a cidade de Cúcuta a Ureña, pelo menos dois veículos foram incendiados. Manifestantes conseguiram salvar parte da carga. A oposição culpou membros de grupos paramilitares chavistas pelos incêndios.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Abd
Centenas de feridos
Na ponte Simón Bolívar, mais ao sul, também houve uma série de confrontos, com manifestantes atirando pedras e coquetéis molotov nos militares venezuelanos a partir do lado colombiano. Os choque ao longo de toda a fronteira entre a Colômbia e a Venezuela deixaram ao menos 285 feridos, sendo 255 cidadãos venezuelanos e 30 colombianos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Maduro em Caracas
Enquanto os confrontos eclodiam nas fronteiras, Maduro resolveu encenar uma demonstração de força na capital, Caracas. Em um discurso de mais de uma hora diante de uma multidão de apoiadores, ele lançou acusações contra os Estados Unidos, prometeu defender a Venezuela de intervenções estrangeiras e anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia.
Foto: Reuters/M. Quintero
Guaidó em Cúcuta
Por sua vez, o líder oposicionista Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela e foi reconhecido por 50 países, defendeu a entrada de ajuda humanitária em seu país e ajudou a organizar uma procissão de caminhões carregando mantimentos a partir da Colômbia. Após o fracasso das tentativas de furar os bloqueios militares, ele acusou Maduro de crime de lesa humanidade.
Foto: Reuters/M. Bello
Deserção de militares
O dia de tensões também foi marcado pela deserção de dezenas de militares venezuelanos. Segundo Bogotá, mais de 60 membros das Forças Armadas da Venezuela fugiram do país e buscaram refúgio na Colômbia ao longo do sábado. Entre eles há oficiais do Exército, da Marinha, da Guarda Nacional, da Polícia Nacional Bolivariana e das Forças Especiais.