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Trump insiste que crime cresceu na Alemanha após refugiados

19 de junho de 2018

Presidente americano contesta estatísticas do governo alemão ao dizer que Berlim evitou divulgar os números reais sobre criminalidade no país. Merkel rebate Trump e reforça dados oficiais, que revelam queda nos crimes.

Donald Trump
Trump ao lado do procurador-geral, que fez uma analogia infeliz entre o drama migratório americano e o NazismoFoto: picture-alliance/dpa/AP/E. Vucci

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a afirmar nesta terça-feira (19/06) que o crime cresceu na Alemanha devido à chegada de refugiados ao país, apesar de as estatísticas oficiais do governo alemão terem revelado os menores índices de criminalidade em mais de 25 anos.

"O crime na Alemanha subiu 10% (as autoridades de lá não querem relatar esses crimes) desde que os migrantes foram aceitos. Outros países estão, inclusive, pior. Sejam espertos, Estados Unidos", escreveu o republicano no Twitter, contestando os números oficiais.

Segundo o levantamento divulgado em maio pelo Ministério do Interior alemão, a Alemanha atingiu no ano passado o menor número de registros desde a Reunificação: 5,76 milhões de crimes.

Em comparação com o ano anterior, a criminalidade sofreu uma queda de 9,6% em 2017. Com isso, continuou uma tendência que vem sendo observada há vários anos, depois que o número de crimes chegou a 6,5 milhões em 2005. Os delitos envolvendo violência também caíram, 2,4%.

Além disso, os crimes cometidos por suspeitos de nacionalidade não alemã recuaram: de 616.280 em 2016 para 599.357 em 2017. Entre os estrangeiros, 27,9% são migrantes – o que representa uma porcentagem de apenas 8,5% entre todos os crimes cometidos no país.

Estudos separados sugerem ainda que migrantes iraquianos e sírios na Alemanha são menos propensos a cometer crimes, pois não querem estragar suas chances de obter refúgio.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, rapidamente rejeitou as declarações feitas por Trump, reiterando que as estatísticas oficiais do governo alemão foram divulgadas recentemente e "falam por si só". "Vemos ali uma evolução levemente positiva", declarou.

"É preciso fazer mais para combater a criminalidade. Mas são números evidentemente encorajadores para que continuemos trabalhando para a redução do crime", acrescentou a chefe de governo, em encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron, na cidade alemã de Meseberg.

Foi a segunda crítica consecutiva de Trump à política migratória de Merkel. Na véspera, também no Twitter, ele já afirmara que o crime está crescendo na Alemanha por culpa dos refugiados, além de dizer que o governo alemão está perdendo o apoio da população na questão migratória.

Criticado por sua política para refugiados de tolerância zero, Trump alegou que governos de toda a Europa cometeram um "grande erro" nos últimos anos ao permitir a entrada de milhões de refugiados, "que mudaram tão fortemente e violentamente sua cultura".

"Nós não queremos que aconteça conosco o que está acontecendo com a imigração na Europa", acrescentou o presidente americano na segunda-feira.

A menção de estatísticas sem revelar suas fontes não é algo incomum por parte de Trump. Em fevereiro, o magnata causou polêmica ao falar sobre um atentado na Suécia que não ocorreu. Ele esclareceu a questão no dia seguinte, mas o episódio gerou tensões com o governo sueco.

Política de tolerância zero

As críticas de Trump à Alemanha ocorrem num momento em que Washington recebe fortes críticas por ter separado, desde abril, 2 mil crianças de suas famílias na fronteira do país com o México.

Sob a nova política de tolerância zero do governo federal, todos que tentarem cruzar a fronteira ilegalmente, inclusive requerentes de refúgio, serão indiciados. A medida resulta na separação das crianças, que não são alvo de uma acusação criminal, dos adultos, sem que haja procedimentos claros para a reunificação entre os familiares.

O presidente voltou a defender a medida nesta terça-feira, afirmando que, "se não houver fronteiras, não há um país". "Nós devemos sempre prender as pessoas que chegam ilegalmente a nosso país", afirmou no Twitter.

"Das 12 mil crianças [sob custódia do governo], 10 mil foram enviadas sozinhas por seus pais em um viagem muito perigosa, e só 2 mil estavam com seus pais, muitos dos quais tentaram entrar ilegalmente em nosso país em várias ocasiões", defendeu o presidente.

Na mesma rede social, Trump voltou a destacar a necessidade de aprovar uma reforma migratória nos EUA e colocou a culpa do problema nos democratas, que, segundo ele, querem permitir a entrada de migrantes no país para ganhar votos.

"Nazistas não deportaram judeus"

Ao falar sobre o tema, o procurador-geral americano, Jeff Sessions, tentou defender nesta terça-feira as instalações do governo onde centenas de menores de idade estão sendo mantidos, mas acabou proferindo mais uma declaração polêmica – e que acabou atingindo Berlim.

Em resposta a uma série de críticas, incluindo de políticos democratas, Sessions afirmou que os acampamentos para crianças migrantes na fronteira com o México não podem ser comparados com campos de concentração nazistas porque, neste caso, "os judeus eram impedidos de deixar o país".

Os alemães, contudo, costumam rejeitar qualquer tipo de comparação atual com fatos ocorridos durante o Holocausto, por considerá-lo um evento tão singular e abominável que analogias representariam um desrespeito às vítimas. O comentário ainda não provocou uma resposta de Berlim.

EK/afp/dpa/efe/rtr/ots

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