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Trump minimizou intencionalmente a gravidade da pandemia

10 de setembro de 2020

Em entrevistas ao jornalista Bob Woodward, presidente americano admitiu que sabia que o coronavírus era perigoso e mortal, mas decidiu não ser claro com a população para não criar pânico. "Sempre minimizei."

O presidente Donald Trump
"É ainda mais mortal do que a gripe comum", disse Trump no início do ano, contradizendo declarações públicasFoto: Reuters/L. Millis

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu em entrevistas ao jornalista americano Bob Woodward que sabia da gravidade da pandemia de covid-19 antes de o vírus atingir em cheio o país, mas decidiu esconder essa informação da população para não criar pânico.

As falas de Trump estão no novo livro de Woodward – intitulado Rage, com publicação programada para 15 de setembro – e foram reveladas nesta quarta-feira (09/09) pelo jornal The Washington Post e a emissora CNN, que tiveram acesso antecipado à obra. 

"Eu quis sempre minimizar [a gravidade da pandemia]", disse o presidente em entrevista ao jornalista em 19 de março, que foi gravada, e o áudio, disponibilizado no site da CNN. "Ainda gosto de minimizá-la, porque não quero criar pânico."

Já no início de fevereiro, Trump demonstrou estar ciente de como o coronavírus é transmitido, embora tenha rejeitado a ideia de usar máscara durante meses a fio.

"Vai pelo ar. Isso é sempre mais difícil do que por toque. Você não precisa tocar nas coisas. Certo? Mas o ar, você apenas respira o ar, e é assim que ele é transmitido. E então isso é muito complicado", disse, acrescentando que a doença é muito mais mortal do que a gripe comum. "Isso é algo mortal", repetiu, dando ênfase.

Em público, no entanto, o republicano disse repetidamente aos americanos, durante as primeiras semanas no início de 2020, que o vírus não era perigoso e "desapareceria" sozinho.

O livro foi escrito com base em 18 entrevistas com Trump, conduzidas pelo veterano jornalista entre dezembro de 2019 e julho de 2020, tanto pessoalmente como por telefone. Woodward é uma figura lendária do jornalismo dos Estados Unidos. Na década de 1970, quando era repórter investigativo do The Washington Post,  ele e o colega Carl Bernstein desempenharam um papel fundamental na exposição do escândalo Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974.

A oito semanas das eleições presidenciais de 3 de novembro, a obra adiciona uma nova pressão sobre Trump. Pesquisas de opinião mostram que cerca de dois terços dos americanos desaprovam sua gestão da crise do coronavírus, enquanto o presidente tem sido frequentemente acusado de minimizar a gravidade da pandemia para tentar aumentar suas chances de reeleição.

Em coletiva de imprensa na Casa Branca nesta quarta-feira, Trump condenou o livro e justificou que, se ele minimizou a crise, foi para evitar um "frenesi". "O fato é que eu sou um líder de torcida por este país, eu amo este país e não quero que as pessoas fiquem assustadas", declarou.

"Eu não vou conduzir este país ou o mundo à loucura", acrescentou. "Nós precisamos mostrar liderança, e a última coisa que você quer fazer é criar pânico."

Contudo, Rage tem potencial de dar nova munição aos democratas, que poderão argumentar que Trump falhou em preparar os americanos para a gravidade da epidemia ou em conduzir a população a uma resposta adequada à crise. Os Estados Unidos são, de longe, o país mais atingido pela covid-19, com mais de 6,35 milhões de casos e 190 mil mortos até agora.

"Ele sabia quão mortal era [o vírus]", afirmou o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, durante campanha no Michigan. "Ele mentiu ao povo americano. Ele mentiu intencionalmente e de bom grado sobre a ameaça que isso representava ao país, durante meses." Segundo o adversário de Trump, "foi uma traição de vida e morte ao povo americano".

Como Trump se referiu à pandemia

Desde o início da crise, o presidente passou mensagens contraditórias num momento em que o país precisava de orientação, e mostrou ser um dos poucos líderes mundiais que rejeitaram a gravidade da pandemia, contradisseram a comunidade científica e defenderam a reabertura da economia, ao lado do presidente Jair Bolsonaro.

Em fevereiro – bem depois de ter sido informado por seus assessores sobre os perigos representados pela covid-19 –, Trump disse que o coronavírus poderia ir embora em abril "com o calor" do verão.

Em março, ele falou em um "tremendo controle do governo sobre" a situação e prometeu: "Isso vai passar. Apenas fiquem calmos." No mesmo mês, Trump comparou o coronavírus à gripe comum, que segundo ele mata "entre 27 mil e 70 mil pessoas por ano", e ainda assim "nada é fechado, vida e economia continuam".

No final de março, um presidente de cara amarrada anunciou que a marca de 100 mil mortos estava se aproximando. Pouco antes, havia falado sobre a ideia de acabar com as imposições de distanciamento social a tempo da Páscoa, em meados de abril.

Foi somente em julho que o presidente usou máscara em público pela primeira vez.

EK/afp/ap/dpa/rtr/ots

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