Presidente anuncia Christopher Wray para o cargo às vésperas de depoimento do ex-diretor da instituição James Comey, demitido em meio a investigações de suposta interferência russa na eleição presidencial americana.
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nomeou nesta quarta-feira (07/06) o ex-promotor público Christopher Wray como novo diretor do FBI, às vésperas do depoimento potencialmente explosivo do ex-chefe da instituição, James Comey, ao Senado sobre a suposta interferência russa nas eleições presidenciais do ano passado.
"Nomearei Christopher A. Wray, um homem de credenciais impecáveis, para ser o novo diretor do FBI", afirmou o presidente no Twitter.
O indicado de Trump atuou como procurador-geral assistente, sendo encarregado da divisão criminal do Departamento de Justiça entre 2003 e 2005, durante a presidência de George W. Bush, e trabalhando próximo ao FBI. Ele atuou na Força Tarefa de Fraudes Corporativas, supervisionando investigações que incluíram a da gigante do ramo de energia Enron.
Após trabalhar para o governo, Wray atuou como advogado sobretudo em casos de crimes de colarinho branco, como sócio da firma de advocacia King & Spalding em Washington e Atlanta.
Ele terá poderes limitados para exercer influência nas investigações sobre a interferência russa, que está a cargo do promotor independente Robert Mueller, ex-diretor do FBI.
Comey depõe no Senado
Num amplamente aguardado testemunho ao Comitê de Inteligência do Senado nesta quinta-feira, Comey deverá ser pressionado para responder sobre seus registros pessoais das reuniões e telefonemas que teve com Trump entre janeiro e fevereiro. Neles consta que o presidente teria lhe pedido que encerrasse ou aliviasse o foco das investigações no ex-conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn.
Flynn renunciou ao cargo em fevereiro, após admitir ter mentido para o vice-presidente Mike Pence e outras autoridades do país sobre o conteúdo de conversas telefônicas que manteve com o embaixador russo Sergey Kislyak, com quem teria discutido sobre as sanções impostas pelo então presidente, Barack Obama, contra Moscou em reação a uma possível interferência russa nas eleições presidenciais americanas do ano passado.
A imprensa americana afirma que Trump teria pressionado também o diretor da Inteligência Nacional, Dan Coats, para que interviesse nas investigações a favor de Flynn.
Coats é uma das três autoridades de segurança dos EUA a serem ouvidas em audiência no Senado nesta quarta-feira, juntamente com o chefe da Agência de Segurança Nacional (NSA), Mike Rogers, e o diretor interino do FBI, Andrew McCabe.
Apreensão no FBI
Até o momento, ainda não há provas concretas sobre o suposto conluio entre a campanha de Trump e a Rússia. Tampouco houve acusações formais de que o presidente teria tentado obstruir as investigações.
Caso a nomeação de Wray seja confirmada pelo Senado, ele assumirá o FBI em meio à apreensão dos funcionários da agência, em relação ao tratamento recebido por Comey e a uma possível politização sobre as investigações referentes à suposta influência russa. A Associação de Agentes do FBI havia pedido que a Casa Branca nomeasse alguém que já tivesse trabalhado na instituição, o que não ocorreu.
Wray deverá trabalhar em conjunto com o procurador-geral do Estado, Jeff Sessions, na repressão promovida pelo governo Trump à imigração e aos crimes violentos, além de reforçar a postura mais rígida adotada pelo governo para conter o vazamento de informações sigilosas das agências de segurança.
RC/afp/rtr
Nove livros para a era Trump
O novo presidente americano não lê muito. Mas, desde que ele chegou ao poder, livros sobre regimes totalitários voltam à lista de best-sellers. Conheça algumas obras que podem ajudar a entender seu estilo de governar.
Foto: Getty Images/S. Platt
"1984"
Em "1984", George Orwell mostra ao leitor o que é viver num Estado totalitário, onde a vigilância é onipresente, e a opinião pública é manipulada pela propaganda. Desde a eleição de Donald Trump, o romance distópico voltou à lista dos mais vendidos. Mas outros clássicos, que descrevem cenários semelhantes, também se encontram cada vez mais sobre as mesas de cabeceira.
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"As origens do totalitarismo"
O ensaio de Hannah Arendt "As origens do totalitarismo" chamou bastante atenção após a sua publicação em 1951. Arendt, que havia fugido da Alemanha nazista, foi uma das primeiras teóricas a analisar a ascensão de regimes totalitários. Há poucas semanas, o livro apareceu por um curto período como esgotado no site de compras Amazon.
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"Admirável mundo novo"
O romance distópico de Aldous Huxley "Admirável mundo novo" ainda é leitura obrigatória para escolares e universitários. O livro do escritor britânico, publicado em 1932, descreve a "Gleichschaltung" (uniformização) de uma sociedade por meio da manipulação e condicionamento.
Foto: Chatto & Windus
"O conto da aia"
A distopia feminista de Margaret Atwood também voltou à lista dos best-sellers. O romance publicado em 1985 se passa nos Estados Unidos do futuro, onde as mulheres são reprimidas e privadas de seus direitos por uma teocracia totalitária no poder. Por medo de cenários semelhantes, muitas mulheres se posicionam hoje contra Trump, que continua a provocar discussões com comentários sexistas.
Foto: picture-alliance / Mary Evans Picture Library
"O homem do castelo alto"
Em 1962, Philip K. Dick descreveu em seu romance "O homem do castelo alto" como seria a vida nos Estados Unidos sob a ditadura de vitoriosos nazistas e japoneses após a Segunda Guerra. Em 2015 foi transmitida uma série de TV baseada vagamente no livro do escritor americano. Os cartazes de propaganda do seriado no metrô de Nova York (foto) foram motivo de controvérsia devido à sua simbologia.
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"The United States of Fear"
O livro não ficcional de Tom Engelhardt ainda não publicado no Brasil "The United States of Fear" ("Os Estados Unidos do medo", em tradução livre) foi lançado em 2011. A obra analisa como o fator "medo" favorece investimentos maciços do governo americano nas Forças Armadas, em guerras e na segurança nacional – levando o país, segundo a tese do autor, à beira do abismo.
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"Things That Can and Cannot Be Said"
"Things that can and cannot be said" ("As coisas que podem e não podem ser ditas", em tradução livre) é uma coletânea de ensaios e conversas, na qual a autora Arundhati Roy e o ator e roteirista John Cusack refletem sobre o seu encontro com o whistleblower Edward Snowden, em 2014, em Moscou. O livro aborda principalmente a vigilância em massa e o poder estatal.
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"O poder dos sem-poder"
Em seu texto "O poder dos sem-poder" (1978), o escritor e posterior presidente tcheco Vaclav Havel analisa os possíveis métodos de resistência contra regimes totalitários. Ele próprio passou diversos anos na prisão como crítico do governo comunista. Seu ensaio se tornou um manifesto para muitos opositores no bloco soviético.
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"Mente cativa"
Em 1970, o autor polonês e posterior Nobel de Literatura Czeslaw Milosz se tornou cidadão americano. Sua não ficção "Mente cativa" (1953) fala sobre suas vivências como escritor crítico do governo no bloco soviético. Trata-se de um ajuste de contas intelectual com o stalinismo, mas também com a – em sua opinião – enfraquecida sociedade de consumo ocidental.